Thursday, July 31, 2014

Agora é seleção brasileira de Hip Hop

O verde-e-amarelo da camisa que os membros do grupo de dança Trem do Sul usam não é por acaso. Desde 2006 na batalha, agora eles representarão o Brasil no Campeonato Mundial de Hip Hop, que acontece a partir de 3 de agosto em Las Vegas, nos Estados Unidos. Através do talento, disputarão o título com seleções de mais de 40 países.
O projeto começou em 2006 quando o então aluno Paulo Monteiro resolveu levar a proposta do grupo Piratas de Rua para a escola onde estudava, a Nossa Senhora dos Navegantes. A iniciativa cresceu, começou a ganhar prêmios e transformou-se no Trem do Sul. “Chegou num nível de dança que não era mais reconhecido como o projeto dos meninos carentes, aquela coisa da pena. Já estava sendo reconhecido pelo talento”, afirma ele, agora professor e coreógrafo do grupo.
Falta apoio
Essa é a terceira vez que o Trem do Sul tem a oportunidade de representar o país na competição - em todas se creditou após vencer o Sul-americano de Hip Hop, duas vezes na categoria versátil e uma na infantil. Porém, é a primeira vez que de fato farão essa representação. Isso porque nas duas chances anteriores a expectativa de ter o talento visto no mundo inteiro barrou na falta de apoio.
Monteiro conta que em ambas ocasiões o Trem do Sul se esvaziou. “As crianças pensam que não adianta dançar, aprender algo que não pode ser usado. Acham que a gente só quer manter elas enclausuradas dentro da aula. E na rua tem um monte de gente oferecendo o outro lado. Dizendo que ser do bem não tem apoio, que eles sim apoiam.”
Segundo ele, Pelotas ainda não acordou para a realidade de ter um grupo bicampeão sul-americano e que representará a Seleção Brasileira de hip hop. Monteiro diz que boa parte dos patrocínios que o Trem do Sul recebe é oriunda de empresas de outras cidades. “A gente conta também com a boa colaboração das pessoas da avenida Bento Gonçalves, onde o pessoal fica na sinaleira pedindo. Temos muitas empresas em Pelotas e poucas apoiam. Mas na hora de reclamar que o crime tá aumentando na cidade aí todo mundo reclama. Quando tem alguém decidido a não ir para esse lado, a fazer coisas boas, aí ninguém apoia”, afirma.
Monteiro diz que a falta de apoio também prejudica os treinamentos. “Ou tu treina, ou tu fica na sinaleira pedindo ou correndo atrás de empresas que patrocinem. As equipes dos outros países não precisam fazer isso, podem se dedicar só aos treinos.” Atualmente, o Trem do Sul conta, além do dinheiro que arrecada no sinal, com patrocínio da loja Danna, da Open Extreme de Santa Cruz do Sul e das lojas Martins, além da Secretaria de Cultura e da Secretaria de Igualdade Social. A prefeitura apoiou indicando possíveis patrocinadores.
Terceira geração
Ele lembra que o legado do grupo vai além dos dançarinos que lá estarão. “Daqui eles vão para o Estados Unidos e quando voltarem vão divulgar nos projetos sociais e vai incentivar a gurizada mais nova a dançar também” - vale lembrar que essa é a terceira geração de meninos campeã sul-americana pelo Trem do Sul. O coreógrafo, porém, rejeita o rótulo de “coitadinho”. Enfatiza que o grupo irá para Las Vegas por seus próprios méritos e talento. Porque são campeões.
Ítalo Santana, 17, faz parte da geração que conseguirá viajar. Ele enfatiza a importância de disputar uma competição mundial - e que tem transmissão ao vivo da MTV americana. Sobre o que espera, ele não consegue destacar algo em especial, tamanha a expectativa. “Só de estar participando já é uma coisa sensacional. É a realização do nosso sonho e a dança pode mudar totalmente as nossas vidas.”
Já Tagner Mattos, 22, começou como dançarino do Trem do Sul e agora é treinador. Assistente do coreógrafo Paulo Monteiro. Quando dançava, não teve a oportunidade de participar, mas se sente igualmente ou ainda mais satisfeito vendo os mais novos alcançarem o objetivo. “É uma batalha que a gente vem há anos correndo atrás. Sempre no final a gente acaba sendo barrado porque não tem apoio. Dessa vez falta quase nada e estaremos lá. Pra mim é ainda mais incrível porque eu tô vendo. O que eles tão fazendo hoje, que é ir lá e dançar eu tentei e não consegui. O fato de ver eles conseguirem isso é muito mais importante porque não consegui, mas vi alguém conseguir. É ver que não é impossível.” Mattos estará lá. Não para dançar, mas para dar apoiar à equipe. “Vou para gritar a incentivar a galera”, conta.
A coreografia
O campeonato tem uma fase prévia, de 1º a 3 de agosto onde será escolhido o grupo que representará os Estados Unidos. O Trem do Sul (Seleção Brasileira) desembarca em Las Vegas no dia 3, quando se inicia a etapa mundial. O pelotenses focarão a coreografia no locking, estilo da década de 1970, mas sem se desvencilhar do hip hop atual. “Tu tens que apresentar na coreografia três estilos. Vamos com o break dance, o locking e o hip hop dance”, explica o coreógrafo Paulo Monteiro.
Serão dois minutos de apresentação, onde o grupo mostrará o dia a dia do trabalhador. “Muitas vezes a gente tá andando na rua e vê o pessoal que trabalha no caminhão do lixo. Eles escutam uma música e, mesmo no sufoco de tentar deixar a cidade limpa, ainda dançam, brincam. Muitas vezes a gente passa por uma empregada doméstica que está ouvindo uma música e tá dançando mesmo tendo aquele serviço difícil.”

>As empresas que desejarem patrocinar o Trem do Sul - a viagem está garantida, mas falta verba para manterem-se em Las Vegas - podem entrar em contato pelo número (53) 8378-5906 ou pelo e-mail tremdosulfreestyle@yahoo.com.br<

*Matéria escrita para o Diário Popular