Tuesday, October 16, 2012

Palhetas


Quando um quarto está todo bagunçado, com roupas espalhadas, cadernos revirados, gavetas abertas, gavetas que não abrem, é difícil achar algo que é ou era importante. É difícil achar no meio de tanta coisa bagunçada. Será que deixei no armário? Não foi debaixo da cama? Aí a gente esquece, nem que seja por um tempo. Depois aparece, assim de repente, quando eu não estiver mais procurando.
Acontece muito com palhetas. A verdade é que não existe um universo paralelo para onde elas – e também as borrachas – vão para serem felizes aproveitando a liberdade que lhes foi concedida após ultrapassarem a fina barreira que separa o mundo real do mundo das palhetas e das borrachas. A verdade é que elas ficam sempre lá. Escondidas no meio de um sofá, escondidas dentro de gavetas, esperando o momento em que alguém decide tomar a frente da situação e limpar tudo até, assim de repente, encontrá-las. Elas ficam lá, pedindo socorro antes que aconteça a tragédia de outro alguém varrê-las e, aí sim, elas sumirem para sempre.
Também pode acontecer de elas padecerem a essa espera. Pode acontecer de uma pessoa sentar em cima da palheta perdida e aí, depois da arrumação que se faz no quarto, ela ser achada quebrada no meio, tornando-se totalmente inutilizável. Nesse ponto da história das palhetas pode ser que exista outro mundo. Uma espécie de céu das palhetas, onde aquelas que se cansaram demais durante a vida, ou simplesmente caíram no esquecimento, descansam eternamente. Mortinhas da silva, mas descansando.