Friday, December 28, 2007

Ex-pelho

Aproximei-me do espelho.Olhei-me e percebi que estava mais velho do que a última vez que o fiz. Apaguei a luz e então minha imagem quase não se via mais refletida. Relacionei o momento com a vida: Viver se resume em olhar-se no ex-pelho e, depois de alguns anos, olhar-se, agora no espelho e ver um rosto velho, mudado. Ficar olhando-se ali, até que a luz se apague e nada mais se veja.

Monday, December 10, 2007

O Ser Verde

Era uma linda garota triste. As lágrimas já se acostumavam a ofuscar o azul de seus olhos. As olheiras eram rotineiras, os seguidos dias sem sair de casa davam uma aparência suja, sonolenta e um mau-hálito deveras grande. Não tinha amigos, os poucos foram abandonando-lhe até o dia em que não sobrou nenhum. Os pais já estavam preocupados com a filha, "triste todo mundo fica, mas uma hora a tristeza gasta!".
Todos tentavam descobrir o motivo de tanta melancolia.
Namorado que a deixou? Ninguém deixaria uma pessoa tão linda.
Notas baixas? Aluna exemplar.
Então, o que seria? "Nada", respondia Camila quando indagada, com os olhos sem cores. Ninguém conseguia descobrir, pois era algo seu. Seu e de mais ninguém.
Foi, pois, num domingo de sol, céu azul sem nenhuma nuvem, que tudo mudou. Os pássaros sinalizavam como se soubessem - piu, piu, piu! -, mas foi outro animal o responsável. A garota deixou a porta aberta, levantou-se, serviu-se de suco e, ao voltar, levou um susto. Era Margarida, a tartaruga. Já nascera com esse nome, fora dado por sua mãe tartaruga. Camila supreendeu-se e em um só segundo pulou e gritou por sua mãe - em vão. Tão indefesa era Margarida, que só olhava a garota como quem diz: "sou tão feia e estranha assim?". "És, sim, feia, estranha e verde, como o musgo que dá no cimento", respondeu Camila com o olhar. Margarida, enfim, sorriu para aquelas lindas bolhas d'água, que estavam no lugar dos tristes olhos da menina triste. Camila sorriu de volta.
Dois meses se passavam e aquele ser feio, estranho e verde tirava a garota da cama. Margarida(parei agora, Tamires acaba de chegar) visitava Camila, a menina erguia os olhos, enfim azuis, e dava-lhe boas-vindas com os mesmos. Conversavam com o olhar durante horas. Aos poucos o tal ser feio, estranho e verde foi ganhando outras cores. primeiro o azul dos olhos de Camila, depois o vermelho do amor entre as duas. Mesmo assim, a garota continuava sem sair de casa, que mais parecia um túmulo cheio de tristeza.
Eis que o pior aconteceu: Margarida desapareceu. As bolhas d'água tornaram a ocupar o lugar dos olhos da menina. E agora, para quem ela iria dar as tão honrosas boas-vindas? Ninguém. Margarida era insubstituível. Nem os pássaros - piu, piu, piu! - poderiam tomar seu lugar. Camila, pois, resolveu ir à busca do ser feio, estranho e verde. Em vão, a tartaruga nunca mais fora achada. Mas não é que aqueles olhos azuis, enfim saíram para a rua?

Saturday, December 01, 2007

Pequenino Pedaço de Papel

Pintei a amizade escrita naquele teu pequenino pedaço de papel. Mas e de que adianta tanta cor se teu amor é tão incolor ao ponto de manchar o que pintei, de um cinza chuva tão sem graça?