Era uma linda garota triste. As lágrimas já se acostumavam a ofuscar o azul de seus olhos. As olheiras eram rotineiras, os seguidos dias sem sair de casa davam uma aparência suja, sonolenta e um mau-hálito deveras grande. Não tinha amigos, os poucos foram abandonando-lhe até o dia em que não sobrou nenhum. Os pais já estavam preocupados com a filha, "triste todo mundo fica, mas uma hora a tristeza gasta!".
Todos tentavam descobrir o motivo de tanta melancolia.
Namorado que a deixou? Ninguém deixaria uma pessoa tão linda.
Notas baixas? Aluna exemplar.
Então, o que seria? "Nada", respondia Camila quando indagada, com os olhos sem cores. Ninguém conseguia descobrir, pois era algo seu. Seu e de mais ninguém.
Foi, pois, num domingo de sol, céu azul sem nenhuma nuvem, que tudo mudou. Os pássaros sinalizavam como se soubessem - piu, piu, piu! -, mas foi outro animal o responsável. A garota deixou a porta aberta, levantou-se, serviu-se de suco e, ao voltar, levou um susto. Era Margarida, a tartaruga. Já nascera com esse nome, fora dado por sua mãe tartaruga. Camila supreendeu-se e em um só segundo pulou e gritou por sua mãe - em vão. Tão indefesa era Margarida, que só olhava a garota como quem diz: "sou tão feia e estranha assim?". "És, sim, feia, estranha e verde, como o musgo que dá no cimento", respondeu Camila com o olhar. Margarida, enfim, sorriu para aquelas lindas bolhas d'água, que estavam no lugar dos tristes olhos da menina triste. Camila sorriu de volta.
Dois meses se passavam e aquele ser feio, estranho e verde tirava a garota da cama. Margarida(parei agora, Tamires acaba de chegar) visitava Camila, a menina erguia os olhos, enfim azuis, e dava-lhe boas-vindas com os mesmos. Conversavam com o olhar durante horas. Aos poucos o tal ser feio, estranho e verde foi ganhando outras cores. primeiro o azul dos olhos de Camila, depois o vermelho do amor entre as duas. Mesmo assim, a garota continuava sem sair de casa, que mais parecia um túmulo cheio de tristeza.
Eis que o pior aconteceu: Margarida desapareceu. As bolhas d'água tornaram a ocupar o lugar dos olhos da menina. E agora, para quem ela iria dar as tão honrosas boas-vindas? Ninguém. Margarida era insubstituível. Nem os pássaros - piu, piu, piu! - poderiam tomar seu lugar. Camila, pois, resolveu ir à busca do ser feio, estranho e verde. Em vão, a tartaruga nunca mais fora achada. Mas não é que aqueles olhos azuis, enfim saíram para a rua?
Monday, December 10, 2007
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e a "história" vai além do que se...
ReplyDeleteops, esqueci do vê.
ReplyDeletesabe, achei triste.
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