Friday, December 28, 2007

Ex-pelho

Aproximei-me do espelho.Olhei-me e percebi que estava mais velho do que a última vez que o fiz. Apaguei a luz e então minha imagem quase não se via mais refletida. Relacionei o momento com a vida: Viver se resume em olhar-se no ex-pelho e, depois de alguns anos, olhar-se, agora no espelho e ver um rosto velho, mudado. Ficar olhando-se ali, até que a luz se apague e nada mais se veja.

Monday, December 10, 2007

O Ser Verde

Era uma linda garota triste. As lágrimas já se acostumavam a ofuscar o azul de seus olhos. As olheiras eram rotineiras, os seguidos dias sem sair de casa davam uma aparência suja, sonolenta e um mau-hálito deveras grande. Não tinha amigos, os poucos foram abandonando-lhe até o dia em que não sobrou nenhum. Os pais já estavam preocupados com a filha, "triste todo mundo fica, mas uma hora a tristeza gasta!".
Todos tentavam descobrir o motivo de tanta melancolia.
Namorado que a deixou? Ninguém deixaria uma pessoa tão linda.
Notas baixas? Aluna exemplar.
Então, o que seria? "Nada", respondia Camila quando indagada, com os olhos sem cores. Ninguém conseguia descobrir, pois era algo seu. Seu e de mais ninguém.
Foi, pois, num domingo de sol, céu azul sem nenhuma nuvem, que tudo mudou. Os pássaros sinalizavam como se soubessem - piu, piu, piu! -, mas foi outro animal o responsável. A garota deixou a porta aberta, levantou-se, serviu-se de suco e, ao voltar, levou um susto. Era Margarida, a tartaruga. Já nascera com esse nome, fora dado por sua mãe tartaruga. Camila supreendeu-se e em um só segundo pulou e gritou por sua mãe - em vão. Tão indefesa era Margarida, que só olhava a garota como quem diz: "sou tão feia e estranha assim?". "És, sim, feia, estranha e verde, como o musgo que dá no cimento", respondeu Camila com o olhar. Margarida, enfim, sorriu para aquelas lindas bolhas d'água, que estavam no lugar dos tristes olhos da menina triste. Camila sorriu de volta.
Dois meses se passavam e aquele ser feio, estranho e verde tirava a garota da cama. Margarida(parei agora, Tamires acaba de chegar) visitava Camila, a menina erguia os olhos, enfim azuis, e dava-lhe boas-vindas com os mesmos. Conversavam com o olhar durante horas. Aos poucos o tal ser feio, estranho e verde foi ganhando outras cores. primeiro o azul dos olhos de Camila, depois o vermelho do amor entre as duas. Mesmo assim, a garota continuava sem sair de casa, que mais parecia um túmulo cheio de tristeza.
Eis que o pior aconteceu: Margarida desapareceu. As bolhas d'água tornaram a ocupar o lugar dos olhos da menina. E agora, para quem ela iria dar as tão honrosas boas-vindas? Ninguém. Margarida era insubstituível. Nem os pássaros - piu, piu, piu! - poderiam tomar seu lugar. Camila, pois, resolveu ir à busca do ser feio, estranho e verde. Em vão, a tartaruga nunca mais fora achada. Mas não é que aqueles olhos azuis, enfim saíram para a rua?

Saturday, December 01, 2007

Pequenino Pedaço de Papel

Pintei a amizade escrita naquele teu pequenino pedaço de papel. Mas e de que adianta tanta cor se teu amor é tão incolor ao ponto de manchar o que pintei, de um cinza chuva tão sem graça?

Thursday, November 29, 2007

A Estrela

- É, enfim o fim? – disse-lhe quando estavam na beira daquele abismo.
- É, sim. Quer voltar? – respondeu ela, que sempre fora mais corajosa
- Nada, só me dá um daqueles teus abraços de urso que fica tudo bem.
- Logo agora?
- E agora tem hora pra abraço, é?
- Tem não, vem cá.
- Não quero sair daqui nunca mais.
- Não esperei esses 16 anos da minha vida por esse momento, pra passá-lo abraçada em alguém!
- Então segura minha mão. Vamos pular juntos.
- Por que tu gostas tanto de mim?
- Quer em ordem alfabética ou por preferência?

Algumas recordações:

- Jura que vai estar sempre comigo e vai segurar a minha mão no dia que eu morrer? – disse ela, aos seis anos de idade, deitada na grama mais do que verde do pátio de casa.
- Não precisava nem pedir, vamos viver juntos para sempre, grandes amigos! – respondeu ele com o coração.

- Tá vendo aquela estrela lá? – disse ele, apontando para o céu escuro e estrelado.
- To sim, por quê?
- Ela é a nossa estrela. Estrela da nossa amizade!

- Vamos trocar um pedaço de algodão doce? Tu me das um pouquinho do teu azul e eu te dou um pouco do meu rosa. – disse ela com os olhos e com a boca.
- Claro! Essa é mais uma tarde eternizada todinha nossa.


- Lembra que eu prometi segurar tua mão no dia da tua morte?
- A gente era criança, não se pode acreditar em promessa de criança...
- Pois eu levei fé. E não queria segurar a tua mão tão cedo.
- Que nada, eu cansei dessa minha vida que nada dá certo.
- E eu? Não dei certo na tua vida?
- A gente se encontra lá do outro lado daqui uns sessenta anos, tu ainda tens muito pra viver.
- E tu também! Sai desse lugar, vem comigo, te faço um suco e tudo vai se acalmar.
- Não quero suco! Deixe-me pelo menos morrer em paz, pelo amor de Deus!
- E eu, como fico se tu morreres?
- Tu vais ficar bem. És forte, irás superar, meu amigo.
- Nunca! Não saberei viver sem ti, não te lembras de quando éramos pequenos e prometemos proteger um ao outro? Pois então, cá estou eu!
- Já disse, esquece as nossas promessas de criança, tudo em vão, já esqueci tudo!
- Nunca vou esquecer, e sei que tu também não irás. Isso é só coisa de momento garota, vai passar, me abraça forte e todos teus problemas irão acabar.
- Só tu mesmo pra conseguir me fazer sair daqui. Eu te amo.
- Amigo é pra isso. Daqui a uns cinqüenta anos isso vai acontecer de novo, e eu vou fazer a mesma coisa. Tudo pra não te perder, minha grande amiga.
- O que ia ser de mim sem ti?
- No momento nada, pois irias morrer.
- Em qualquer ocasião, sem ti eu seria nada.
- Entende agora porquê te salvei?

Sobre o ódio à Matemática

Mais uma vez eu fui bem em Português, Literatura, Geografia e História e, não mais uma vez, porém também não raro, fui bem também em biologia no Simulado do colégio. Fui mal em Matemática, pra variar. Isso só aumentou meu horror por essa matéria. Tá certo que não estudo mais isso, mas quando na minha vida eu vou usar logaritmo? E números complexos? Nunca. Mesmo. Eu também não gosto muito de Física, mas pelo menos eu vejo a Física no meu dia-a-dia.
Esses dias, indo comprar pão em uma padaria próxima, eu e Luíza estávamos discutindo sobre isso. Nós, futuros jornalistas de sucesso, não precisamos saber de tudo isso, só precisamos saber somar, subtrair, multiplicar e dividir, e essa é bem a verdade mesmo!
O que me consola é saber que depois do vestibular nunca mais vou precisar estudar Matemática. Nunca mais números, só palavras, frases, textos. Crônicas, contos e estudos só nessa área! Adeus, mundo cruel da Matemática, não foi bom te conhecer!

Sunday, November 18, 2007

Entrevista com Leon Sanguiné

Leon Sanguiné é um desses novos escritores que estão encantando e estimulando os jovens a lerem e até mesmo a escreverem seus próprios contos. Fizemos uma entrevista reveladora com ele.

Redação: Então, Leon, como tu te sentes sendo uma das grandes revelações da literatura nacional?
Leon: Não me considero uma grande revelação. Grandes revelações fazem sucesso com seus livros de estréia e depois perdem a graça.
R: Quais são tuas maiores influências?
L: Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Fernando Sabino e Luís Fernando Veríssimo. E na linguagem a Adriana Falcão.
R: E de onde tu tiras inspiração para teus textos?
L: Escrever é coisa de momento. Não se escreve sem ter uma base e essa base varia de momento para momento.
R: Todos sabem que teus textos saem, em grande parte, do teu caderno de espanhol. Por quê?
L: A aula de espanhol tem um ar diferente. Um ar para escrever textos, não para estudar espanhol.
R: E o que tu fazes nas horas vagas?
L: Na verdade, eu escrevo nas horas vagas.
R: E nas horas não vagas?
L: Leio, jogo pife e futebol.
R: E os amores?
L: Escrevo.
Leon tem uma personalidade diferenciada, difícil de ser entendida e, até mesmo, de ser suportada. É preciso paciência para aturá-lo todos os dias, o próprio recomenda que as pessoas o vejam apenas uma vez por semana.

Friday, November 16, 2007

Idas e Vindas

Depois de muito tempo, se reencontram. E se beijam.
- A gente não presta mesmo, não é, Gabriela?
- Por que, Rodrigo? – ela responde, com um ar de quem sabe a resposta que vai ouvir.
- A gente diz que se odeia, mas é só se ver pra cair um nos braços do outro.
- É. Tu me deixaste sentindo tanto frio naquele inverno...
- Nem imaginas o frio que eu senti. Sem o teu abraço quente!
- Não era a mesma coisa. Eu sofri.
- Eu te amo desde aquela época. Desde antes, até.
- E aquela lá, que tu andavas até a pouco tempo?
- Sinto um friozinho na barriga por ela, admito. Mas por ti, eu me congelo. Congelo de amor.
- Será que dá certo?
- Não sofras por problemas antecipadamente, querida.
- Mas não deu certo aquela vez.
- Os tempos são outros. Certamente nossos nomes estão escritos naquela estrela lá no alto. Não é por acaso que eu to aqui e tu também.
- Tu falas tão bem.
- Por ti...
- O que ficou pra mim, desde então? Tristeza e só?
- Ficou o meu amor.
- E vamos viver a vida inteira com voltas e despedidas? Não vou suportar.
- É nosso destino. Não posso te prometer ficar aqui pra sempre. O pra sempre é hipócrita e não gosto de hipocrisia. Mas posso te dar todo meu amor agora.
- To com frio.
- Te aqueço com meu amor.
- Posso dizer que te amo?
- Deixa o verão pra mais tarde.

Wednesday, November 07, 2007

O Velho e o Moço

- Mas veja o senhor, seu Elias, o homem vive inventando jeito de tentar voar, igual a um passarinho!
- Só isso o homem não sabe fazer, guri, olha tudo que o homem já inventou por aí!
- Mas porque será que é tão difícil voar, eim?
- É justamente pro homem não se preocupar com uma besteira dessas e inventar coisa que preste!
- E voar não presta?
- Não.
- Mas então por que o homem quebra tanto a cabeça pra tentar voar?
- Porque não tem mais o que inventar, tudo que precisava já foi inventado. Podíamos viver assim, como estamos hoje.
- Os pais, avós, bisavós do senhor também pensavam assim e olha tudo de útil que já foi inventado desde então.
- É que o homem sempre aparece com uma necessidade nova.
- E voar não é uma necessidade, não, é?
- Não, pra quê que homem algum vai querer voar, menino?
- Muitos humanos já pularam daqueles negócios em cima das pontes, já foram pra Europa de avião...
- Tudo humano inútil! Voar não é coisa útil, não.
- Mas, então, todos somos inúteis, pois não só voar é uma coisa inútil!
- Vem cá, tu não fez teu tema ainda, não?

Tuesday, November 06, 2007

O Sófá

Conheci Manuela numa janta na casa do João. Gamei. Sentei ao seu lado no sofá azul.
- Fica assim do meu lado, por toda a vida, eu bem pertinho de ti?
- Sim.
- Sério?!
- Talvez. Me beija.
Beijo. Olhos brilhantes. Olhar de criancinha.
- Gostei. Agora me abraça.
Abraço. Olhos fechados. Aperto.
- Amei. Vou ficar.
- Minha vida é isso. Não preciso de mais nada, só desse sofá azul representando o céu e os teus olhos, como as estrelas.
- Tenho que ir.
- Pra sempre?
- Pra casa.
- Ah. Te vejo amanhã?
- Talvez. Me beija.
Marcamos de nos encontrar no outro dia. Manuela abriu a boca para falar, mas intervi e falei antes.
- Olha, sei como é. Pode ter sido algo de um dia só, ou sei lá, podes ter encontrado alguém.
- Só ia perguntar porque demoraste tanto.

Saturday, November 03, 2007

Sobre os Hermanos

Faz muito tempo, eu tava vendo um clipe estranho de um show na MTV e a minha mãe falou: “Essa música deve ser boa, pena que não dá pra entender nada que esse cara fala”. Era o clipe de “O Último Romance”. Uns dois meses depois, ela me disse que queria em apresentar uma banda. Eram os Hermanos. Aí comprou o Ventura e se apaixonou. Mas eu não curtia muito, não.
No início desse ano, eu comecei a ouvir Los Hermanos bastante. Mas ainda não era a minha banda predileta. A voz do amarante, os teclados do Medina e as letras do Camelo não eram meus preferidos, mas era questão de tempo, e eu sabia. Hoje eu não vivo sem e comprei mais dois CD’s deles – o Ventura continua sendo meu predileto -.
É uma tarefa dificílima classificar os Hermanos em algum estilo musical. Rock? Nem peso tem direito! Samba? Não tem pessoas e nem instrumentos o suficiente. Mas pra quê classificar? Esse é o charme, a graça da banda. Se classificar, fica chato, perde a graça. As letras de amor bala de goma do Camelo, as de amor intelectual do Amarante, nada disso pode ser rotulado.
Muita gente diz: “Não gosto de Los Hermanos, Anna Júlia é um porre”. Anna Júlia é a primeira música de sucesso, não tem nada a ver com eles. NADA! E aí vem mais um fato interessante sobre eles. Quando essa música foi lançada, todos pensavam que seria mais uma banda de um hit só, mas, contrariando a todos – inclusive a mim, admito -, os caras lançaram mais três discos depois, se tornaram uma das melhores bandas do país – pra mim a melhor – e criaram uma legião de fãs pelo Brasil a fora. Essas pessoas que vêem os Hermanos só como Anna Júlia precisam é ouvir as outras músicas e não pensar que é apenas mais uma banda de um hit só.
O que mais em impressiona no Camelo é a doçura das letras e músicas, o jeito como as duas se encaixam perfeitamente uma na outra. O modo como “És perfume de rosa na mão” consegue ser cantado de um jeito que traz mais doçura ainda para a frase. O melhor do Amarante é, com certeza, a sua voz. É aquela coisa bêbada com sono, mas nada forçada. Aqueles “UUH UUHH AAH AAH” que tem tudo a ver com a cara dele, o jeito com que a voz, as roupas, a barba e as caras que ele faz se encaixam. E eu imito igualzinho! É algo inexplicável o meu amor pelos Hermanos!
Experimenta andar pelas ruas ouvindo as músicas deles. Se for um dia de sol e tu estejas com vontade de olhar pro céu e para as nuvens, ouve “O Vento”, se encaixa perfeitamente! Mais perfeito ainda é observar o movimento da rua através de um ônibus ouvindo “Conversa de Botas Batidas” – a minha predileta -. É impressionante, parece que eles estiveram no mesmo lugar, olharam para as mesmas coisas e, inspirados por aquilo, escreveram a música.
Todo mundo deveria conhecer Los Hermanos. Devia ser um direito universal. O cara nasce e logo ganha um CD deles. Certamente o mundo seria melhor. Seria mais feliz, alegre e saltitante. Seria mais bala de goma.

Tuesday, October 30, 2007

Máquina Dos Sonhos - Parte VII

Demorei a acreditar que tinha atirado em alguém – que tinha matado alguém. Acordei com meu pai me chamando para almoçar. Eu sabia que tinha dado certo. De alguma maneira sentia que Labarthe estava morto.
– Pai, meus amigos demoraram em ir embora?
– Claro que não, tu dormiste de repente, queria que eles ficassem aqui?
– E eles chegaram bem em casa?
– Era sobre isso que eu queria falar contigo.
A confirmação.
– Labarthe levou um tiro.
– Morreu?
– Sim. Sinto muito, meu filho.
– E já sabem quem foi o assassino?
– Não, mas não se preocupe com isso. Sei que perder um amigo é muito complicado.
– Tudo bem, pai. Vou ficar bem.
Consegui, com muito esforço, disfarçar minha felicidade. Ele morreu. Meu segredo não foi revelado. Não senti nem um pouco de remorso. Resolvi que, por ser meu único amigo e conhecer toda a trama, Rafael tinha de saber que eu era o assassino de Labarthe. Chamei-o para minha casa.
– Para que tu me chamou aqui, Vitinho?
– Rafael, o que tenho para te contar é muito sério e tem de ficar apenas entre nós dois!
– Tudo bem, cara, sabes que podes contar comigo!
– Estás sabendo da morte de Labarthe, certo?
– Claro, um horror, mas o que tem a ver com o que queres me contar?
– Fui eu.
– Foste tu o que, Vitinho?
– Matei Labarthe.
– Como? Tu tava dormindo!
– É uma história muito longa, senta para que eu te conte.
– Conte.
Contei toda a história, em seus maiores detalhes para Rafael. Desde a parte da descoberta do botão, até o barulho de morte que tem uma arma.
– Não acredito que tu fez isso, cara!
– Ele ia contar para todos sobre a minha máquina!
– Essa máquina ta acabando contigo! Joga isso fora, porra!
– Eu te chamei aqui para me ajudar, Rafael, se não fores me ajudar, pode ir embora!
– Não precisa dizer duas vezes, estou indo!
Irritei-me com Rafael. Como ele pode não pensar que eu tive meus motivos para matar Labarthe? Como pode não compreender? Mas eu tinha outras coisas mais importantes para pensar, precisava saber como iria fazer para ter Lívia ao meu lado. Claro que tu já deves ter pensado na mesma coisa que eu. A Máquina dos Sonhos.

Wednesday, October 17, 2007

E eu?

Faz tempo que eu não tenho nada que me deixe feliz de verdade. Sabe... cantar de felicidade. Isso deveria ser um direito natural de todo o ser humano. Até mesmo pra mim, um completo idiota, magro, feio, baixinho e estranho. Isso mesmo, sou tudo isso! Mas e daí? Só porque sou essas coisas que acabei de citar, não tenho direito de cantar de felicidade? Se fosse assim, muitas pessoas que conheço não teriam esse direito. Mas elas têm. E eu não. É que elas têm motivos para estarem felizes, ao contrário de mim, que sou um completo fracassado.
Eu me olho no espelho e tento fazer uma rápida biografia de mim mesmo. Leon Sanguiné, 15 anos, estudando e... e o que mesmo? Nada. É isso que eu sou – um nada. Com a minha idade, Vitor Ramil já tinha feito “Estrela, Estrela” há três anos. Aos 17, a Clarice publicou “Perto do Coração Selvagem”. E eu? E o Leon, o que ele fez de produtivo nesses 15 anos de vida? Pois é, mais uma vez chego àquela resposta simples e clara: Nada. Não fiz nada de marcante. Nem pra mim, nem pra ninguém. Um simples gesto. Nem isso eu fiz.
Eu estou prestes a aparecer no jornal mais lido da cidade. E daí? Nem metade dos meus amigos vai ler. Muito menos pessoas que não conheço. Fiz a entrevista com todo amor, carinho e afeto, mas sei que, no final do dia, aquilo vai pro lixo. Quem é que vai querer ler uma matéria de um tal de Leon, que é feio e nem cara de inteligente tem? Ninguém. Ta, ninguém é uma palavra muito forte. Algumas pessoas. Mas essas “algumas” limitam-se a umas cinco. Poderia até citá-las aqui, mas não vou fazer isso.
Minha existência é tão insignificante, que creio não fazer diferença alguma na vida de ninguém. Nem para o bem dessas pessoas, nem para o mal. É tão insignificante, que às vezes não sem nem onde jogar meu corpo. Essa é a minha definição – um corpo que só faz volume aqui no mundo.
Já passou da hora de eu fazer alguma coisa que preste, alguma coisa marcante na minha vida. Alguma coisa que mais do que cinco pessoas leiam. Alguma coisa de impacto. Podia ser do tipo ser uma pessoa melhor pra conversar, já que, segundo a minha mãe, eu não sei conversar e tranco as conversas. Feio, chato, idiota, baixinho e estranho vou continuar sendo. Mas, pelo menos, vou ter algum motivo para cantar de felicidade.

Thursday, October 11, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte VI

– Não contes para ninguém sobre isso, Abreu!
Já era tarde. Ele nem me ouvia mais, estava muito bravo.
– Lívia, a nossa colega nova, tem seus sonhos todos aqui, o que estas pensando, cara?
– Estou apaixonado por ela.
– É? Então já sei como me vingar. Ela vai ser a primeira a saber!
– Não faças isso, por favor!
Fiquei sem reação. Como eu podia impedi-lo de contar da máquina para todos? Se ao menos eu vivesse no mundo dos sonhos. Isso seria imediatamente resolvido. Não pensei duas vezes e empurrei Labarthr tão forte que ele caiu sobre minha cama, batendo a cabeça na parede. Cheguei à frente da máquina e apertei o botão “Mu.D.So” e fui direto ao mundo dos sonhos, para tentar achar um jeito de mudar aquela situação.

Chegando lá, fui até minha casa para tentar achar, dentre os botões da Máquina dos Sonhos, algum que permitisse a transferência dos fatos que ocorriam naquele mundo, para a realidade. Lembrei de que precisava querer aquilo para que, então, o botão surgisse. Concertei-me naquele desejo e o botão apareceu. Apertei-o. “TU TENS DUAS HORAS CRIAR A CENA QUE SERÁ TRANSFERIDA”, foi o que apareceu na tela. Não perdi tempo e procurei Labarthe.
Depois de dez minutos, achei-o na praça da cidade, sozinho. Resolvi conversar com ele, para saber se ele já sabia da Máquina.
– Bom dia, Abreu.
– Ó, Duarte! Como vai?
– Vou bem... Por acaso foste em minha casa hoje?
– Não, não, por quê?
– Por nada... Bem, tenho de ir, tchau, Abreu!
– Tchau, Duarte, não te esqueças do nosso trabalho, amanhã em tua casa!
– Não vou esquecer!
Obviamente minha resposta foi de cunho hipócrita, pois na verdade eu tremi nas bases, por saber que o trabalho iria existir mesmo e pior: Seria amanhã, e não dentro de duas horas! Fui para a casa, para poder pensar em uma solução para aquilo.
Deitei em minha cama e fiquei pensando em um modo para impedir Labarthe de saber da máquina. A conversa com Labarthe havia me tomado trinta minutos que, somados com os dez do tempo que demorei para achá-lo, já eram quarenta minutos que eu não tinha mais. Cada minuto é um minuto roubado da morte. No meu caso, cada minuto é um roubado da revelação que terminaria com minha vida. Mais vinte minutos foram. Agora eu tinha apenas uma hora. Metade já tinha ido.
Muitos pensamentos me consumiam naquele momento. Até que tive uma idéia, que de princípio achei absurda, mas depois de passados mais dez minutos – agora só me restavam cinqüenta minutos – tive de convir que era a única solução. Contra minha vontade, liguei para Labarthe.
– Abreu?
– Sim, Duarte?
– Podes ir até à praça dentro de no máximo trinta minutos? O trabalho foi transferido para hoje, Cosme não poderá nos encontrar amanhã, mas hoje ele pode.
– Sem problemas, estou indo!
– Tchau, Abreu.

Corri até a praça. O que era aquilo em meus bolsos, que eu tocava com minhas mãos, agora cobertas por luvas? Nunca havia tocado naquilo, nem sequer tinha visto algo daquele gênero! Vi Labarthe vindo em minha direção. Dez minutos.
– Olá, Abreu, vamos até aquele beco, Cosme nos espera lá.
– Naquele ali, deserto e escuro?
(cinco minutos).
– Sim, vamos rápido! – falei olhando para o relógio.
– Ta bom.
(três minutos).
– Olha, Abreu, eu juro que não queria fazer isso!
(dois minutos).
– Fazer o que, Duarte?
– Tu mexeste com o que não devia, tens que pagar por isso...
– Mexi com o que? O que eu fiz?
(um minuto).
– Comigo, agora sem mais explicações!
(cinqüenta segundos).
Tirei aquilo que estava no meu bolso. Era uma arma. Sim, daquelas dos filmes americanos. Tremi.
(trinta segundos)
– Desculpa, Abreu!
Atirei.

Wednesday, October 10, 2007

E Se Houver?

- Fiz Tantas cartas pra ti, Fernando!
- Elas nunca significaram nada para mim, Mariana.
- Não diz isso, meu amor!
- Tuas palavras só me fizeram dormir!
- Vou começar a chorar...
- Tua vida ta só começando, garota, não serei o último homem que te terá.
- Tens que aprender a amar, Fernando, estou disposta a te ensinar.
- Mas e a guerra?
- Um dia cessará.
- Mas e o sangue?
- Será estancado um dia.
- Não posso ficar!
- Mas e o amor?
- Deixará meu peito.
- Como?
- A guerra tomará minha atenção.
- Mas tu vais até lá para cessá-la, se teu desejo é de terminar com a batalha, não será tempo o suficiente para esquecer o amor!
- E quem disse que quero esquecê-lo? Eu tenho de esquecê-lo, mas esse não é meu desejo.
- Fica!
- Não posso, Mariana.
- Mas e nossos antepassados, que lutaram para não morrer, só para que nós nos encontrássemos um dia?
- E achas que não penso neles? E as estrelas, então, que estão lá só para ficarmos eu e tu olhando para elas, admirando-as e a nós mesmos.
- Que lindo, Fernando!
- Não quero que aches lindo. Isso só deixará tudo mais difícil.
- Mas eu te amo, meu guri!
- Irás achar alguém melhor que eu.
- Nunca. Meu amor é só teu.
- Deixa o amor!
- Não posso deixá-lo como deixo o verão pra mais tarde!
- Los Hermanos já é demais, Mariana!
- Preciso da ajuda deles para te trazer de volta pra mim, pois não estás mais aqui.
- Eu estou aqui ainda. Tenho tempo para mais um beijo longo.
- Assim vai ser mais difícil...
- Deus sabe que vou me atrasar por um bom motivo.
- Não coloques Deus no meio, Ele não tem culpa por não teres coragem.
- E se eu ficar?
- Pra quê? Te darei meu amor só até uma próxima guerra.
- Acredito em meus companheiros, farão de tudo para não haver mais guerras.
- E se houver?
- Pra quê se preocupar com o que virá? Viva agora o momento que estamos passando, deixa o futuro pra depois.
- Tenho medo de te perder de novo, Fernando, um dia irás morrer nesta maldita luta pela paz e pela liberdade!
- Meu avião partirá daqui a pouco...
- Vá. Será melhor pra ti.
- Vem comigo, Mariana?
- Uma mulher, na guerra?
- Tenho casa no local onde vou batalhar, podes ficar lá.
- Mas e nosso sonho de morar nas estrelas?
- Eu as trago pra ti.

Thursday, September 27, 2007

À Quatro Mãos


"Alô, James?"
- James?
- Sim, aquele moço alto, moreno, de smoking branco que atendeu o telefone no bar, fumando seu charuto. Diga me Leon, charuto ou cigarro?
- Charuto.
- Cubano?
- Esse mesmo. Com sua cartola cinza. Não esquece dela.
- Nunca!

Apoiado com um pé no chão, o outro entre as pernas do banco.

- Ele tem barba, sim?
- Barba... ou seu bigodinho negro bem fininho separado no meio, estilo anos 60, para combinar com o cabelo lambido de gel dividido pro lado - penteado meio pro lado, meio pra traz. Com o brilho fosco do gel já seco. Seco como sua boca que é umidecida pelo copo de dry Martini...
- Caraca, ele é da máfia italiana, pelo jeito.
- ...já sem azeitona - afinal, é a primeira coisa que ele come quando pede um desses.

"James, acordei e não te vi ao meu lado na cama. Porque saíste tão cedo?"
"Fui tratar de negócios, querida Elizabeth.”
"Gostei da rosa vermelha. O verei de novo?"
"Talvez, por enquanto contente-se com mais essa xícara de chocolate quente.”
"Como chocolate quente, James? Bebo desta xícara de café que me manterá acordada pensando em ti...”

- Juro que tento fugir do romantismo e do café... mas vivo pra/d eles.
- Odeio café

"Sem romantismos, Elizabeth, ele não te levará a canto algum..."
O telefone é batido no gancho. Ele se levanta em um movimento só, pega sua cartola cinza de cima do balcão e diz ao garçom que voltará. O garçom olha para a moça que está aos prantos e pergunta se pode lhe ser útil em alguma coisa. Elizabeth diz: "Traga-me de volta aquele homem que tanto amo!"

- Mas eles estavam no telefone. Ela não tava no bar...
- É? Putz, reformulando.

Elizabeth começa a chorar mares de lágrimas no sofá preto de dois lugares e sua mãe, a bela senhora Ana, tenta consolar a filha: "Minha tão amada filha, no que posso ajudar-te?" Elizabeth responde em meio ao choro: "Oh, minha mãe, ele não vai voltar! Eu sei que não vai!" Ana, que só pelo nome apresenta força, mulher sempre revolucionária e feminista. Pergunta se deveria tomar alguma providência para que ajudasse o estado deplorável de sua filha mais nova, sempre tão sensível.
A delicada Elizabeth com sua pele de pêssego maduro, avermelhada de tanto choro, suplica uma mão de ajuda. Ana não esconde a raiva que lhe toma agora e diz que irá fazer de tudo para encontrar o mafioso. Vivo ou morto.
"De que adianta, mamãe? Ter seu coração em minhas mãos não traz seu amor para mim" Realmente Elizabeth tinha razão. Mas mal sabia ela que James havia sido pego em uma arapuca montada pela máfia russa e agora está em mãos adversárias, podendo ser morto a qualquer momento.
Os russos lhe avisam que ele possui um único último pedido. Contrariando os que pensavam que o italiano pediria um telefonema, James pede apenas um momento de prazer: uma xícara de café e um charuto cubano. Pensa em um modo de avisar seus companheiros que foi pego, mas como? Não há como avisar ninguém, os russos são bons na resistência! Vem-lhe ao pensamento Elizabeth. Como avisar a moça da pele de pêssego? Seu pedido já havia sido feito.
James não tinha medo da morte, poucos sabiam que na sua infância ele tinha presenciado a morte de um pássaro com a asa quebrada, lá estava ele em um canto do quintal, observando, analisando, anotando. Aprendeu que existem certas coisas que não se pode fugir. Mas Elizabeth, diferente da morte, algo em Elizabeth não deixava sua mente descansar. O que seria? O que seria?

No momento em que pensava, aparece um pássaro preto, que piava sem parar, só então Elizabeth pôde perceber que se tratava de Golias. O pombo correio que servia de comunicação da mocinha com o mafioso, enquanto ele estivesse em alguma missão perigosa. Golias sabia sempre onde o casal se encontrava, não errava nunca...
Grande pequeno Golias enfeitava o silêncio enamorado, salvava o silêncio aflito. Pairava sobre o ar procurando um jeito de ajudar o jovem casal. Mas claro! O pequeno amor amarelo... Que outro lugar havia tal flor delicada senão em Pettsburg e seu clima à parte. Seu clima frio e seco acendeu o amor de Elizabeth e a fez escrever uma linda carta para seu amado mafioso, na sua bela e tão maltratada máquina de escrever.

- Acho melhor tu escrever a carta, tem mais romantismo.
- iiiiiih
- Faça metade que eu faço metade, que eu quero fazer também.

"James,
Venho dias a pensar em como te fazer achar a saída do labirinto que entraste ao começar a viver em meu coração. Espero um dia poder ter a ti do meu lado, sem preocupações, falta de explicações ou a insegurança de estares vivo ou não, me amando ou não. Escrevo com letra trêmula de quem não deseja dizer adeus, não tendo mais opções a não ser essa. Escreveste ao meu lado, presente ou não, a minha história e de meu passado não sairás. Nossa história está marcada em folhas que de tão antigas estão amareladas, desejo do fundo de meu coração que o mesmo não aconteça com nosso amor. Que a mancha de café em meu lençol saia e que de tão quente não tenha queimado meu coração. Espero-te de braços abertos, mas me perdoe se não conseguir sustentá-los por muito tempo - o tempo pesa. Nosso amor não pode ser previsível como o que vai aparecer nessa máquina após eu apertar a próxima letra. Não deixe que nosso amor se torne apenas mais um. Não me deixe com todas essas esperar citadas aqui. Deixo-te com a espera de cada pensamento meu ao escolher cada palavra para dizer em poucas o que em uma boa explicação não falaria. Tentei. Com amor, escrevo minha última espera: que me tragas uma carta datilografada em folhas amareladas de resposta, onde tenhas apagado todas as outras esperas minhas que trago até ti. Até breve.”

Elizabeth com uma caneta de pena assina acima da moldura da folha, seu nome com tanta calma que acaba deixando um borrão de tinta no final de seu H puxado... tornando a carta tão mais humana.
A moça entrega a carta a Golias, que com um rosto sábio como quem diz "Confie em mim". Sai voando pela janela, carregando toda a tristeza e as esperas de Elizabeth.

- Onde fica a cidade mesmo?
- Numa distância de milhões de gotas adocicadas.
- Isso é bom. Mas acaba com a lógica que eu ia seguir, então segue, por favor.
- Não queres seguir a tua?
- É, acho que dá.

Da cidade que fica a uma distância de milhões de gotas adocicadas até Moscou, o caminho era longo, e o pássaro tomou todo o cuidado possível para não deixar cair nem um pouco da tristeza e das esperas de Elizabeth. E como é sábio, esse pombo! Chegou ao cativeiro na qual se encontrava James e entregou a ele a carta. O mafioso reconheceu sem hesitar seu carteiro tão fiel. Recebeu em mãos o papel, pouco afetado pelo tempo, e abriu-o com cuidado e respeito. Leu, releu, olhou para o céu. Que isso? Uma lágrima. Ele que sempre brincara com corações, descobrira aonde o seu residia. Decidiu que iria tentar de todas as formas se livrar dos russos. Não por si e sim por Elizabeth, pessoa que o amava mais do que ele próprio fora capaz de um dia amar a si. Pensou um pouco e formulou seu plano. Começou a conversar com um dos guardas que acabara por virar seu amigo dentro do cativeiro. Sem titubear muito mais lhe acertou um certeiro golpe no abdome que deixou o guarda desacordado. Pegou a arma do russo e partiu em disparada. Conseguiu passar sem problemas por mais três ou quatro inimigos, mas o cansaço do italiano já era um dos aliadas dos russos e seu rendimento foi caindo.
Quando finalmente conseguiu chegar perto da porta da saída, aquele primeiro guarda que James havia acertado um soco no abdome, joga uma pedra em sua cabeça. James morre. A cartola sai voando pelos ares de Moscou. Golias sai voando, assustado, desamparado. Elizabeth sentada em sua cômoda, penteando seus cabelos negros e pesados, sente um vento em seu rosto. A rosa vermelha cai no chão e independente de seus espinhos que usa de proteção, perde suas pétalas na luta entre a gravidade e a força do vento. Elizabeth fecha os olhos.

Ana pergunta se a filha deseja alguma coisa. Elizabeth se resume em responder: "Obrigado, mamãe, mas não há mais o que fazer: A rosa despedaçou-se, o charuto não acende, o telefone não toca, a cartola já saiu voando e o café? Esse já esfria junto ao meu amor e não conforta mais minhas esperas agora eternas".

- Fim?
- Eu diria que sim.



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Monday, September 24, 2007

Satolep noite

Satolep quase 20 horas. As pessoas se dirigiam para suas casas mais cedo por causa da chuva e do frio. Mas eu fiquei por lá. Perto do aquário, ali naquela ruazinha entre ele e a Doçaria Pelotense. Eu não fui o único a passar por ali no momento, mesmo com a maioria se recolhendo aos seus aposentos, alguns humanos passavam por mim ainda.
O frio entrava por entre meu blusão vermelho de decote V. Resolvi tirar algumas fotos. A primeira saiu tremida e não a aproveitei muito bem. Não me abalei e resolvi tirar outras, até que finalmente consegui a foto ideal: Pegava a noite, o aquário, a chuva, a temperatura e as pessoas andando. Guardei aquela.
Andei até a Praça Coronel Pedro Osório e, no caminho, me deparei com o precário estado da Bibliotheca Pública. Enquanto a prefeitura, o Mercado Público, a Casa da Banha e o Grande Hotel tinham sido pintados, ela continuava lá: Com uma aparência péssima e sem cuidado algum. Tirei algumas fotos do Grande Hotel e da prefeitura, mas nenhuma superou a do mercado – uma aparência antiga, a rua vazia e ainda a prefeitura no canto. Aquela foi a minha preferida, ganhei o dia por causa dela!
Senti fome. Andei mais uma vez até a ruazinha entre o aquário e a Doçaria Pelotense e notei que a última ainda estava aberta. Quando entrei, pude escolher em qual mesa me sentar, pois pela hora que já era a doçaria já não estava mais tão movimentada. Pedi um chocolate quente para espantar o frio. Para me distrair enquanto esperava a bebida, fiquei tirando mais algumas fotos da rua. Passou por mim um casal de velhinhos muito simpáticos abraçadinhos. Não resisti, foto deles! Recebi meu chocolate quente e não pude deixar de registrar aquele momento e tirei uma foto de mim mesmo com o chocolate quente em contraste com a rua.
Acho que as pessoas ficam me olhando quando fico tirando fotos de tudo assim, como hoje. Olhei o relógio. Era tarde, tinha de voltar para a casa. Andei na chuva até a parada de ônibus. Já passava das 21 horas e o centro da cidade já estava deserto. Confesso ter ficado com um pouco de medo, temia por minha câmera com as fotos desse dia que estava sendo tão especial. Enfim cheguei seguro em casa. Estava cansado demais para fazer outra coisa senão dormir. Vesti meu pijama, coloquei um CD para tocar, apaguei a luz e me enfiei para debaixo das cobertas. A cidade me deu o seu boa noite.

Thursday, September 20, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte V

A sigla significava “Mundo dos Sonhos”, deduzi isso quando cheguei a ele. Lá tudo era no estilo bala de goma: Bom, colorido e doce. As pessoas eram educadas e legais. De repente vi Rafael vindo em minha direção. Junto dele vinham outros garotos – todos amigos meus, no Mundo dos Sonhos. Andávamos pelas ruas quando vi Lívia olhando e sorrindo pra mim. Sorri também. Ela se aproximou cada vez mais e eu, sem entender nada, continuava apenas sorrindo. Lívia me abraçou e me beijou. Só aí pude perceber: Aquele era o meu Mundo dos Sonhos.
Eu era considerado muito especial naquele lugar e não queria sair de lá nunca mais, mas sabia que esse sonho não duraria muito tempo. Mal tive tempo de pensar em uma forma de ficar lá para sempre e vi meu pai vindo com uma mulher linda. Eu sabia que a conhecia de algum lugar, mas não sabia de onde.
– Pai! – chamei-o.
– Filho! – responderam os dois, para meu espanto.
– Quem és? – perguntei para a moça.
– Como que sou eu? Sou sua mãe! – respondeu ela, com um tom de reprovação.
Mais uma comprovação de que aquele era o mundo dos meus sonhos, pois meu maior desejo era rever minha mãe, que havia fugido há muitos anos com um homem e abandonando meu pai, que teve de ser um pai e uma mãe para mim ao mesmo tempo quando eu ainda era um bebê de colo. No Mundo dos Sonhos eles se amam, andam de mãos dadas e mandam beijos um para o outro o tempo todo. Gostei daquilo, também.
Passei a tarde toda abraçado em Lívia, que me retribuía com beijos bons e tudo que eu sempre sonhei. De repente, um grande vendaval invadiu a cidade e, quando dei por mim, tinha voltado para meu quarto, na vida real, com meu pai me chamando para o almoço.

– Dormiste a tarde toda, Vitor, estavas cansado?
– Não, eu estava tendo um sonho muito bom, seria uma pena acordar. Pai, tu nunca mais procuraste a minha mãe?
– Nos primeiros anos eu até fui atrás dela, mas depois acabei desistindo e me conformando que tua mãe não era mais minha.
Fiquei um tanto quanto triste com aquela resposta de meu pai.
No dia seguinte, no colégio, encontrei Lívia. Olhei-a com ternura, mas ela ainda nem me conhecia. Ah se eu pudesse me mudar para o Mundo dos Sonhos! Fui para a aula. Tive de formar um grupo para um trabalho com mais dois colegas – um deles Rafael e outro chamado Labarthe, que eu não tinha muita intimidade, mas entre os outros, era o “menos pior”. No final da aula, levei Rafael e Labarthe para a minha casa, para concluirmos o trabalho. Almoçamos e fomos para meu quarto. Falei para Rafael que precisava contar-lhe algumas coisas mais tarde. Para meu azar, a Máquina dos Sonhos estava piscando, por falta de bateria, afinal, minha viagem havia gastado muito dela. As luzes chamaram a atenção de Labarthe.
– O quê é aquela luz piscando ali no teu armário, Duarte? – chamou-me ele pelo meu sobrenome.
– Não vás aí, Abreu! – chamei-lhe também pelo sobrenome, assustado.
– Por que não?
– Porque estou te pedindo!
– Blá, blá, blá... Olha, “digite um nome”!
– Por favor, Abreu!
– Vou digitar meu nome... “Labarthe Fonseca Abreu”.
– Última chance!
– Pensar na pessoa? Vou pensar em mim.
– Cosme, tente impedi-lo! – implorei para Rafael, mas já era tarde.
– Como assim? O meu sonho aqui, direitinho como eu sonhei ontem? O que tu tens a dizer em tua defesa, Duarte?

Saturday, September 15, 2007

Porcelana

Era do estilo “bonequinha de porcelana” – olhos azuis, pele clara e um cabelo escuro e arrumado com um daqueles plic plac. Lembro de minha mãe achá-la bonita, assim como eu. Namorava com um cara bonito, legal e popular, mas que eu sentia que não conseguia dar amor a ela Eu os olhava como quem quer separá-los para poder tratá-la devidamente como merece. Senti seu perfume quando fui me despedir. Apertei a mão dele cinicamente e com uma pitada de inveja. Ela me deu um tchau meigo, mas não diferente dos outros, nem ao menos olhou para meu rosto. Nem saber meu nome ela sabe.

Conheci-a através de amigos. Achei linda, de primeira mesmo, mas nunca tive coragem de conversar, tentar criar uma amizade ou algo parecido. Demorei muito e ela o encontrou. Um cara mais bonito e mais popular que eu, mas que não tinha metade das coisas em comum que eu tinha com ela. Eu precisava fazer ela me notar, mas como? Como eu poderia aparecer sem chamar muita atenção, somente para ela saber da minha existência?

Fui a uma janta de amigos e ela estava lá. Fitei-a nos olhos – azuis que, com a forte maquiagem, se ressaltavam e ficavam ainda mais belos. Ela olhou-me e desviei o olhar rapidamente. Ele viu que eu a estava olhando. Ficou me fitando como se com aquele olhar pudesse me pulverizar. Passei a odiá-lo. Ela buscou mais um copo de guaraná e mais algumas coisas que ele havia pedido, o que me deixou mais raivoso, pois ele nem sequer olhou para o rosto dela! E vi que ela ficou chateada. Fiquei feliz.

Depois de alguns dias, a vi de novo, em outra janta. Ele estava junto dela como um cão de guarda. Não resisti. Respirei fundo, corri, empurrei-o e beijei-a como nunca havia beijado alguém antes. Seu nome era Ana.

Saturday, September 08, 2007

A Humanidade Segundo o Pobre Relógio

Esse troço aqui ta ligado? Beleza, então. Posso começar? Então ta.

Bom, eu sou um relógio. Vai rir? Tenta rir depois do que eu vou falar. Eu to cansado desse negócio de ser um relógio. Não que eu não goste de ser um relógio, eu não aturo a tal subordinação a qual somos expostos pela humanidade. Ô raça maldita, essa.

Ta certo que tenho que agradecer por ter sido inventado por eles, mas poxa vida, de uns tempos pra cá, esses caras perderam a noção de poder! Estão me deixando louco! São capazes de em uma mesma hora, querer que a mesma passe rápido e devagar. É demais para um simples relógio! Sem contar os cucos, pobres pássaros escravizados para que humanos não percam a hora. Não sei se odeio mais a humanidade ou as horas, que já perdi o controle sobre elas. De uns tempos pra cá, inventaram até bomba com o meu pobre nome! Bomba-relógio vê se pode!

Hoje em dia, outro fato ruim na qual eu sou identificado é o tal “tempo é dinheiro”. Se fosse assim, eu seria um direito de poucos e mal usado por esses poucos. Sem contar que pessoas fazem de tudo por dinheiro, até matar. Imagina se fizessem isso por mim? Eu não suportaria. Aí me vem gente querendo criar máquinas do tempo, pra me controlar. O que é isso?! Pediram minha opinião por acaso? Pensam que é bom pra mim que exista um tempo artificial por aí? É como se eu fosse demitido e colocassem um robô no meu lugar! Ora, vá se danar, humanidade!

Eu falei tudo isso apenas pra dizer isto: Estou me demitindo. É, isso mesmo, não agüento mais essa pressão de ficar andando mais rápido ou mais devagar, das pessoas dizendo que não têm tempo pra isso, não têm tempo para aquilo, bombas com o meu nome. Chega! Querem um tempo para passar? Tratem de criar a tal máquina do tempo. E tenho dito.


Deu, pode desligar, Xavier.

Wednesday, August 29, 2007

Tuesday, August 28, 2007

O Guarda-chuva

Eram três horas de uma madrugada chuvosa e a tal princesa do conto de fadas estava toda encharcada e longe, muito longe do seu reino com pozinhos mágicos.

Amanheceu àquele dia com aquela estranha vontade de caminhar por aí, pelo bosque encantado, só que não imaginou que iria tão longe. Até o outro reino, que era mais desenvolvido e colorido. Gostava de coisas coloridas e, junto com a tal estranha vontade de caminhar, foi isso que a levou até esse reino até então desconhecido.

Quando chegou, viu um sino de cores fortes e brilhantes. Não hesitou nem um pouco em tocá-lo, mas ao fazer esse gesto tão sem pensar, a porta gigante e amarela do reino se abriu. Saiu de lá o bobo da corte a contar piadas, divertindo a todos que por ali estavam. De repente notou a bela princesa que tinha longos cabelos loiros e olhos incrivelmente azuis. Parou, olhou-a com um ar de surpresa e perguntou com uma voz fraca e frouxa: “E tu, quem és?”. A donzela respondeu baixinho: “Sou a princesa Ana do reino encantado das sete mil maravilhas”. O rapaz retrucou, rindo-se: “Me desculpa, bela moça, mas aqui é o reino encantado das dez mil maravilhas, como chegaste aqui?”. A princesa deslocou o olhar e ficou sem resposta para tal pergunta. O bobo da corte analisou a menina dos pés a cabeça e disse: “Pensando bem, as três mil maravilhas que faltam a teu reino, encontram-se em ti mesma”. A pequena arregalou e ergueu mais uma vez os olhos, mas ficou sem ter o que responder. O serviçal do rei teve de quebrar o silêncio: “Mas só até a primeira hora da noite”, disse-lhe.

Andou por todo aquele reino colorido de três mil maravilhas a mais que o seu. Queria descobrir o que tinha lá que não em sua casa, além daquelas cores todas. Quando o bobo da corte chegou com toda a sua trupe é que ela notou o que faltava em seu reino: Felicidade e sol. O bobo resolveu, então, que iria acompanhar-lhe na sua caminhada pelas dez mil maravilhas e andou com ela por todos os cantos do lugar, mas não percebeu que a princesa o olhava fixamente: Estava apaixonada.

Quando chegou a tão triste hora de a donzela ir embora do reino das dez mil maravilhas, todos já a conheciam e acompanharam ela até a porta do castelo onde ficava o rei, a rainha e o bobo da corte. Despediu-se de todos e partiu em direção à sua casa. Em seu caminho de volta, reparou nos outros reinos que não tinha visto na ida. Passou pelo das nove mil maravilhas e das oito mil.

Eram três horas de uma madrugada chuvosa e a tal princesa do conto de fadas estava toda encharcada e longe, muito longe do seu reino com pozinhos mágicos. Ouviu um barulho em meio à chuva e olhou para trás a fim de ver o que se passava. Era o bobo da corte. Ele trazia um guarda-chuva e vinha dizendo: “Como podes ser tão tímida ao ponto de não me pedir um guarda-chuva?”. Ela riu, pegou o guarda-chuva e disse: “Estava dispersa, desculpa-me, não queria incomodar-te”. Ele respondeu: “Incômodo algum, linda donzela” e saiu em direção ao seu reino de dez mil maravilhas.

Quando a princesa chegou, o rei perguntou: “Por onde andaste, Ana, minha filha?”. A linda moça gaguejou, mas falou: “Perdoa-me, papai, estava andando pelo reino e perdi a hora”. O rei respondeu aliviado: “Tudo bem, estou precisando de idéias tuas para melhorias do reino, tens alguma?” Dessa vez ela não precisou pensar antes de responder: “Cor, sol e felicidade”.

Friday, August 24, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte IV

– Lívia.

– Bonito nome. Já está aprendendo números complexos?

Não é de suma importância destacar aqui todo o diálogo de Rafael e a garota dos meus sonhos, que agora eu podia chamar apenas de “Lívia”! Mas ainda faltava descobrir uma coisa: o sobrenome da linda menina. Escrevi em um pedaço de papel um bilhete para Rafael, pedindo para que ele fizesse alguma coisa para descobrir a tão preciosa informação. Ele teve uma boa idéia.

– Não vai colocar nome na folha de exercícios? Ela é para entregar, não? – disse ele

– Ah, claro, já estava me esquecendo. Tem outra Lívia na turma certo? Vou ter que colocar meu sobrenome – respondeu ela, me fazendo quase pular da classe.

Lívia Bandeira. Esse era o nome que predominava em minha tão alegre cabeça naquele momento. Agora era só esperar chegar em casa para enfim descobrir que tipo de sonhos a pequena dos cabelos e olhos negros costumava ter. Eu estava tão disperso com aquilo que os números complexos não fluíam em minha cabeça e eu fui muito mal naquele trabalho. Na verdade, eu nunca fui muito bom em matemática, mas sempre fazia dupla com Rafael, que é um gênio dos números, mas dessa vez ele precisava mudar de dupla para me ajudar. Nem que isso me custasse uma recuperação no final do mês.

Quando eu finalmente cheguei à minha casa, fui direto para meu quarto e dele direto para o armário onde havia escondido a máquina dos sonhos. Tão afobado fui, que me lembrei que precisava esperar até a manhã do dia seguinte para então ver o que Lívia sonhava. Resolvi então mexer nela para tentar descobrir alguma função nova que pudesse talvez me transferir para os sonhos da garota linda. Não descobri nada referente à transferências de pessoas para sonhos de outras. Apenas vi um botão com a sigla “Mu.D.So.”. Achei estranho, mas estava muito cansado, havia tido aula na manhã e na tarde e ainda precisava terminar de ler o livro que eu estava lendo. Dormi.

Acordei eufórico para ver o que Lívia tinha sonhado na noite anterior. Ela sonhou com uma figura masculina mais velha, que cri¹ ser seu pai e com uma bicicleta rosa. Achei um sonho tão superficial, aquele dela. De repente me deparei mais uma vez com o botão que continha a sigla “Mu.D.So”. Hesitei um pouco, mas acabei apertando o botão. Mal sabia eu o que existia por trás daquele botão, muito menos a reviravolta que ele iria trazer em minha vida.

¹: Sim, eu procurei no dicionário e esse é o pretérito perfeito do verbo “crer” na 1ª pessoa do singular. (Y)


Wednesday, August 22, 2007

Os Imprevistos da vida, caso a parte V

Comentário rápido: Sim, eu sei que é estranho eu voltar a esse conto, mas é que as pessoas têm me comentado uma coisa que eu nunca havia percebido: Nunca terminei conto algum aqui! Foram dois fracassos! Enfim, como ele é meio antigo, vale a pena lembrar de onde eu parei de contar a história do casal mais água com açúcar do mundo. Romeu e Isabel estavam brigados por motivos de ciúme de ambas as partes e de preocupação adicionada ainda ao lado de Romeu. Mas os dois se esqueceram das brigas quando Isabel chegou de viagem e logo deram um ao outro um longo e apertado abraço acompanhado de palavras de amor. E foi aí que os deixei em coma. É meu dever desfazer esse erro. Vamos lá.

Duas semanas depois de Isabel ter voltado de viagem, chegou seu aniversário e o frio que fazia em Satolep no dia não tirou da sua cabeça a idéia de fazer uma festa à fantasia, pois ela havia conhecido O Teatro Mágico, e desde então as fantasias fascinaram a moça. Sua mãe concordou de imediato, mas com a condição de que a filha estaria vestida de Cinderela. Claro que Isabel não concordou, pois queria ir vestida de algo mais alternativa, como algo relacionado a cordel. D. Margarida cedeu.

Era segunda feira e na sexta seria a festa e Isabel ainda tinha muito para preparar, como bebidas, músicas – pensou em fazer um sarau, mas foi desiludida por sua mãe, que lembrou que nem todas as pessoas eram alternativas assim. Chamou sua amiga Lisbela para lhe ajudar nos preparativos e foram as duas para o centro da cidade, enfrentando o frio para comprar tudo o que fosse necessário para a festa. Inclusive suas fantasias. Compraram de tudo: Luzes pisca-pisca, globos espelhados dos anos 80, CDs de todos os tipos – piratas -, bebidas alcoólicas e Guaraná Antártica, velas de 1 e 7 e letreiros de papel que formavam um belo e colorido “FELIZ ANIVERSÁRIO”. Acabaram de comprar tudo na quinta-feira e deixaram para preparar tudo no dia seguinte.

Acordaram bem cedinho na sexta-feira para organizar a festa. D. Margarida se ofereceu para ajudar, mas as duas amigas recusaram seu apoio por quererem uma festa ao gosto de Isabel, e não ao gosto de sua mãe. Quando acabaram tudo, se sentiram extremamente cansadas e cederam a si mesmas um tempo de descanso que serviu para D. Margarida finalmente olhar, sem fazer barulho algum, o que Isabel e Lisbela haviam preparado para a tão aguardada noite.

Quando acordaram do descanso, se limitaram a colocar as fantasias – Isabel vestida da personagem Lisbela do filme “Lisbela e o Prisioneiro” e sua amiga de Amelie Poulain, devido seu cabelo preto e curto. Quando os convidados começaram a chegar, as duas tiveram de ir para a garagem, para recepcioná-los. Eles chegavam sem nenhuma surpresa nas fantasias, eram muitos hippies e muitas diabinhas, mas nenhuma criativa. Nenhuma personagem de filmes como elas, nenhum personagem do Teatro Mágico. Só um cara vestido de Patrick do Bob Esponja. Só.

Depois de um tempo, Romeu chegou. O único realmente criativo entre os homens – nada de piratas ou coisa parecida, ele estava vestido de guerrilheiro da revolução farroupilha! Isabel não foi a única a achar a fantasia de seu namorado linda, todos na festa olhavam para ele admirados. Romeu deixou a barba crescer, pegou uma espada de verdade de seu avô, um colete azul antigo que achou em casa, pediu para sua mãe bordá-lo de dourado, colocou alguns broches que comprou em uma loja de antiguidades e enfiou na cabeça um incrível chapéu que ninguém sabe de onde ele tirou.

- Este é realmente meu namorado lindo? – perguntou Isabel

- Sim, sou eu mesmo. Parabéns, amor, eu te amo muito!

- Eu também, Romeu, pra sempre!

Não se viu mais os dois durante a festa.

Friday, August 03, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte III

– Ele só pode ser louco.

– Certamente, quem sonha uma coisa dessas?

– Sonhar com essas guerras, e se formos nos guiar por o que Freud dizia, este é um desejo dele, matar todas essas pessoas e dominar o mundo.

– Não tinha um desenho assim?

– Sim, Pink e Cérebro.

– Vamos trocar de cobaia, Vitinho?

– Com certeza.

Mandei Rafael ir para a casa, ele já devia estar cansado de ouvir falar em sonhos por tanto tempo. E uns sonhos daqueles ainda. Ele não hesitou nem um pouco, tão visível era seu cansaço que eu havia lhe proporcionado sem me importar muito nem tampouco fazer algo para reverter tal situação.

Na segunda-feira, acordei muito disposto a escolher novas cobaias e desvendar outros sonhos. Estava obcecado por aquilo, era a minha maior diversão. Mas algo apareceu na minha vida de uma maneira completamente repentina, e sem pedir licença alguma, começou a tomar os meus pensamentos, que estavam todos voltados para a máquina de sonhos. Era ela – a garota na qual eu sempre sonhei. Devia ter menos de um metro e sessenta centímetros, cabelos pretos lisos, covinha em uma das bochechas e olhos escuros brilhantes Entrara na minha turma do colégio no meio do ano, por motivos de transferência de seu pai, tinha um sotaque estranho, mas meigo.

Fiquei parado olhando-a com os olhos brilhando mais do que o natural dos olhos dela. Passou por mim sem me notar, mas eu a notei. Ah se notei! E eu não tinha com quem dividir aquele segredo – que estava apaixonado pela colega nova – já que Rafael fora à aula e ninguém mais eu podia confiar naquele colégio escuro, que de repente parecia tão claro para mim. Se ao menos eu soubesse o nome dela. Nem isso eu sabia e é claro que não iria perguntar, também.

Foi aí então que me veio à mente uma das mais terríveis idéias que ela poderia ter me proporcionado, mas eu precisava saber, tinha que desvendar os sonhos dela. Logo que cheguei em casa, liguei para Rafael contando todo o acontecido do dia.

– Cosme?

– Quem é? – respondeu ele com uma voz de sono

– Sou eu.

– Eu quem?

– Estou apaixonado. Por uma colega nova. Ela é linda, Cosme, precisas ver. Tem um cabelo escuro escorrido lindíssimo, olhos igualmente lindos, sem falar da sua baixa estatura.

– Olha, acho que tu ligou pro número errado, aqui não é de nenhum daqueles programas de rádio que os locutores te dão dicas para relacionamentos.

– Não, seu bobo, é contigo mesmo!

– Deve ser com meu pai, ele é Cosme também. Rodrigo Cosme.

– Se tu não fosses meu único amigo, eu juro que te partia a cara, Rafael Cosme!

– Ah, é tu, Vitinho.

– Sim.

– Mas me fale mais dessa menina, qual o nome dela?

– Não sei, ainda.

– E já está apaixonado? Poxa.

– Paixão à primeira vista, bobo, ela é linda, tens que conhecer ela amanhã.

– Certamente, irei à aula amanhã.

– Ótimo. Assim poderemos montar nosso plano.

Nosso? Tô fora, Vitinho!

– Eu preciso descobrir o que ela anda sonhando.

– Esta máquina está te enlouquecendo, Vítor!

Senti gravidade na última frase de Rafael. Desde o meu aniversário de dez anos, ele nunca me chamou de Vítor. Mas não dei muita importância, só tinha mente para ela, a menina dos meus olhos, aquela que eu sonho ter uma vida junto, filhos, casa e tudo que temos direito. Eu só precisava descobrir o nome dela, para que, assim, pudesse invadir seus sonhos. Era por isso que eu precisava de Cosme.

Acordei naquela terça-feira cansado e com dor nas costas. Mas eu tinha que ir para a aula, precisava convencer Rafael de perguntar qual o nome dela. No intervalo, pude finalmente conversar com ele e tentar arranjar um jeito de pedir para que ele perguntasse qual era a graça da tal moça, pois ele sempre foi mais solto que eu, sempre fui mais tímido, e não teria coragem de falar com ela. Apenas nos sonhos.

– Não vou, Vitinho, já falei!

– Eu preciso de ti, Cosme!

– Em dez anos de amizade, sempre fui fiel a ti, e tu também foste comigo, não podes quebrar esta corrente, sabes que só tenho a ti para contar!

– Se é para a felicidade da nossa amizade, eu digo que pergunto.

– Eu sabia que podia contar contigo! Muito obrigado, meu amigo!

– Fala aí, como vou fazer isso?

– Simples, agora na aula de matemática, ela vai estar sozinha, pois ainda não fez amiga alguma, então tu vais propor fazer uma parceria para efetuar os exercícios. Nesse meio tempo, certamente vais descobrir o nome da bela.

– Isso não vai dar certo, no fim tu vai te dar mal, Vitinho! Mas tudo bem, eu farei tudo isso.

– Muito obrigado!

Quando chegou a aula de matemática, fiquei muito apreensivo para a hora de efetuar os exercícios, para que finalmente Rafael perguntasse o nome da garota. E não demorou muito para chegar os cálculos da aula.

– Podem se sentar em duplas para efetuar o trabalho – disse a professora, para a minha felicidade.

– Ei, notei que tu está sem dupla para fazer o trabalho, se quiser pode fazer comigo! – disse Rafael, para meu alívio.

– Ah, tudo bem, eu não estou entendendo muito bem a matéria mesmo, vai ser melhor.

– Ótimo. Qual seu nome mesmo?

Friday, July 20, 2007

Lareira e janela de ônibus

Deve ter alguma coisa de especial na vista da janela do ônibus. A mesma que têm no fogo de uma lareira quentinha. Algo que hipnotiza. Podes tentar olhar para outro lado, mas sempre os teus olhos vão voltar para o fogo ou para a janela do ônibus. Não tem não, essa é uma das coisas que apenas é e ninguém pode discutir.

Há muito tempo eu quero escrever algo sobre isso, porque realmente me fascina esse negócio de as pessoas estarem na frente de uma lareira, olhando pro fogo como se esperassem uma reação do mesmo. Um vulto surgir, o fogo aumentar, sei lá. Mesma coisa acontece com a mania que os seres humanos têm de, sempre que dentro de um ônibus, ficar olhando para a paisagem na rua. Vale também quando se está dentro de um carro, viajando para algum lugar e ficar analisando as cidadezinhas passando.

Certamente esses objetos, a lareira e a janela de ônibus ou carros, possuem alguma substância altamente hipnotizadora. Se eu fosse um deles, sentiria muita vergonha de todos ficarem me olhando sem parar.

Espero que algum dia os cientistas, que hoje se ocupam tentando criar o teletransporte, procurem descobrir que substância é essa, que fascina o ser humano. Não para usá-la como tática de guerra para paralisar o adversário, mas sim para somente descobrir, o que causa essa sensação tão agradável.

Monday, July 16, 2007

Minha

Dizer que te amo já é passado, assunto batido, fofoca velha, jornal de ontem. Mas dizer-te que não há braços como os teus isso sim é novo, presente, fofoca nova de vizinha velha ou crônica da Zero Hora do Luís Fernando Veríssimo.

O meu chão és tu. Doce meu, que não me canso de contar meus causos cômicos e tristes, só pra uma covinha se formar do lado do teu lábio.

Faltam-me palavras para expressar o sentimento que tenho guardado no peito. Ponto de equilíbrio meu, ponto de partida do interior da minha mente tão danificada pela tua falta.

É impossível não fechar os dois zóinhos ao sentir teu perfume passando com ar de menina decidida, que não está dando a mínima para o fato de eu estar te observando, ou estar apenas analisando alguma cousa qualquer localizada ao teu lado.

Olhos. Esses que tens tão meigos, com uma pureza sem antecedentes e que quando me refiro aos meus não posso dar-los outro adjetivo que se não reféns. Reféns de ti, da tua bochecha que me dá vontade de apertar.

Outra vez eu me despeço com um abraço apertado, com um beijo longo nas tuas recém citadas maçãs faciais. Beijo que pra ti parece não ter significado algum, mas que para mim, é mais uma forma de dizer-te: Eu te amo, garota.

Friday, July 13, 2007

Cordel do Fogo Encantado

Acordei hoje pensando em um CD que ganhei há um tempo já. Era o álbum de uma banda brasileiríssima, que faz música diferente de qualidade e uma presença de palco impressionante. Seguem algumas informações sobre eles:

Tal grupo participou da trilha sonora do filme “Lisbela e o Prisioneiro”, que tem uma das melhores trilhas sonoras que eu já ouvi – 2ª, se for incluir “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”. O nome da música que faz parte do disco do filme é “O Amor é Filme”, e me arrisco a dizer que é a melhor música do CD.

Gravou um “MTV Apresenta” no ano passado ou retrasado, sendo a melhor edição do fabuloso projeto da emissora. Não vendeu muito, é verdade, mas surpreendeu com um som diferente de todos os que passaram pela proposta.

Hoje à tarde, me deparei com a abertura do Pan-Americano Rio 2007. Sem nada para fazer (sabe como é, estou de férias), resolvi assistir. E não é que, no meio do troço, me aparece o Cordel ali? O Lirinha cantando na Globo, mostrando toda a sua presença de palco, toda sua brasilidade em seu som incrível. Eu fico impressionado como ele consegue virar os olhos para cima, cantar e dançar, tudo ao mesmo tempo. Resolvi pegar meu CD deles. Comecei a ouvir faixa por faixa e pensei: “Caraca, depois do Los Hermanos é a melhor banda to país, esses nordestinos!”.

O Gaúcho precisa perder esse preconceito que tem contra os nordestinos, o paulista e o carioca, tem que fazer o mesmo com o gaúcho e o brasileiro tem que perder o preconceito contra o Brasil.

Saturday, June 23, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte II

- Eu achei uma máquina, aqui no colégio. Suspeito que seja uma máquina de sonhos.
- O quê?! Haha, tu só pode estar brincando.
- É sério, Cosme! Eu preciso da tua ajuda pra testá-la!
- Aham, vamos entrar na sua. Como eu posso te ajudar?
- Tu dormes na minha casa hoje, eu ligo alguns fios que eu achei nela em ti, tu tentas o máximo possível lembrar do sonho que teve, a gente vê o resultado que der na máquina na outra manhã e verificamos se bate. Só isso!
- Como é que é?! Tu tá ficando maluco? Não vai ligar porcaria nenhuma em mim! Tô fora, Vitinho!
- Eu preciso de ti, Cosme! São só alguns procedimentos, tu vais estar dormindo, não vai sentir nada! Vai, me ajuda!
- Vais ter que me pagar muitos CD’s do Los Hermanos por essa, cara.
Depois da aula, eu e Rafael não esperamos meu pai chegar para nos buscar e fomos correndo á minha casa para preparar as coisas para a noite. Vale a pena lembrar que meu amigo hesitou bastante e até tentou fugir enquanto eu tomava banho. Tudo por causa dos tais fios. Mas ele tinha que me ajudar, afinal, eu não tinha mais ninguém em quem pudesse confiar naquele momento.
- Estas confortável, Cosme?
- Tu ainda perguntas, seu babaca?
- Ai, meu Deus, vai começar!
- Ah, cara, eu não vou conseguir dormir com esses fios todos na minha cabeça!
- Eu pensei nisso, toma aqui um diasepan e fica quieto.
- Mais essa! Mais essa!
A chatice de Rafael não durou mais cinco minutos.
Eram sete da manhã quando o acordei de uma maneira inusitada.
- Bom dia.
- Eu te mato, desgraçado!
- Ah, foram só dois copos d’água. E então, lembra o que sonhou?
- Aham, sonhei que tinha ido num show do Los Hermanos em Porto Alegre.
- Agora vamos ver o que a máquina captou.
- Só quero ver...
- Impressionante!
- É exatamente o que eu sonhei! Tudo aparecendo nessa telinha!
Almoçamos junto de meu pai sem nem sequer mencionar o assunto da máquina de sonhos. Ele perguntou por que estávamos tão calados, pois não costumávamos ser assim. Respondi que estávamos preocupados com os estudos e por isso, tínhamos que voltar para aprender fórmulas de física. Fomos para o meu quarto e, enquanto Rafael tentava montar um cubo mágico, eu analisava a tal máquina para tentar descobrir alguma maneira de conseguir projetar na tela, sonhos de outras pessoas que não precisariam necessariamente estar ligadas à máquina.
- Achei!
- Achou o que, Vitinho?
- A maneira de fazer essa máquina me mostrar os sonhos das pessoas!
- E como se faz essa loucura?
- Simples, apertando este botão aqui, este teclado aparece, tu digitas o nome da pessoa desejada e logo após, aparece o sonho dela na noite anterior.
- E quem vai ser a primeira pessoa a perder sua privacidade de sonhos?
- George W. Bush.

Sunday, June 17, 2007

Livros, músicas e sorrisos¹

Não foi de sol que eu fiz a minha vida. Não, também não foi de lua, ou de inteligência, otimismo e cores. Sonhos? Talvez, mas não é essa a resposta certa, ela é formada de livros, músicas e sorrisos¹.
Não há definição melhor que essa, pois basta lembrar de uma música, que você se lembra de alguma parte da sua vida. As partes que não têm uma música sequer que te faça lembrar delas, ou não fizeram parte da tua vida, ou foram marcadas por livros ou sorrisos.

Filmes? Eles entram nas músicas e nos sorrisos, pois você lembra de um filme, também por uma canção, ou por um belo sorriso que deste vendo um hilário filme de comédia. Pegamos o exemplo de “Singing In The Rain”. Qual a primeira coisa que tu lembras quando falam do filme pra ti? Obviamente do cara aquele dançando e cantando aquela música e, logo a seguir, a música vem na tua cabeça.

Pessoas? Elas são mais uma subdivisão das grandes divisões vitais: As pessoas amigas e de sua família, entram nos sorrisos; os grandes artistas, entram nas músicas e os escritores e personagens, seja de filmes ou de romances, entram nos livros.

A vida que você fez é necessariamente feita por esses três fatores, não há como duvidar.

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¹: “Livros, Músicas e Sorrisos” é uma música da Debulle.

Thursday, May 31, 2007

Máquina dos Sonhos

Acordei um dia a me perguntar se era realmente eu um ser que sonha, ou um sonho que é. Desculpe a indiscrição de me apresentar rapidamente. Meu nome é Duarte. Na verdade é Vitor, mas todos me chamam de Duarte, por causa da minha estranha mania de chamar os outros pelo sobrenome.
Tenho olhos levemente cinzas, cabelo castanho claro e uma facilidade incrível de entrar em situações adversas. Como ia dizendo, tenho muitas dúvidas sobre os sonhos. Sempre achei muito ríspido e tangente dizer que são apenas o cérebro que não pra nunca de funcionar. Procuro há alguns anos a solução para isso.
Eu sempre fui considerado um idiota em meu colégio. Sempre fui aquele que todos odeiam e que almoça sozinho lendo um bom livro e ouvindo música. Seria hipocrisia de minha parte dizer que acordei naquela quarta-feira já sabendo que minha vida mudaria totalmente. Não. Acordei pensando ser aquele mais um dia terrível naquele frio colégio.
Eu conversava com Rafael Cosme, única pessoa que um dia me aturou. Meu único amigo, conheço há dez anos. Estamos fazendo bodas de caramelo de amizade¹. Segue a nossa conversa:
– Cosme, o que são os sonhos? – disse eu
– Como assim, Vitinho? - respondeu Rafael
– Os sonhos, ora, o que são eles?
– É o cérebro trabalhando enquanto o resto todo descansa. Nunca te ensinaram isso?
– Mas se for isso, a gente sonha o tempo todo!
– É.. Nunca pensei por esse lado.. Meu pai chegou, até amanhã, Vitinho.
Despedi-me de Rafael, enfiei as mãos nos bolsos do casaco e voltei para dentro do colégio. Não imaginava que faltavam poucos minutos para que aquela quarta-feira mudasse de um qualquer, para um dia especial. Comecei a ouvir uns barulhos estranhos que pareciam vir de um local fechado, mas de onde? De onde vinham aqueles ruídos que me arrepiavam? Não sabia. Continuei a procurar, então. Parecia que a cada vez que o som aumentava, mais distante eu estava dele. Eis que acho uma porta tremendo. Era ali, vinha dali o tal barulho estranho! Abri a porta. Assustei-me com o tamanho daquela máquina. Comecei a analisar aquilo, e depois de muito tempo achei uma sigla: “MDS”. Mas o que aquilo significava? Aparentemente, nada.
Tentei criar combinações para ela, como “Minha Doce Sandra”, ou “Máquina de Sucos”². Até que pensei na possibilidade de significar “Máquina Dos Sonhos”. Pensei em levá-la para casa, mas como? Não tinha como, era muito grande e eu só tinha meus lindos e pequenos bolsos. Fiquei desiludido de não poder fazer o que queria, mas acabei desistindo de arranjar um jeito de levá-la para o meu quarto e começar a desvendar os sonhos de todos. Estava tão concentrado que não ouvi a meu pai buzinando na frente do colégio.
Fui embora depois de muito tentar arranjar um jeito para levar a tal máquina para casa. Quando ia saindo do corredor, meu pai estava gritando desesperadamente meu nome e me mandando entrar rapidamente no carro. Passei o trajeto todo calado, pensando somente no momento incrível que acabara de viver.
Quando cheguei em casa, fui surpreendido pelo mesmo ruído da tal máquina.
– Pai, tu estas ouvindo?
– Ouvindo o que, Vitor?
– Esse barulho!
– Que barulho, tá ficando louco, guri?
– Esquece, pai.
Saí da sala de cabeça baixa e tratei de ir correndo para meu quarto.
Ao chegar lá, tive a maior surpresa da minha vida. Ali, ao lado do meu guarda-roupa, quase que escondido no meu daquele monte de coisas, estava ela: A Máquina dos Sonhos.
Confesso ter sentido medo ao chegar perto daquela coisa grande, barulhenta e brilhante. Pensei em correr até a sala, chamar meu pai e contar-lhe sobre a tal máquina, mas percebi que aquela era uma decisão muito arriscada, e decidi, então, contar apenas para Rafael sobre aquele trambolho.
Passei a noite inteira tentando descobrir como fazer funcionar a tal máquina. Estava tão compenetrado, que nem percebi que acabara de nascer o sol, e eu tinha que me arrumar para ir para o colégio e contar tudo para Cosme.
Pelo caminho, quis dividir com alguém a emoção de ter uma Máquina de Sonhos no meu próprio quarto, mas lembrei-me que estava sozinho, e então me contentei em tentar conversar comigo mesmo, para isso, criei um segundo Vitor. Para ele, dei o nome de “Silva”. Parece loucura, mas conversei com meu segundo eu por um tempo que não conseguira falar com ninguém até aquele dia. Foi aí que me convenci que eu era uma pessoa agradável. Mas fiquei me perguntando se teria eu inventado Silva, ou Silva havia me inventado.
Cheguei à escola e fui logo procurando Rafael.
– Cosme, Cosme!
– O que foi, Vitinho?
– Aqui não dá, vamos para a cantina.

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1: Bodas de caramelos é uma história real, de duas amigas que estão fazendo dez anos de amizade. O porquê de caramelos? Sei lá, pergunta pra Cecília ou pra Luíza.

2: Máquina de sucos é uma música da minha banda, Debulle.

Saturday, May 19, 2007

Os imprevistos da vida, caso a parte IV

- Eu realmente preciso responder isso, Romeu?
- É claro, senão eu não tinha perguntado, ora!
- Pois bem, mesmo que eu ache que isto não passa de uma crise de ciúmes, eu vou te responder. Não, eu não ando só com meninas aqui. Tem um menino que já é muito meu amigo aqui, mas eu não estou “andando com ele para cima e para baixo”, como andam te dizendo por aí.
- Mas ele já quis te beijar?
- Eu tenho que desligar, Romeu, senão vou me atrasar para o vôo.
- Agora tu estas mudando o rumo da conversa, Isabel! Estas fugindo do problema!
- Tchau, Romeu, daqui a pouco eu já estou aí.
- Isabel!
Já era tarde, ela já tinha desligado o telefone. Romeu chegou a pensar em não ir buscar a amada no aeroporto, mas depois percebeu que aquilo seria uma grande bobagem e ele ainda colocaria a perder tudo aquilo que havia conquistado ao lado de Isabel, dentre bilhetinhos de Amor e uma linda e sólida relação.
.Isabel não estava nada bem com aquilo tudo que estava acontecendo. Chegou à conclusão que o problema estava no ciúme de Romeu e no seu próprio egocentrismo e viu que isso é o que deveria mudar e ia mudar. Pelo menos de sua parte, para o bem do relacionamento dos dois, que era tão lindo. Chegou a correr uma lágrima do seu olho, e foi aí que ela percebeu que o amava mais do que imaginava.
Não era de ontem que Miguel sabia que ainda amava Isabel. Até hoje ele faz desenhos de os dois de mãos dadas andando pelo jardim de sua casa. Era por isso que ele tentava separar a garota de Romeu, para que ela se sentisse mal e corresse de volta para os seus braços, mas, mesmo assim, sabia que tudo isso era uma grande ilusão, mas ele não deixava de sonhar. Nunca amara ninguém como a amou e faria de tudo, até matar, se preciso, para ter ela de volta, tanto que sonhava com isso todas as noites, fazendo as mesmas ficarem mais estreladas, pelo menos para ele.
Romeu passou parte daquela tarde lendo “O Mundo de Sofia” e ouvindo The Beatles. Tentou pensar o menos possível em Isabel, mas quanto mais ele ia para debaixo das cobertas e lia, mais se lembrava de quando os dois viam um filme juntos ou liam algum livro . Não demorou muito e já estava o mocinho a pensar na menina que fazia seu coração virar de tanto bater aceleradamente.
Eis que chega a tão esperada hora de Isabel chegar. 18:00. Era esse o momento que há mais ou menos uma semana, os dois esperavam ansiosamente e que hoje, eles esperam com uma mistura de medo, raiva e dor.
Romeu, mesmo com todas as circunstancias apontando o contrário vai buscar Isabel na rodoviária de Satolep. Estava vestindo um blusão V verde, uma calça jeans e um All Star azul. Fazia muito frio na cidade e a dúvida se deveria mesmo estar ali, foi dando espaço à vontade de estar junto a sua amada. Ela estava vestindo um vestido azul marinho que fazia um lindo contraste com o cabelo castanho escuro e os lindos olhos igualmente azuis, e foram neles que os olhos de Romeu fitaram.
- Romeu, meu amor! – gritou Isabel, euforicamente.
- Minha pequena, eu te amo muito! – respondeu Romeu.

Thursday, May 10, 2007

Os imprevistos da vida, caso a parte III

Fazia muito frio em Satolep quando Romeu resolveu andar pela cidade para pensar em o que iria fazer para quebrar o gelo que havia entre ele e Isabel, pois ela estava para voltar de viagem no dia seguinte, e o rapaz não queria que ficasse um clima pesado naquele dia especial. Mas, na esquina da Rua XV de Novembro, próximo à Felix da Cunha, Miguel o estava esperando. Romeu tentou fingir que não o viu, mas Miguel o viu e, como já era de se esperar, falaram sobre a namorada do jovem apaixonado.
- Continuas com a Isabel, rapaz?
- Continuo, sim.
- Ela ainda não te traiu?
- Estou atrasado, Miguel, por favor!
- O que foi? Medo que eu revele algo sobre a sua linda princesinha?
- Saia da minha frente, por favor, estou perdendo a calma.
- Fiquei sabendo que ela está andando pra lá e pra cá com um moço que, pelo que eu soube, é muy guapo!
- Cala-te! Isso é mentira!
- Pergunta para qualquer cidadão. Parece que sua doce menininha, tem outra imagem para o resto da cidade!
Romeu ficou sem palavras para responder. Chegou a pensar em bater em Miguel, mas alguma coisa, que nem o próprio Romeu sabia, dizia para não fazê-lo.
- Então, não estava atrasado, Don Juan?
O mocinho saiu correndo pela Rua Félix da Cunha. Fez isso até chegar em casa.
Isabel estava a arrumar as últimas malas, quando teve uma sensação estranha, como se alguma coisa de muito ruim estivesse para acontecer naquele instante. Pensou em sua mãe, que havia voltado da viagem uma semana antes. Resolveu ligar para D. Margarida.
- Alô?
- Minha filha! Estou tão feliz que voltas amanhã!
- Está tudo bem por aí, mãe?
- Tudo bem sim! Seu pai está preparando uma grande festa para a sua volta!
- Que bom. Mãe, tenho que desligar, amanhã nos vemos!
- Boa noite, Isabel.
Romeu dormiu quando chegou em casa e só foi acordado no dia seguinte por sua mãe. Ele havia pensado em ligar para Isabel no dia anterior, mas preferiu não ligar.
O casal estava há três dias sem se falar, até que, no dia de sua volta, a garota resolve ligar para o guri.
- Oi, piá.
- Oi, pequena.
- Por que estas me tratando assim, Romeu?
- Eu gosto de ficar quieto às vezes, só isso.
- Eu te conheço, tu estas me escondendo algo.
- Não é nada Isabel, não é nada.
- Jura pra mim?
- Que horas o meu amor chega em Satolep?
- Não tenta mudar o rumo da conversa, Romeu, sabes que odeio isso!
- Não está acontecendo nada, ta bom? Nada!
- Então porque me tratar assim?
- Já te disse, só quero ficar quieto um pouco.
- E tu achas que eu acreditei nesta tua desculpa?
- Queres saber? Então vou te fazer uma pergunta, você aí está andando só com gurias, ou será que tem também algum menino “muy guapo”?
- De onde tu tiraste isso, Romeu?
- As pessoas comentam aqui.
- E tu vai acreditar nas pessoas que mal sabem de nós dois e não vai acreditar em mim? Por favor, Romeu.
- Pois então a senhora deve rever seus conceitos sobre amizades.
- Eu vou fingir que não ouvi isso!
- Não, fazer isso é esconder o problema. Tu não tens nada pra me contar do que está acontecendo aí? Não existe mesmo nenhum piá guapo que queira te beijar?
Isabel tremeu nas bases.

Saturday, April 14, 2007

O Cavaco e a Violona

Era pequeno, de voz fina e muito simpático. Era fácil e indispensável em caminhadas em grupo pela praia do Laranjal e tinha um Amor escondido por uma moça maior e mais velha. Era ele um cavaquinho e ela uma violona.
Ela era a preferida de todos e levada para todos os lugares como uma ótima companhia, até o cavaco chegar. Quando isso aconteceu todos só falavam naquele pequeno ser, faziam de tudo só pra tocar nele e esqueceram da existência da primogênita. Adquiriu um ódio quase que doentio dele.

Acontece que o pequeno se apegava muito fácil e foi aí que o tal se apaixonou pela tala. Mas, ela não o enxergava, apenas o via, o que deixava o cavaquinho pra lá de deprimido e causou várias crises existenciais no coitado. Esnobava-o como se esnoba um jornal de ontem e achava que estava certa. Esnobava-o pelo simples prazer de tê-lo aos seus pés e pelo simples motivo de achá-lo pirralho demais para sua grotescas maturidade. Mas, ele não queria saber disso, apenas a amava. E como a ele a amava!

Eis que um dia o nosso protagonista resolve se declarar para aquela puta e ela o esnoba de um jeito pior do que o esperado, pois fala todas as coisas ruins que se poderia imaginar e mais as que se poderia imaginar e olha que essas são ainda piores! Mas, o cara continuava apaixonado por aquela vaca. Agora ela tinha um certeza na vida: Que tinha alguém pra chutar, pisar, esmagar e fazer o que quisesse. E era só nesse lado que a vilã pensava: Em tirar proveito da situação pavorosa que o coitado passava naquele momento.
Na verdade, não é a primeira vez que ela pisa no lado amoroso de algo, há um ano, ela trocou um Baixo de 4 cordas por outro de 5 cordas, pelo simples fato do cara ter uma corda a mais, mas quem vê corda, não vê alma, e o tal baixo deixou ela alguns meses depois. Nunca mais amou depois do acontecido e com o cavaco não seria diferente.

Podia nunca acontecer, mas ele sonhava. E como sonhava aquele negócio pequeno da voz fina! Fazia de tudo para descobrir aonde a Violona ia estar para depois ir vê-la com seu som fora do comum, mas ela fazia questão de ignorar nosso desiludido protagonista.

Até que um dia ele cansou de correr atrás dela e viu que não vivemos em um comercial de margarina, não se pode viver sonhando o passado, deve-se sonhar o futuro então parou de imaginar a sua ex-amada sendo tocada pelos melhores músicos brasileiros, mas aí quem ficou triste foi a mocinha, que ao saber do desamor do seu cavaco, caiu na depressão e na crise existencial.

O cavaquinho achou uma banja em uma apresentação de banda de pagode e viveram felizes para sempre em um comercial de margarina. A violona arranjou um violão de 12 cordas e foi feliz com ele em uma novela das 8, mas, como em toda novela das 8, ela foi trocada por uma outra violona que era elétrica.

PS: Dedicado à minha futura(?) cunhada e ao nosso fiel escudeiro Silva!

Friday, April 06, 2007

Os imprevistos da vida, caso a parte II

No tempo em que ficou quieto Romeu viu passar um filme em sua cabeça sobre Isabel, Miguel e sua infância até os dias de hoje.

- Eu te amo. – disse ele fechando os olhos.

- Eu também.

- Eu tenho que desligar, meu amor.

- Tudo bem, Romeu. Até amanhã.

- Um beijo, eu te amo demais mesmo, Isabel.

- Outro, meu guri.

Romeu não dormiu aquele dia, ficou pensando em como teria terminado a conversa se tivesse falado com sua amada sobre o telefonema.

Isabel percebeu que alguma coisa havia acontecido com o piá e pede a Deus que esse mês passe o mais rápido possível, pois teme pelo amor dos dois.

O céu agora está roxo em Satolep. Romeu já está há uma semana como colunista do jornal local, mas só tem feito colunas delirantes sobre crises existenciais e coisas mirabolantes indecifráveis às mentes meramente humanas. Mesmo sem receber um “te amo” de resposta, apenas um “também”, sentia-se coberto pelo amor de Isabel que o aquecia naquele frio incalculável da cidade. Nunca falou, mas sempre esperou que Isabel falasse “te amo” para ele a qualquer momento, não somente como resposta.

Estava a moça sentada esperando um ônibus em Porto Alegre quando chegou a notícia que ela conquistara o coração de um rapaz muy guapo. Pensou em ir até ele, mas lhe passou na cabeça a imagem do abraço de Romeu, que a fazia ficar ali, parada, sem mexer nem um músculo. Apenas sentindo aquele abraço que fazia seu mundo girar mais devagar que o próprio inverno. Não foi até o guri, mas não escondeu a vontade. Agora pensa se conta ao amado o acontecido. Pensa se ele compreenderia, mas achou melhor esconder a verdade. Agora os dois têm mais uma coisa que os liga: A mentira.

O casal conversa todos os dias, mas fica claro que algo está errado. Claro! Um está mentindo para o outro!

- Amor! Falta uma semaninha para eu voltar pra casa!

- Eu sei, pequena, estou contando os dias para a tua volta, não vejo a hora de te dar um abraço daqueles de dar inveja a qualquer casal apaixonado que passe ao nosso lado.

- Tu és tão querido comigo, Romeu.

- Eu te amo, querida. É normal!

- Eu te amo também, meu guri! – disse Isabel com uma mistura de riso com choro e alegria com tristeza.

Wednesday, March 28, 2007

Os imprevistos da vida, caso a parte.

Romeu segura a mão de Isabel.
- Eu vou sempre te esperar, Isabel.
- Eu sei, Romeu, eu te amo.
Agora ele solta a mão da pequena que entra no avião, partindo rumo a Porto Alegre.
Chove forte em Satolep e o piá volta de cabeça baixa para a casa. Ele sabe que sempre vai esperar pela sua garota, mas teme mesmo assim.
- Como foi no aeroporto, Rô? – pergunta Dona Cristina
- Triste, mãe, eu não queria soltar a mão dela. – respondeu o rapaz.
A chuva é empurrada pelo sol, formando um lindo arco-íris no céu ainda cinzento da cidade.
Os amigos de Romeu lhe fazem uma visita para tentar animar o guri, mas sem sucesso, só a presença, o carinho e o abraço de Isabel podem o consolar.
- Vamos, cara, daqui a um mês ela vai voltar! – disse-lhe Rodrigo.
- Ah, Rodrigo, tu sabes que eu não consigo ficar uma semana sem aquela morena!
- Mas não é por isso que não vais viver, amigo, hoje vai ter uma janta na casa do Fernando, aparece lá!
- Tudo bem.
Romeu faz um esforço e vai à janta. Ele passa o tempo todo olhando o relógio para falar pela internet com Isabel. O piá empurra os joelhos contra o peito com as mãos, pensa só no seu amor, fecha os olhos para canalizar o pensamento e fala para si mesmo: “como eu queria que o tempo andasse um mês em apenas um dia!”.
Isabel passa a viagem inteira olhando o bilhete que o amado fez e dona Margarida olha para o rosto triste da filha e ri.

- Tu o amas mesmo!

- Muito, mãe!

- Um mês e tu já vais ver ele!

Isabel passou o resto da viagem quieta e dona Margarida impressionada com o tamanho do amor entre eles.

Romeu estava a dormir quando recebeu aquele telefonema. Levanta, vai até o telefone e o atende. É Miguel.

- Romeu?

- Quem fala?

- É Miguel.

Miguel é a pessoa que a amada de Romeu mais odeia no mundo, ele a traiu e a abandonou.

- Olá, Miguel.

- Bem, fiquei sabendo que estas com a Isabel.

- Sim, eu estou.

Pois saibas que não a recomendo.

-Por qual motivo?

- Porque ela não ama, apenas...

- Veja bem, Miguel. Eu amo a Isabel e não é por causa de um relacionamento que não deu certo por tu teres cometido canalhices com ela que o meu e dela vai acontecer o mesmo.

- Tu também és guri, sabes que a carne é fraca.

- Nem todo piá é promíscuo como tu.

- Nem todo piá é bicha como tu.

- Miguel, são oito e meia da manhã, eu preciso dormir.

Romeu coloca o telefone no gancho. Tem uma entrevista importante no dia seguinte para se tornar colunista de um jornal, mesmo que tenha 17 anos, tem chances de ser contratado. Tenta dormir, mas não consegue. Altera o pensamento entre Isabel e o telefonema.

Ele fala com a amada no dia seguinte ainda pensando na tal conversa da manhã anterior.

- Como está a viagem, querida?

- Ótima, tirando a saudade!

- Também estou com saudades, pequena.

O garoto pensa se fala ou não sobre Miguel, pensa se vale a pena ou não, se daria certo ou não. Pensa até se a chuva apertaria o seu coração. E apertou.

- Amor? - diz ele

- O que, meu piá?

Silêncio.

Sunday, March 25, 2007

Sonhos

Existem vários jeitos de se pensar “sonhos”. Tem o sonho de quanto tu dormes e o teu cérebro continua funcionando, mas essa é muito no ponto exato para mim, prefiro aquele mais figurado de tu sonhares só o que queres sonhar. Mas, como tudo, há uma controvérsia. Por exemplo, o sonho de uma amiga minha, que sonhou que eu e outro amigo estávamos andando de skate e aparecendo na MTV. É claro que eu nunca vou aparecer na MTV. Muito menos andar de skate, mas não custa sonhar, não é mesmo? Vai ver a Tani queria ver eu e o Douglas fazendo manobras radicais ou ver a Debulle na televisão.


Existem pessoas que não deixam o sonho vir aleatoriamente, gostam de, antes de dormir pensar no que vão sonhar. Às vezes eu me encaixo nesse grupo, às vezes não. Nesse grupo se encaixam as pessoas apaixonadas, que querem sonhar com a pessoa amada e se esforçam o máximo possível para sonhar com ela.

Os sonhos, em uma abordagem psicológica, são uma representação exata do nosso interior e se estudados corretamente podem ser um método de conhecer o psicológico da pessoa, fazendo assim, uma “fotografia” do inconsciente. Para os psicólogos, os sonhos têm uma linguagem própria, os símbolos. Não aqueles símbolos de “dicionários de sonhos”, vendidos em bancas de revistas, para eles, esses dicionários contradizem o entendimento de um sonho. Para eles, para entendermos sonhos, temos que primeiro entender os símbolos.

Temos também uma parte mais “seca” de ver os sonhos, a parte médica. Alguns neurocientistas consideram o sonho apenas um “tráfego” de informações que servem apenas para deixar o cérebro em ordem. Mas, eles não explicam peculiaridades dessa teoria, como por exemplo, Paul McCartney ter sonhado com uma melodia, depois acordou e compôs “Yesterday”.

Existem pessoas que pensam muito antes de dormir e por isso não sonham, como, por exemplo, minha amiga Cecília. Essas podem, ou por pensarem demais pegarem no sono rápido e por isso não sonharem, ou então não sonhar por outro motivo. Ou nenhuma das duas.

Outras não se lembram dos próprios sonhos, tendo apenas um grande “preto” enquanto dormem. Essas devem ter algum problema e devem procurar um médico. Eu que não quero ser o médico. Ou então nunca sonharam algo realmente marcante para ser lembrado.

Algumas não sonham, têm pesadelos. Essas podem estar estressadas demais por qualquer motivo, seja ele trabalho, problemas familiares, amorosos, etc. Outras dizem ter pesadelos para parecerem dark

Eu acredito que os sonhos são fotografias do nosso emocional, se tu estas apaixonado, vais sonhar com a pessoa amada, se tu estas estudando muito, vais sonhar que estas estudando. Claro, não leve isso ao pé da letra, às vezes tu sonhas aleatoriamente, como sonhar que ganhou um ingresso pra um show da Cachorro Grande em Belo Horizonte em um jogo de sinuca.

Anexo: “Os sonhos retratam uma realidade projetada pelas pessoas e por isso invadem o psicológico delas, porque os sonhos não passam de pensamentos ilustrados e, às vezes, até mesmo sentidos. Ou seja, “fotografam” uma realidade vista só por aquela pessoa”

Cecília Cordeiro

Tuesday, March 20, 2007

Redução da responsabilidade penal

Semana passada tive de fazer uma redação de colégio sobre a redução da maioridade penal, desde então tenho vontade de escrever sobre isso, mas não tenho tido tempo. Nem criatividade.

Eu sou razoavelmente contra a redução de 18 para 16 anos, não por “pessoas de 16 anos não têm consciência do que fazem”. Não, sou contra por achar que essa é mais uma medida equivocada de colocar os problemas para debaixo do tapete, escondê-los de uma maneira que tira a responsabilidade das costas de quem a tem. Se formos analisar a situação na qual o país vive hoje em dia em termos de segurança, veremos que essa não é nem de longe a solução mais adequada. Não para agora.

Existem outras formas que poderiam ter sido feitas agora, como a melhoria na segurança pública, coisa que já deveria ter sido feita há muito tempo, mas é esquecida seja qual o governo que está no poder. O caos é tão grande que os policiais ás vezes são os bandidos, como casos em que são roubados peças de carros, pelos próprios policiais que se fazem desentendidos logo após.

Outra opção que poderia ser adotada é a lei seca, que já funciona em cidades do interior de São Paulo e que diminuiu em média 80% o índice de criminalidade nessas cidades. Mas essa é uma opção a se discutir mais, por serem poucos os donos de bares que respeitariam tal medida, mesmo sabendo das conseqüências que essa atitude dos mesmos pode causar. Como já foi dito, a lei seca já foi bastante eficaz. Porém, é questionável a sua aprovação em cidades grandes, como São Paulo, Porto Alegre, Brasília entre outras capitais, por ser difícil um controle mais rigoroso do respeito à lei, mas juntando essa medida, com a melhoria da segurança pública, teríamos bons resultados.

É crítica, também, a situação do sistema penitenciário brasileiro. Não só por deixar os presos às vezes em condições desumanas de superpopulação nas celas, mas também as atividades dos presidiários chegam a quase zero. Tenho a convicção de que, se bem trabalhada, a educação dos presos poderia trazer ótimos resultados, pois não adianta absolutamente nada, deixar o criminoso dentro de uma cela parado, pois assim ele terá tempos para praticar e pensar em novos crimes. Esse problema poderia ser resolvido com cursos de trabalho manual, que ajudaria no desenvolvimento de alguma habilidade para o preso trabalhar quando estiver fora da prisão, assim largando o crime. Poucos sabem, mas existem presos que, dentro da prisão começam a ler livros, estudam e se formam grandes advogados para lutar em sua própria defesa para sair da prisão, dando assim exemplo para outros presidiários fazerem o mesmo e assim, deixar de serem criminosos.

A educação é a melhor e mais certa forma de combater o crime. Não só a educação dentro das penitenciárias, mas principalmente na base, pois com uma boa formação e qualidade de ensino, diminuiria radicalmente o número de pessoas com tempo para cometer crimes. Digo isso mais direcionado às escolas públicas, pois com atividades em turno inverso, seja ela esporte, música ou qualquer outro tipo de ocupação para esses jovens, fazendo assim eles não só não pensar em crimes, como ter mais uma chance de escolher o que vai fazer no futuro.

Afinal, que jovem de 16 anos, com uma boa educação, vai pensar em cometer infrações?

Wednesday, February 28, 2007

Quatro pessoas, quatro pensamentos diferentes e uma só salvação. Podes entender como “o motivo pela separação das crenças”

Uma vez houve respeito entre crenças. Um ateu, um católico, um muçulmano e um judeu andavam por uma ruazinha sem saída, conversando sobre assuntos que jamais consegui decifrar quais eram. O que importa era que conviviam felizes, sem concorrência, sem ofender um ao outro. Tão envolvidos na conversa que nem notaram que a rua era sem saída.

Era sem pedras e com paredes brancas, os muros tinham falhas que possibilitavam a subida nos mesmos. Aí é que nasceu todo o problema da discriminação de religiões. Há quem diga que, subindo o muro do fundo do beco, se encontra um gênio, contaram-me que ele realiza o desejo da vida eterna pra quem chegar até ele. Um dos quatro homens que andavam juntos inventou de subir o tal negócio, quando de repente o gênio vem até ele e, num momento de extrema amizade e felicidade o homem diz para os outros também subirem. Aí que ele errou.

Quando todos subiram, cada um reverenciou o gênio conforme sua religião: O católico o pediu a bênção, o muçulmano se ajoelhou e beijou seus pés, o judeu pegou sua Torá e o ateu, sem ter crença alguma, não conseguiu enxergar o gênio, que por sua vez se viu encabulado, pois só poderia realizar o sonho da vida eterna para um deles, então resolve fazer um tipo de “corrida ao pote de ouro”:

- Estão vendo além desse muro? – disse o gênio.

- Sim! – disseram os outros três.

- Pois então estão vendo o horizonte lindo que temos aqui.

Ao fundo se podia ver um arco-íris se formando no tal belo horizonte

- Ganhará a vida eterna aquele que me trouxer o pote de ouro que há junto daquele arco-íris. – explicou o gênio

- Só correr até lá? – disse algum deles

- Sim, vocês terão que correr, mas no caminho haverá muitos obstáculos, que os quais vocês não irão vencer sem sua fé.

- Isso não é problema, o único que não a tem aqui é o ateu, e ele vai ficar.

Nunca mais foi visto aquele homem sem fé.

Desde que o gênio deu a largada em busca da vida eterna, a amizade forte que existia entre o muçulmano, o católico e judeu não se fez mais presente.

Quando apareceu o primeiro obstáculo, eles pediram cada um de seu jeito e para seu deus. O obstáculo era uma tempestade gigante, que cessou um dia após as orações, mas o solo que eles pisavam era de areia e a água da chuva dificultou a caminhada dos competidores. Um mês depois, chegou outra tempestade, dessa vez de areia. Sem se lembrar de rezar, eles apenas levaram as mãos aos olhos e pouco lhes atrapalhou aquela areia. Risos sarcásticos.

Em uma época sem nenhum empecilho, começaram as brigas entre eles próprios, Cegos com a chance de ter vida eterna, Eles começam a se digladiar, se esquecendo totalmente do que havia acontecido antes do tal beco sem saída, mudaram seus pensamentos, esqueceram de seus valores, da ética, do respeito.

Era um dia de sol intenso quando o muçulmano resolveu perguntar ao judeu para que lado estava o oeste, para poder rezar e pedir pelo amor de Deus que deixe-o ganhar a disputa e ter a vida eterna., mas o judeu o ignorou. Pediu então ao católico, mesma reação. Ou falta dela.

Em uma parte do percurso, areias movediças começaram a puxar os fiéis, Oraram rápido, pediram para não morrer, imploraram perdão, mas não adiantou, a areia movediça os atacou de vez, não tiveram o que fazer a ao ser correr, até que o católico, acabou por ser sugado pela areia, desesperado, pede então, ajuda ao muçulmano, que o olha pasmo com aquela cena, mas lembra que o companheiro o abandonou na hora que precisou e a memória pré gênio já foi apagada da sua cabeça e ele, sem titubear, corre para se salvar e deixa o católico morrer.

Agora apenas dois competidores lutam pelo pote de ouro no final do arco-íris. Silêncio. Isso foi a rotina dos sobreviventes por muito tempo, não para sempre.

Passaram-se vinte e cinco anos desde que o primeiro morto se foi, os sobreviventes agora estão magros, velhos, enrugados, com cheiro desagradável e com fé incrivelmente inabalável.

Encontraram duas espadas com um bilhete: “lutem, quem sair vivo dessa leva o pote de ouro”.

Começa a batalha final, eles nunca nem se quer viram uma espada, muito menos tocá-la, menos ainda manuseá-la, mas mesmo assim atacam-se, os dois têm a mesma força de vontade, mesmo tamanho de fé, mesmas habilidades.

Você deve estar-se perguntando: “onde foi parar o ateu?”

O ateu voltou para o outro lado do muro, voltou pra casa, se casou, teve filhos e morreu de velho, viveu até o seu corpo não aguentar mais.

Alguns dizem que o gênio era invenção daqueles três malucos, outros dizem já terem o visto, mas acharam que não valia a pena gastar toda a vida atrás de uma incerta vida eterna.

Dizem que a areia movediça não matava realmente, porém enlouquecia e fazia a pessoa se perder na vida.

O judeu e o muçulmano brigam até hoje para ver quem vai passar para a última parte de terra antes de chegar ao pote de ouro.



Nota do autor para o texto: 9,7