Wednesday, August 29, 2007

Tuesday, August 28, 2007

O Guarda-chuva

Eram três horas de uma madrugada chuvosa e a tal princesa do conto de fadas estava toda encharcada e longe, muito longe do seu reino com pozinhos mágicos.

Amanheceu àquele dia com aquela estranha vontade de caminhar por aí, pelo bosque encantado, só que não imaginou que iria tão longe. Até o outro reino, que era mais desenvolvido e colorido. Gostava de coisas coloridas e, junto com a tal estranha vontade de caminhar, foi isso que a levou até esse reino até então desconhecido.

Quando chegou, viu um sino de cores fortes e brilhantes. Não hesitou nem um pouco em tocá-lo, mas ao fazer esse gesto tão sem pensar, a porta gigante e amarela do reino se abriu. Saiu de lá o bobo da corte a contar piadas, divertindo a todos que por ali estavam. De repente notou a bela princesa que tinha longos cabelos loiros e olhos incrivelmente azuis. Parou, olhou-a com um ar de surpresa e perguntou com uma voz fraca e frouxa: “E tu, quem és?”. A donzela respondeu baixinho: “Sou a princesa Ana do reino encantado das sete mil maravilhas”. O rapaz retrucou, rindo-se: “Me desculpa, bela moça, mas aqui é o reino encantado das dez mil maravilhas, como chegaste aqui?”. A princesa deslocou o olhar e ficou sem resposta para tal pergunta. O bobo da corte analisou a menina dos pés a cabeça e disse: “Pensando bem, as três mil maravilhas que faltam a teu reino, encontram-se em ti mesma”. A pequena arregalou e ergueu mais uma vez os olhos, mas ficou sem ter o que responder. O serviçal do rei teve de quebrar o silêncio: “Mas só até a primeira hora da noite”, disse-lhe.

Andou por todo aquele reino colorido de três mil maravilhas a mais que o seu. Queria descobrir o que tinha lá que não em sua casa, além daquelas cores todas. Quando o bobo da corte chegou com toda a sua trupe é que ela notou o que faltava em seu reino: Felicidade e sol. O bobo resolveu, então, que iria acompanhar-lhe na sua caminhada pelas dez mil maravilhas e andou com ela por todos os cantos do lugar, mas não percebeu que a princesa o olhava fixamente: Estava apaixonada.

Quando chegou a tão triste hora de a donzela ir embora do reino das dez mil maravilhas, todos já a conheciam e acompanharam ela até a porta do castelo onde ficava o rei, a rainha e o bobo da corte. Despediu-se de todos e partiu em direção à sua casa. Em seu caminho de volta, reparou nos outros reinos que não tinha visto na ida. Passou pelo das nove mil maravilhas e das oito mil.

Eram três horas de uma madrugada chuvosa e a tal princesa do conto de fadas estava toda encharcada e longe, muito longe do seu reino com pozinhos mágicos. Ouviu um barulho em meio à chuva e olhou para trás a fim de ver o que se passava. Era o bobo da corte. Ele trazia um guarda-chuva e vinha dizendo: “Como podes ser tão tímida ao ponto de não me pedir um guarda-chuva?”. Ela riu, pegou o guarda-chuva e disse: “Estava dispersa, desculpa-me, não queria incomodar-te”. Ele respondeu: “Incômodo algum, linda donzela” e saiu em direção ao seu reino de dez mil maravilhas.

Quando a princesa chegou, o rei perguntou: “Por onde andaste, Ana, minha filha?”. A linda moça gaguejou, mas falou: “Perdoa-me, papai, estava andando pelo reino e perdi a hora”. O rei respondeu aliviado: “Tudo bem, estou precisando de idéias tuas para melhorias do reino, tens alguma?” Dessa vez ela não precisou pensar antes de responder: “Cor, sol e felicidade”.

Friday, August 24, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte IV

– Lívia.

– Bonito nome. Já está aprendendo números complexos?

Não é de suma importância destacar aqui todo o diálogo de Rafael e a garota dos meus sonhos, que agora eu podia chamar apenas de “Lívia”! Mas ainda faltava descobrir uma coisa: o sobrenome da linda menina. Escrevi em um pedaço de papel um bilhete para Rafael, pedindo para que ele fizesse alguma coisa para descobrir a tão preciosa informação. Ele teve uma boa idéia.

– Não vai colocar nome na folha de exercícios? Ela é para entregar, não? – disse ele

– Ah, claro, já estava me esquecendo. Tem outra Lívia na turma certo? Vou ter que colocar meu sobrenome – respondeu ela, me fazendo quase pular da classe.

Lívia Bandeira. Esse era o nome que predominava em minha tão alegre cabeça naquele momento. Agora era só esperar chegar em casa para enfim descobrir que tipo de sonhos a pequena dos cabelos e olhos negros costumava ter. Eu estava tão disperso com aquilo que os números complexos não fluíam em minha cabeça e eu fui muito mal naquele trabalho. Na verdade, eu nunca fui muito bom em matemática, mas sempre fazia dupla com Rafael, que é um gênio dos números, mas dessa vez ele precisava mudar de dupla para me ajudar. Nem que isso me custasse uma recuperação no final do mês.

Quando eu finalmente cheguei à minha casa, fui direto para meu quarto e dele direto para o armário onde havia escondido a máquina dos sonhos. Tão afobado fui, que me lembrei que precisava esperar até a manhã do dia seguinte para então ver o que Lívia sonhava. Resolvi então mexer nela para tentar descobrir alguma função nova que pudesse talvez me transferir para os sonhos da garota linda. Não descobri nada referente à transferências de pessoas para sonhos de outras. Apenas vi um botão com a sigla “Mu.D.So.”. Achei estranho, mas estava muito cansado, havia tido aula na manhã e na tarde e ainda precisava terminar de ler o livro que eu estava lendo. Dormi.

Acordei eufórico para ver o que Lívia tinha sonhado na noite anterior. Ela sonhou com uma figura masculina mais velha, que cri¹ ser seu pai e com uma bicicleta rosa. Achei um sonho tão superficial, aquele dela. De repente me deparei mais uma vez com o botão que continha a sigla “Mu.D.So”. Hesitei um pouco, mas acabei apertando o botão. Mal sabia eu o que existia por trás daquele botão, muito menos a reviravolta que ele iria trazer em minha vida.

¹: Sim, eu procurei no dicionário e esse é o pretérito perfeito do verbo “crer” na 1ª pessoa do singular. (Y)


Wednesday, August 22, 2007

Os Imprevistos da vida, caso a parte V

Comentário rápido: Sim, eu sei que é estranho eu voltar a esse conto, mas é que as pessoas têm me comentado uma coisa que eu nunca havia percebido: Nunca terminei conto algum aqui! Foram dois fracassos! Enfim, como ele é meio antigo, vale a pena lembrar de onde eu parei de contar a história do casal mais água com açúcar do mundo. Romeu e Isabel estavam brigados por motivos de ciúme de ambas as partes e de preocupação adicionada ainda ao lado de Romeu. Mas os dois se esqueceram das brigas quando Isabel chegou de viagem e logo deram um ao outro um longo e apertado abraço acompanhado de palavras de amor. E foi aí que os deixei em coma. É meu dever desfazer esse erro. Vamos lá.

Duas semanas depois de Isabel ter voltado de viagem, chegou seu aniversário e o frio que fazia em Satolep no dia não tirou da sua cabeça a idéia de fazer uma festa à fantasia, pois ela havia conhecido O Teatro Mágico, e desde então as fantasias fascinaram a moça. Sua mãe concordou de imediato, mas com a condição de que a filha estaria vestida de Cinderela. Claro que Isabel não concordou, pois queria ir vestida de algo mais alternativa, como algo relacionado a cordel. D. Margarida cedeu.

Era segunda feira e na sexta seria a festa e Isabel ainda tinha muito para preparar, como bebidas, músicas – pensou em fazer um sarau, mas foi desiludida por sua mãe, que lembrou que nem todas as pessoas eram alternativas assim. Chamou sua amiga Lisbela para lhe ajudar nos preparativos e foram as duas para o centro da cidade, enfrentando o frio para comprar tudo o que fosse necessário para a festa. Inclusive suas fantasias. Compraram de tudo: Luzes pisca-pisca, globos espelhados dos anos 80, CDs de todos os tipos – piratas -, bebidas alcoólicas e Guaraná Antártica, velas de 1 e 7 e letreiros de papel que formavam um belo e colorido “FELIZ ANIVERSÁRIO”. Acabaram de comprar tudo na quinta-feira e deixaram para preparar tudo no dia seguinte.

Acordaram bem cedinho na sexta-feira para organizar a festa. D. Margarida se ofereceu para ajudar, mas as duas amigas recusaram seu apoio por quererem uma festa ao gosto de Isabel, e não ao gosto de sua mãe. Quando acabaram tudo, se sentiram extremamente cansadas e cederam a si mesmas um tempo de descanso que serviu para D. Margarida finalmente olhar, sem fazer barulho algum, o que Isabel e Lisbela haviam preparado para a tão aguardada noite.

Quando acordaram do descanso, se limitaram a colocar as fantasias – Isabel vestida da personagem Lisbela do filme “Lisbela e o Prisioneiro” e sua amiga de Amelie Poulain, devido seu cabelo preto e curto. Quando os convidados começaram a chegar, as duas tiveram de ir para a garagem, para recepcioná-los. Eles chegavam sem nenhuma surpresa nas fantasias, eram muitos hippies e muitas diabinhas, mas nenhuma criativa. Nenhuma personagem de filmes como elas, nenhum personagem do Teatro Mágico. Só um cara vestido de Patrick do Bob Esponja. Só.

Depois de um tempo, Romeu chegou. O único realmente criativo entre os homens – nada de piratas ou coisa parecida, ele estava vestido de guerrilheiro da revolução farroupilha! Isabel não foi a única a achar a fantasia de seu namorado linda, todos na festa olhavam para ele admirados. Romeu deixou a barba crescer, pegou uma espada de verdade de seu avô, um colete azul antigo que achou em casa, pediu para sua mãe bordá-lo de dourado, colocou alguns broches que comprou em uma loja de antiguidades e enfiou na cabeça um incrível chapéu que ninguém sabe de onde ele tirou.

- Este é realmente meu namorado lindo? – perguntou Isabel

- Sim, sou eu mesmo. Parabéns, amor, eu te amo muito!

- Eu também, Romeu, pra sempre!

Não se viu mais os dois durante a festa.

Friday, August 03, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte III

– Ele só pode ser louco.

– Certamente, quem sonha uma coisa dessas?

– Sonhar com essas guerras, e se formos nos guiar por o que Freud dizia, este é um desejo dele, matar todas essas pessoas e dominar o mundo.

– Não tinha um desenho assim?

– Sim, Pink e Cérebro.

– Vamos trocar de cobaia, Vitinho?

– Com certeza.

Mandei Rafael ir para a casa, ele já devia estar cansado de ouvir falar em sonhos por tanto tempo. E uns sonhos daqueles ainda. Ele não hesitou nem um pouco, tão visível era seu cansaço que eu havia lhe proporcionado sem me importar muito nem tampouco fazer algo para reverter tal situação.

Na segunda-feira, acordei muito disposto a escolher novas cobaias e desvendar outros sonhos. Estava obcecado por aquilo, era a minha maior diversão. Mas algo apareceu na minha vida de uma maneira completamente repentina, e sem pedir licença alguma, começou a tomar os meus pensamentos, que estavam todos voltados para a máquina de sonhos. Era ela – a garota na qual eu sempre sonhei. Devia ter menos de um metro e sessenta centímetros, cabelos pretos lisos, covinha em uma das bochechas e olhos escuros brilhantes Entrara na minha turma do colégio no meio do ano, por motivos de transferência de seu pai, tinha um sotaque estranho, mas meigo.

Fiquei parado olhando-a com os olhos brilhando mais do que o natural dos olhos dela. Passou por mim sem me notar, mas eu a notei. Ah se notei! E eu não tinha com quem dividir aquele segredo – que estava apaixonado pela colega nova – já que Rafael fora à aula e ninguém mais eu podia confiar naquele colégio escuro, que de repente parecia tão claro para mim. Se ao menos eu soubesse o nome dela. Nem isso eu sabia e é claro que não iria perguntar, também.

Foi aí então que me veio à mente uma das mais terríveis idéias que ela poderia ter me proporcionado, mas eu precisava saber, tinha que desvendar os sonhos dela. Logo que cheguei em casa, liguei para Rafael contando todo o acontecido do dia.

– Cosme?

– Quem é? – respondeu ele com uma voz de sono

– Sou eu.

– Eu quem?

– Estou apaixonado. Por uma colega nova. Ela é linda, Cosme, precisas ver. Tem um cabelo escuro escorrido lindíssimo, olhos igualmente lindos, sem falar da sua baixa estatura.

– Olha, acho que tu ligou pro número errado, aqui não é de nenhum daqueles programas de rádio que os locutores te dão dicas para relacionamentos.

– Não, seu bobo, é contigo mesmo!

– Deve ser com meu pai, ele é Cosme também. Rodrigo Cosme.

– Se tu não fosses meu único amigo, eu juro que te partia a cara, Rafael Cosme!

– Ah, é tu, Vitinho.

– Sim.

– Mas me fale mais dessa menina, qual o nome dela?

– Não sei, ainda.

– E já está apaixonado? Poxa.

– Paixão à primeira vista, bobo, ela é linda, tens que conhecer ela amanhã.

– Certamente, irei à aula amanhã.

– Ótimo. Assim poderemos montar nosso plano.

Nosso? Tô fora, Vitinho!

– Eu preciso descobrir o que ela anda sonhando.

– Esta máquina está te enlouquecendo, Vítor!

Senti gravidade na última frase de Rafael. Desde o meu aniversário de dez anos, ele nunca me chamou de Vítor. Mas não dei muita importância, só tinha mente para ela, a menina dos meus olhos, aquela que eu sonho ter uma vida junto, filhos, casa e tudo que temos direito. Eu só precisava descobrir o nome dela, para que, assim, pudesse invadir seus sonhos. Era por isso que eu precisava de Cosme.

Acordei naquela terça-feira cansado e com dor nas costas. Mas eu tinha que ir para a aula, precisava convencer Rafael de perguntar qual o nome dela. No intervalo, pude finalmente conversar com ele e tentar arranjar um jeito de pedir para que ele perguntasse qual era a graça da tal moça, pois ele sempre foi mais solto que eu, sempre fui mais tímido, e não teria coragem de falar com ela. Apenas nos sonhos.

– Não vou, Vitinho, já falei!

– Eu preciso de ti, Cosme!

– Em dez anos de amizade, sempre fui fiel a ti, e tu também foste comigo, não podes quebrar esta corrente, sabes que só tenho a ti para contar!

– Se é para a felicidade da nossa amizade, eu digo que pergunto.

– Eu sabia que podia contar contigo! Muito obrigado, meu amigo!

– Fala aí, como vou fazer isso?

– Simples, agora na aula de matemática, ela vai estar sozinha, pois ainda não fez amiga alguma, então tu vais propor fazer uma parceria para efetuar os exercícios. Nesse meio tempo, certamente vais descobrir o nome da bela.

– Isso não vai dar certo, no fim tu vai te dar mal, Vitinho! Mas tudo bem, eu farei tudo isso.

– Muito obrigado!

Quando chegou a aula de matemática, fiquei muito apreensivo para a hora de efetuar os exercícios, para que finalmente Rafael perguntasse o nome da garota. E não demorou muito para chegar os cálculos da aula.

– Podem se sentar em duplas para efetuar o trabalho – disse a professora, para a minha felicidade.

– Ei, notei que tu está sem dupla para fazer o trabalho, se quiser pode fazer comigo! – disse Rafael, para meu alívio.

– Ah, tudo bem, eu não estou entendendo muito bem a matéria mesmo, vai ser melhor.

– Ótimo. Qual seu nome mesmo?