Friday, August 03, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte III

– Ele só pode ser louco.

– Certamente, quem sonha uma coisa dessas?

– Sonhar com essas guerras, e se formos nos guiar por o que Freud dizia, este é um desejo dele, matar todas essas pessoas e dominar o mundo.

– Não tinha um desenho assim?

– Sim, Pink e Cérebro.

– Vamos trocar de cobaia, Vitinho?

– Com certeza.

Mandei Rafael ir para a casa, ele já devia estar cansado de ouvir falar em sonhos por tanto tempo. E uns sonhos daqueles ainda. Ele não hesitou nem um pouco, tão visível era seu cansaço que eu havia lhe proporcionado sem me importar muito nem tampouco fazer algo para reverter tal situação.

Na segunda-feira, acordei muito disposto a escolher novas cobaias e desvendar outros sonhos. Estava obcecado por aquilo, era a minha maior diversão. Mas algo apareceu na minha vida de uma maneira completamente repentina, e sem pedir licença alguma, começou a tomar os meus pensamentos, que estavam todos voltados para a máquina de sonhos. Era ela – a garota na qual eu sempre sonhei. Devia ter menos de um metro e sessenta centímetros, cabelos pretos lisos, covinha em uma das bochechas e olhos escuros brilhantes Entrara na minha turma do colégio no meio do ano, por motivos de transferência de seu pai, tinha um sotaque estranho, mas meigo.

Fiquei parado olhando-a com os olhos brilhando mais do que o natural dos olhos dela. Passou por mim sem me notar, mas eu a notei. Ah se notei! E eu não tinha com quem dividir aquele segredo – que estava apaixonado pela colega nova – já que Rafael fora à aula e ninguém mais eu podia confiar naquele colégio escuro, que de repente parecia tão claro para mim. Se ao menos eu soubesse o nome dela. Nem isso eu sabia e é claro que não iria perguntar, também.

Foi aí então que me veio à mente uma das mais terríveis idéias que ela poderia ter me proporcionado, mas eu precisava saber, tinha que desvendar os sonhos dela. Logo que cheguei em casa, liguei para Rafael contando todo o acontecido do dia.

– Cosme?

– Quem é? – respondeu ele com uma voz de sono

– Sou eu.

– Eu quem?

– Estou apaixonado. Por uma colega nova. Ela é linda, Cosme, precisas ver. Tem um cabelo escuro escorrido lindíssimo, olhos igualmente lindos, sem falar da sua baixa estatura.

– Olha, acho que tu ligou pro número errado, aqui não é de nenhum daqueles programas de rádio que os locutores te dão dicas para relacionamentos.

– Não, seu bobo, é contigo mesmo!

– Deve ser com meu pai, ele é Cosme também. Rodrigo Cosme.

– Se tu não fosses meu único amigo, eu juro que te partia a cara, Rafael Cosme!

– Ah, é tu, Vitinho.

– Sim.

– Mas me fale mais dessa menina, qual o nome dela?

– Não sei, ainda.

– E já está apaixonado? Poxa.

– Paixão à primeira vista, bobo, ela é linda, tens que conhecer ela amanhã.

– Certamente, irei à aula amanhã.

– Ótimo. Assim poderemos montar nosso plano.

Nosso? Tô fora, Vitinho!

– Eu preciso descobrir o que ela anda sonhando.

– Esta máquina está te enlouquecendo, Vítor!

Senti gravidade na última frase de Rafael. Desde o meu aniversário de dez anos, ele nunca me chamou de Vítor. Mas não dei muita importância, só tinha mente para ela, a menina dos meus olhos, aquela que eu sonho ter uma vida junto, filhos, casa e tudo que temos direito. Eu só precisava descobrir o nome dela, para que, assim, pudesse invadir seus sonhos. Era por isso que eu precisava de Cosme.

Acordei naquela terça-feira cansado e com dor nas costas. Mas eu tinha que ir para a aula, precisava convencer Rafael de perguntar qual o nome dela. No intervalo, pude finalmente conversar com ele e tentar arranjar um jeito de pedir para que ele perguntasse qual era a graça da tal moça, pois ele sempre foi mais solto que eu, sempre fui mais tímido, e não teria coragem de falar com ela. Apenas nos sonhos.

– Não vou, Vitinho, já falei!

– Eu preciso de ti, Cosme!

– Em dez anos de amizade, sempre fui fiel a ti, e tu também foste comigo, não podes quebrar esta corrente, sabes que só tenho a ti para contar!

– Se é para a felicidade da nossa amizade, eu digo que pergunto.

– Eu sabia que podia contar contigo! Muito obrigado, meu amigo!

– Fala aí, como vou fazer isso?

– Simples, agora na aula de matemática, ela vai estar sozinha, pois ainda não fez amiga alguma, então tu vais propor fazer uma parceria para efetuar os exercícios. Nesse meio tempo, certamente vais descobrir o nome da bela.

– Isso não vai dar certo, no fim tu vai te dar mal, Vitinho! Mas tudo bem, eu farei tudo isso.

– Muito obrigado!

Quando chegou a aula de matemática, fiquei muito apreensivo para a hora de efetuar os exercícios, para que finalmente Rafael perguntasse o nome da garota. E não demorou muito para chegar os cálculos da aula.

– Podem se sentar em duplas para efetuar o trabalho – disse a professora, para a minha felicidade.

– Ei, notei que tu está sem dupla para fazer o trabalho, se quiser pode fazer comigo! – disse Rafael, para meu alívio.

– Ah, tudo bem, eu não estou entendendo muito bem a matéria mesmo, vai ser melhor.

– Ótimo. Qual seu nome mesmo?

3 comments:

  1. Anonymous3:21 PM

    tani says (19:04):
    adorei, adorei
    tani says (19:04):
    mas to tão agitada que não sei o que comentar
    tani says (19:04):
    mas comentarei
    D. Leon says (19:04):
    comenta
    D. Leon says (19:04):
    se não comentar
    D. Leon says (19:04):
    te mato
    D. Leon says (19:04):
    e tu não vai conhecer são paulo, muito menos como é morar sozinha

    mimimi
    leon, leon, tu és uma lisbelinha mesmo, meu querido.
    lindo o texto.
    e... tu evoluiu. em todos os sentidos.

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  2. Anonymous4:05 PM

    ba ba adorei!
    adoro tuas histórias!
    cada vez melhores.


    hey hey! passem por aqui pessoal!

    bjo leon

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  3. Ótimo texto! Curiosa para saber o nome da garota *_*
    Queria que alguém visse meus sonhos com uma máquina dessas. Tá, tem sonhos proibidos, mas tem um, que eu enrolo pessoas em panos brancos, amarro elas, giro e jogo pela janela!

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