Uma vez houve respeito entre crenças. Um ateu, um católico, um muçulmano e um judeu andavam por uma ruazinha sem saída, conversando sobre assuntos que jamais consegui decifrar quais eram. O que importa era que conviviam felizes, sem concorrência, sem ofender um ao outro. Tão envolvidos na conversa que nem notaram que a rua era sem saída.
Era sem pedras e com paredes brancas, os muros tinham falhas que possibilitavam a subida nos mesmos. Aí é que nasceu todo o problema da discriminação de religiões. Há quem diga que, subindo o muro do fundo do beco, se encontra um gênio, contaram-me que ele realiza o desejo da vida eterna pra quem chegar até ele. Um dos quatro homens que andavam juntos inventou de subir o tal negócio, quando de repente o gênio vem até ele e, num momento de extrema amizade e felicidade o homem diz para os outros também subirem. Aí que ele errou.
Quando todos subiram, cada um reverenciou o gênio conforme sua religião: O católico o pediu a bênção, o muçulmano se ajoelhou e beijou seus pés, o judeu pegou sua Torá e o ateu, sem ter crença alguma, não conseguiu enxergar o gênio, que por sua vez se viu encabulado, pois só poderia realizar o sonho da vida eterna para um deles, então resolve fazer um tipo de “corrida ao pote de ouro”:
- Estão vendo além desse muro? – disse o gênio.
- Sim! – disseram os outros três.
- Pois então estão vendo o horizonte lindo que temos aqui.
Ao fundo se podia ver um arco-íris se formando no tal belo horizonte
- Ganhará a vida eterna aquele que me trouxer o pote de ouro que há junto daquele arco-íris. – explicou o gênio
- Só correr até lá? – disse algum deles
- Sim, vocês terão que correr, mas no caminho haverá muitos obstáculos, que os quais vocês não irão vencer sem sua fé.
- Isso não é problema, o único que não a tem aqui é o ateu, e ele vai ficar.
Nunca mais foi visto aquele homem sem fé.
Desde que o gênio deu a largada em busca da vida eterna, a amizade forte que existia entre o muçulmano, o católico e judeu não se fez mais presente.
Quando apareceu o primeiro obstáculo, eles pediram cada um de seu jeito e para seu deus. O obstáculo era uma tempestade gigante, que cessou um dia após as orações, mas o solo que eles pisavam era de areia e a água da chuva dificultou a caminhada dos competidores. Um mês depois, chegou outra tempestade, dessa vez de areia. Sem se lembrar de rezar, eles apenas levaram as mãos aos olhos e pouco lhes atrapalhou aquela areia. Risos sarcásticos.
Em uma época sem nenhum empecilho, começaram as brigas entre eles próprios, Cegos com a chance de ter vida eterna, Eles começam a se digladiar, se esquecendo totalmente do que havia acontecido antes do tal beco sem saída, mudaram seus pensamentos, esqueceram de seus valores, da ética, do respeito.
Era um dia de sol intenso quando o muçulmano resolveu perguntar ao judeu para que lado estava o oeste, para poder rezar e pedir pelo amor de Deus que deixe-o ganhar a disputa e ter a vida eterna., mas o judeu o ignorou. Pediu então ao católico, mesma reação. Ou falta dela.
Em uma parte do percurso, areias movediças começaram a puxar os fiéis, Oraram rápido, pediram para não morrer, imploraram perdão, mas não adiantou, a areia movediça os atacou de vez, não tiveram o que fazer a ao ser correr, até que o católico, acabou por ser sugado pela areia, desesperado, pede então, ajuda ao muçulmano, que o olha pasmo com aquela cena, mas lembra que o companheiro o abandonou na hora que precisou e a memória pré gênio já foi apagada da sua cabeça e ele, sem titubear, corre para se salvar e deixa o católico morrer.
Agora apenas dois competidores lutam pelo pote de ouro no final do arco-íris. Silêncio. Isso foi a rotina dos sobreviventes por muito tempo, não para sempre.
Passaram-se vinte e cinco anos desde que o primeiro morto se foi, os sobreviventes agora estão magros, velhos, enrugados, com cheiro desagradável e com fé incrivelmente inabalável.
Encontraram duas espadas com um bilhete: “lutem, quem sair vivo dessa leva o pote de ouro”.
Começa a batalha final, eles nunca nem se quer viram uma espada, muito menos tocá-la, menos ainda manuseá-la, mas mesmo assim atacam-se, os dois têm a mesma força de vontade, mesmo tamanho de fé, mesmas habilidades.
Você deve estar-se perguntando: “onde foi parar o ateu?”
O ateu voltou para o outro lado do muro, voltou pra casa, se casou, teve filhos e morreu de velho, viveu até o seu corpo não aguentar mais.
Alguns dizem que o gênio era invenção daqueles três malucos, outros dizem já terem o visto, mas acharam que não valia a pena gastar toda a vida atrás de uma incerta vida eterna.
Dizem que a areia movediça não matava realmente, porém enlouquecia e fazia a pessoa se perder na vida.O judeu e o muçulmano brigam até hoje para ver quem vai passar para a última parte de terra antes de chegar ao pote de ouro.
Nota do autor para o texto: 9,7