Tuesday, December 25, 2012

Morte


A morte é a pior coisa que existe. E digo a morte como a do tarô, com vários significados, todos eles arrasadores. As pessoas que dizem considerar a morte algo bonito, ou não estão com ela as rondando ou estão tentando amaciá-la. A morte é feia e malcheirosa. A morte dá vontade de morrer e só ressuscitar quando o mundo for bonito novamente.
Mas a morte também é como um parente chato que inventou estar com saudades apenas para passar uma semana na sua casa de praia. Você não pode negá-la. Não pode ignorá-la. Não pode expulsá-la por ela ser inconveniente. Tem de aguentar o seu cheiro podre. Tem que aguentá-la palitando os dentes após o almoço.
A partir do momento em que você se propôs a ter uma casa na praia, automaticamente se propôs a receber o parente indesejável.
Aí você se prepara psicologicamente para recebê-lo. Tenta relaxar, vou ter que passar por isso mais dia menos dia, que seja agora. Mas lá no fundo (e não tão fundo assim) ainda há a esperança de que ele não venha. O carro pode quebrar no caminho. Mudou de ideia. Tenta amenizar o sofrimento com toda essa preparação, mas na hora que ele chega é tudo inútil.
Você desaba. 

Tuesday, December 11, 2012

Uma manhã sem luz


Faltou luz aqui no trabalho. Oh, olha só, uma caneta, vamos tentar escrever alguma coisa.
Essa falta de luz veio em um bom momento, como quando no Orkut por uma bela surpresa o amor da sua vida visualizava o seu perfil e aquilo dava uma alegria inesperada capaz de durar umas duas semanas. Como na única vez em que aquela menina bonita, dona de uma cor de pele que autoriza o bom uso do batom, me respondeu no Facebook,  uma pena agora ela apenas visualizar minhas mensagens e nem me chamar de chato indiretamente dizendo que ela também é chata.
Por favor, moça bonita, me dê uma luz, ilumina minha vida, já que meu trabalho está numa escuridão só. Ser de luz própria que és, venha nos iluminar, ou melhor, não venha, que é para eu poder continuar a escrever minhas bobagens sobre ti só pelo prazer de ver a caneta deslizando, poucas esperanças que tenho de te convencer a sorrir pra mim como sorriu no dia em que nos conhecemos, de pegar tua mão macia e fingir dançar, como no dia em que nos conhecemos.
Ah, mocinha, me ensina das coisas de Goiás, me explica a diferença entre o sotaque de lá e o de Minas, me explica o porquê de JK não ter transformado Goiânia em capital do país ao invés de gastar aquela nota toda construindo uma cidade do nada ali do lado e colocando o breguíssimo nome de “Brasília”, me explica o porquê de os goianos formarem tantas duplas sertanejas se em Goiás nem ao menos tem sertão. Me explica como o Atlético Goianiense conseguiu subir meteoricamente para a primeira divisão, me explica o caso Carlinhos Cachoeira na visão dos goianos, que elegem a direita há tanto tempo e, finalmente, me explica o porquê de não gostar de mim, se temos tanto em comum de acordo com as coisas que curtimos no Facebook.
Acabaram de ligar para o chefe, que no momento está em Porto Alegre. Ele disse que não, não podemos ir para casa, que temos que continuar “trabalhando” coisa e tal. Acho que os outros funcionários irão organizar uma espécie de motim, algo como dormir durante toda a tarde. Acho que vou convencê-los a fazerem o mesmo para acabar com essa tua indiferença em relação a mim. Com a falta de luz que assola minha manhã e minhas pretensões de passar uma tarde inteirinha te fazendo cafuné, as pessoas aqui do lugar onde eu trabalho começaram a fofocar loucamente. Em questão de meia hora eu já sei desde as incompetências de uma tal de Marli até o nome do próximo Secretário de Educação da cidade. Parece um pouco piada, mas agora eles começaram a falar sobre  Sessão da Tarde. Não que seja ruim, eu adoro Sessão da Tarde. Passar aquela uma hora e meia vendo filme ruim e comendo besteira está entre as minhas 15 melhores coisas do mundo, logo atrás de usar pela primeira vez uma meia que acabei de comprar.
Vamos um dia, moreninha, passar a tarde toda vendo filme ruim e comendo besteira? “O Amor é Cego” e bolacha Maria com margarina. “Lagoa Azul” e marshmallows. Qualquer filme com o Eddie Murphy e Doritos. “Esqueceram de mim” e dois potes de pipoca com manteiga. Vamos fazer um filme ruim nós mesmos e não mostrar a ninguém . Um filme sobre uma mulher iluminada que aparece de repente e ilumina uma cidade inteira, sem luz há muito tempo. “A Moreninha Iluminada”, e aí assim, não mais que de repente, surja “A Moreninha Iluminada – O Retorno”.
Estão me avisando aqui que, finalmente, chegou a minha hora de ir embora. Ainda bem, pois estou louco de fome. Mas mesmo assim uma pena, logo agora que eu forçaria uma poesia fazendo uma metáfora entre a luz do sol que me aquece e me ilumina nessa manhã escura e o momento em que aceitaste minha tentativa e me deste a mão, blablablá, nada que eu já não tenha dito umas cem vezes durante esse texto construído durante uma manhã inteira. Vou me embora, prenda minha. Vou para a casa.
Espero que lá tenha luz.
Espero um dia “dançar” contigo novamente.
E a luz se fará assim.
Ponto Final.

Friday, December 07, 2012

Para a moça que me acha um pé no saco


Te conheci esses dias, moça lá do estado que eu não tinha muita simpatia, mas que agora por tua causa eu até que gosto. Parecia legal, parecia bonita, eu já estava meio bêbado mesmo, fui lá falar. Riste das besteiras que eu falei, respondeste algumas outras, mas deu pra ver claramente uma coisa muito triste: Me achaste um pé no saco. Para a tua sorte, já que é uma glória me ter como conhecido, pessoa futuramente muito rica e dona de uma capacidade intelectual invejável que serei, eu não me dou por vencido de primeira, como tu podes ver por esse outro texto que eu fiz em uma situação bem semelhante e que, se interessa saber, foi revertida pela minha graça, minha fofura e acho que devo um pouco ao meu perfume também.

Na bem verdade, se tivesses me ignorado completamente (tá, como fez no facebook esses dias), recusado minha solicitação de casamento no facebook ou ainda não dado risadas lindas do meu besteirol, eu teria desistido fáci fácil. Porque não seria o caso de tu me achares chato. Seria o caso de tu quereres a minha morte e eu realmente espero que essa não seja a verdade. Tu queres que eu morra? Se tivesses um pedido a fazer seria que eu caísse ali, durinho, no salão da festa? Irias ao meu enterro? Levarias flores? Acho que vou simular a minha própria morte para ver se tu te importarias.

Dançar realmente é uma arte muito complicada. Tem que fazer vários movimentos ao mesmo tempo, com várias partes do corpo e ainda tem que olhar para a outra pessoa. Realmente, tens razão. Eu mesmo sou um cara inteligentíssimo, cheio de talentos e não sei dançar. Sou meio duro. Um amigo, grande pé-de-valsa, certa vez tentou ensinar a mim e a outro amigo essa grande arte que é se mexer e isso ser aclamado pelas outras pessoas.  Era ensino médio, a gente era meio feio e precisava de alguma coisa pras guriazinhas gostarem da gente. Como pudeste perceber no dia em que te conheci, não deu muito certo.

Mas eu tentei. Eu sempre tento. Mais ou menos como a última coisa que eu te disse no facebook e que obtive resposta: O homem não sabia ler, não sabia escrever, não sabia fazer batata frita, mas em determinado ponto da sua história pensou: Cara, dá pra tentar isso aí.
Eu vou tentando.

Tuesday, November 27, 2012

Encomendas do Solstício

Olá!

Talvez vocês não saibam, porque eu não tenho muito senso de marketing, mas eu escrevi um livro com as coisas que eu publiquei aqui ao longo dos anos e mais algumas outras. Ele se chama Solstício, tem ilustrações da Patrícia Lindoso e foi lançado na Feira do Livro de Pelotas desse ano. Se tu, que estás lendo essa palavra agora, tiveres interesse em encomendar um (ou cem) exemplares, é só mandar e-mail pra queremossolsticio@gmail.com.

Obrigado!

Tuesday, October 16, 2012

Palhetas


Quando um quarto está todo bagunçado, com roupas espalhadas, cadernos revirados, gavetas abertas, gavetas que não abrem, é difícil achar algo que é ou era importante. É difícil achar no meio de tanta coisa bagunçada. Será que deixei no armário? Não foi debaixo da cama? Aí a gente esquece, nem que seja por um tempo. Depois aparece, assim de repente, quando eu não estiver mais procurando.
Acontece muito com palhetas. A verdade é que não existe um universo paralelo para onde elas – e também as borrachas – vão para serem felizes aproveitando a liberdade que lhes foi concedida após ultrapassarem a fina barreira que separa o mundo real do mundo das palhetas e das borrachas. A verdade é que elas ficam sempre lá. Escondidas no meio de um sofá, escondidas dentro de gavetas, esperando o momento em que alguém decide tomar a frente da situação e limpar tudo até, assim de repente, encontrá-las. Elas ficam lá, pedindo socorro antes que aconteça a tragédia de outro alguém varrê-las e, aí sim, elas sumirem para sempre.
Também pode acontecer de elas padecerem a essa espera. Pode acontecer de uma pessoa sentar em cima da palheta perdida e aí, depois da arrumação que se faz no quarto, ela ser achada quebrada no meio, tornando-se totalmente inutilizável. Nesse ponto da história das palhetas pode ser que exista outro mundo. Uma espécie de céu das palhetas, onde aquelas que se cansaram demais durante a vida, ou simplesmente caíram no esquecimento, descansam eternamente. Mortinhas da silva, mas descansando.

Wednesday, September 19, 2012

Dona Cecília



Talvez Deus, um pouco cansado de escrever a história de tanta gente, tenha resolvido dar para Fernando Sabino a tarefa de roteirizar o 80º ano de Cecília Giménez. 

Em uma bela, ensolarada e provavelmente muito inspirada tarde espanhola, a devota senhora resolveu restaurar a pintura Ecce Commo, retrato de Jesus Cristo feito na década de 30 por Elías García Martínez.  Confiando em seu talento, ela já pintava vasos de flores em casa, não tinha como dar muito errado, os responsáveis pela obra autorizaram. Vai lá, dona Cecília. Dona Cecília foi.

Quando toco violão em casa, preparo uma apresentação em casa, falo comigo mesmo em casa, sou incrível. Não tem quem seja melhor do que eu. Quando faço todas essas tarefas em público sou mais tosco que Sérgio Mallandro. Acho que foi isso que aconteceu. Seus vasos de flor, cestas de frutas, casas e ruas eram incríveis, mas, quando caiu a ficha da responsabilidade que seria restaurar uma obra tão importante como o Ecce Commo, a aposentada espanhola gelou. Católica, tentou rezar, mas Deus estava um pouco cansado de escrever a história de tanta gente, “agora não dá, dona Cecília”. 


Dona Cecília começou. Mão pesada. Braço trêmulo. Coração gelado. Até que não ficou ruim, dá pra continuar. Engole seco e vai, o tempo tá passando. Foi pintando e até ficou um pouco mais confiante, embora ainda gélida. O desenho do pergaminho ficou bom, nada mais pode dar errado, eu consigo. Mas, em um ato de puro impulso de alguém que está nervoso e erra até a pergunta de 5 mil no Show do Milhão, cometeu um erro gravíssimo. Apaixonada desde pequena pelos olhos ternos de Jesus Cristo, seu pastor e nada lhe faltará, resolveu desenhá-los antes de tudo. Qualquer pessoa que tenha uma pequena noção de desenho sabe que olhos, ainda mais que mãos, são a parte mais complicada na hora de desenhar. É preciso muita pesquisa prévia, é preciso muito cálculo e é preciso muito braço firme para um olho ficar perfeito. Por ser tão apaixonada pelos olhos de Cristo, dona Cecília se dedicou demais e, como acontece comigo, toda essa dedicação pressionou a senhora. Mas e se não ficar bom? E se Deus meu Senhor não gostar? Errou a mão.


Quando viu que não havia mais como consertar, dona Cecília passou por alguns estágios. O primeiro: Desespero. Não irei mais pro céu, ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus. Segundo: Raiva. Quer saber? Não quero mais pintar isso não significa nada sem os olhos lindos de meu Senhor vou me embora para a minha casa fazer um bolo e ficar com meus netos! Terceiro: Tristeza (daí o borrão na boca, dona Cecília chorou muito). Como pude fazer isso? Nunca faço nada direito mesmo, minha vida não serve pra nada. Viu sua história toda passar pela mente. 80 anos em um minuto. No meio daquela agonia toda surge uma luz. É Jesus Cristo, mas seus olhos já não parecem tão ternos. O Rei dos Reis se aproxima da espanhola e fala:

- Dona Cecília, o que foi que a senhora fez?
- F...F...Foi s...sem querer..er.
- Foi sem querer que Eu descobri o dom de caminhar sobre as águas. A senhora por acaso caminhou sobre as águas nesta pintura?
- N..Não, senhor.
- A senhora nem ao menos nadou sobre as águas.
- Mil perdões, meu Senhor, mil perdões.
- Pensarei em teu caso.

E dali Jesus Cristo se foi novamente em direção à luz. Dona Cecília resolveu ir pra casa descansar um pouco.


Quando acordou, rezou, tomou seu café e foi ver televisão. Se viu. Se desesperou. O mundo inteiro já estava sabendo daquela idiossincrasia que cometera. Resolveu que não sairia de casa nunca mais, esperaria o juízo final sentada em seu sofá rezando pela redenção de seu Senhor Jesus Cristo. Botaria até um vasinho de flor em cima da mesa para esperá-lo.


Um dia, então, sua vizinha veio trazer-lhe a informação: As visitas na igreja onde está o Ecce Commo restaurado aumentaram em uma proporção que só Deus sabe fazer a conta. Antes recebendo média de 400 visitantes durante todos os verões passados, depois da restauração de dona Cecília foram cerca de 30 mil. A igreja inclusive já planeja ganhar dinheiro, ou como estão chamando, "donativos" com o sucesso da sua restauração. Aí atacou os nervos. Mão Pesada. Braço Trêmulo. Coração gelado.

Sunday, August 12, 2012

Gentileza



O universo deve mesmo ser algo muito pequeno. Isso porque é preciso achar uma maneira de entender porque até os melhores seres, aqueles que facilmente teriam cargo vitalício por aqui, um dia partem. Partem porque o universo, além de muito pequeno, deve ser muito democrático e por, infelizmente, ter estas duas características, precisa constantemente ser renovado. Partem porque – ainda bem – a fila dos melhores seres que querem fazer parte do universo é gigante. Partem porque são gigantes e ocupam muito espaço em um algo que deve mesmo ser muito pequeno. E aí, gentilmente, cedem seus lugares para maravilhas novas fazerem cafuné na gente.  

Tuesday, July 31, 2012

Superpoder


Era uma vez um menino. Era uma vez um menino que sabia voar. Não necessariamente era um menino que queria voar. Ele só sabia. Também não era um voar estilo Super-Homem, com uma capa imponente, tampouco estilo anjo, com asas. Ele só sabia.
O menino usava esse “superpoder” quando julgava necessário – dentro do seu entendimento de necessário, coisa que vai de pessoa pra pessoa, de cachorro pra cachorro, de margarida pra margarida. Ele julgava necessário voar quando se sentia ameaçado. O que não acontecia lá muito, criança tranquila que era. Veja você que era exatamente essa tranquilidade que o fazia ser considerado ameaça e, por consequência, se sentir ameaçado. Os demais meninos, ao o verem daquela forma, não entendiam. Como alguém conseguia segurar tanta paz nas costas? O menino jogava bolinha de gude, claro, mas caso perdia – e isto acontecia bastante – não se importava lá muito. Também não tentava tirar proveito dos meninos menos habilidosos, chamando-os para duelos apenas para ganhar suas bolinhas. “Para que irei excluí-los da brincadeira?”, dizia. E era aí que os meninos partiam para cima. E era aí que o menino voava. Voava direto para a padaria ao lado do colégio e lá ficava, comendo bomba de chocolate.
Mais pra frente, quando o menino já amava as meninas, a sua tranquilidade continuava a lhe trazer problemas. Não que vivesse sempre em banho-maria. Era um menino de bastante atitude e borogodó. O que incomodava as meninas era a tranquilidade dele perante a sociedade. Certa vez perdeu uma namorada por ter lhe tascado um beijo apaixonado dentro de um elevador lotado. Outra por não ter lhe tascado um beijo apaixonado dentro de um elevador lotado. Mas não se importava muito. Quando um relacionamento começava a não valer mais a pena o menino simplesmente levantava voo. Voava pra casa e lá ficava até que desse vontade de sair de novo.
Não apenas no que dizia respeito ao lado afetivo, o menino cumpria este ritual em tudo na vida. De conversas triviais, onde para os amigos sempre foi uma grande dúvida se era a embriaguez que já estava alta ou se um amigo havia levantado voo ali diante de seus olhos, até no âmbito profissional. Não conseguia parar em emprego algum, pois assim que as tarefas não lhe eram mais interessantes ele levantava voo. Ali, de terno mesmo.
Até que ficou velho. E aí ficou mais velho, até que, tranquilamente,  levantou voo em direção a... Na verdade desta última vez não sei para onde o menino foi. Sei que foi. Mas eu também podia estar embriagado.

Thursday, July 12, 2012

Eu só queria dar umas risadas


Esse texto tem spoiler da 7ª temporada de How I Met Your Mother. Ou eu Inventei tudo.

Vocês não odeiam quando se preparam para uma coisa esperando só dar risada e ela acaba emocionando? Sei lá, como quando eu baixo um episódio de How I Met Your Mother e ele é sobre a Robin não poder ter filhos. Minha internet anda meio lenta, então eu espero mais ou menos uma hora para um episódio em 720p terminar de baixar. Depois que essa parte se conclui, eu vasculho a casa inteira atrás de um pen-drive para passar o arquivo pra TV da sala, onde me sento, me tapo, pego comida e a minha gata sobe pra tentar pegar a comida de mim.

Enfim dou o play, já exercitando a mandíbula para as risadas. Quando desligo a TV vem nó na garganta. Pô, não era isso que eu queria. Fiz essa burocracia toda porque às 02:14 da manhã eu queria dar umas risadas. Se fosse um domingo às 21h eu ia querer sofrer vendo Melancholia ou algo do gênero, mas hoje, às 02:14, eu queria dar umas risadas. Nada contra colocarem esse drama na série, acho que enriqueceu a personagem, blablabla. Até o Chaplin colocava pitadas de drama nos seus filmes, a questão não é nessa. Sei que drama embonifica as coisas, mas, com o perdão do egoísmo, às 02:14 da manhã eu queria dar umas risadas! Saca quando a tua alma tá com o (insira aqui o nome do músculo entre a bochecha e a boca) dolorido de tanto rir, mas tu queres colocar isso pra fora? Então, era mais ou menos isso. Eu queria usar o How I Met Your Mother como um meio para transferir as risadas da minha alma para o meu corpo. Não queria passar horas e horas pensando o quão triste deve ser para as mulheres reais passarem por essa situação, se também tem amigos tão gente fina quanto os da Robin, às 02:14 da manhã eu queria dar umas risadas!

Me crucifiquem, me chamem de simplório, inventem adjetivos pejorativos para mim, mas, principalmente nestes últimos meses, em que meu coraçãozinho tá descansando numa rede, a diversão é o que tem sustentado a minha graça. Não é que eu esteja cheio de nãometoques emocionais. É que, cara, às 02:14 da manhã o que eu quero mesmo é dar umas risadas.

Tuesday, July 10, 2012

Por um mundo com os olhos de Alison Brie

Eu tenho uma teoria. 




Sei que acaba ficando monótono escrever um texto inteirinho só sobre uma única pessoa, mas acredito que se todo mundo tivesse acesso aos olhos de Alison Brie os problemas do universo todos se extinguiriam. Não digo só os problemas que surgiram depois que ela nasceu.



Acho que se realmente existisse um Deus, esses olhos teriam sido as primeiras coisas a serem inventadas. Eva seria Alison Brie. Imagina se Caim, vendo os olhos azuis de sua mãe, teria a ideia cruel e seca de matar o próprio irmão. Daí por diante. Sei lá, vamos pegar ali a Idade Média. Quem precisaria da Igreja? Ou, se por um desvio da humanidade ela tivesse sido criada, quem contestaria a teoria da Igreja de que aquilo só poderia ter sido criado por um ser superior? Dois olhos lindos daquele jeito, formados assim, ao acaso? Não, impossível. Avancemos. Por que Hitler teria todo aquele ódio todo no coração se Alison Brie franze a testa fazendo uma cara de séria que dá vontade de rir e apertar? O Capitalismo seria baseado em pessoas querendo ter mais Alison Brie para si, mas para que mais Alison Brie para si? Aqueles olhos são como açúcar. Na dose certa é a perfeição. Não tem motivo para ter mais. Pensem em quantos problemas isso evitaria. Muro de Berlin, fome na África, Terrorismo (ori e ocidental). Por que diabos políticos haveriam de roubar dinheiro, se já teriam os olhos de Alison Brie? 

E os países se invadindo em busca de petróleo? Imaginem que incrível seria o mundo se tivéssemos Alison Brie e não petróleo!

Tuesday, April 17, 2012

Beterraba




Quando a gente é criança é muito difícil gostar de coisa ruim. É complicado aceitar o fato de que beterraba tem gosto de terra, porém é rica em proteínas vitaminas potássio sódio fósforo cálcio zinco ferro manganês, mas, depois que o tempo passa – e a gente cresce – esquece-se do gosto ruim da beterraba, porque, afinal, a beterraba não existe pra ser saborosa. Ela tá ali pra fazer bem. Só que aí nós, os eternos insatisfeitos, dizemos que “fazer bem” é um lance relativo. E se importar com o que é relativo não tá aí pra fazer bem.


Wednesday, March 28, 2012

Millôr



A primeira vez que li Millôr Fernandes foi no banheiro. Me sentei, vi um livro fininho e resolvi que ele me acompanharia naquela jornada. E ali fiquei por um longo tempo após tê-la cumprido.

Millôr escrevia em 3D. E lá no tempo do guaraná com rolha. Escrevia verticalmente, característica sua, mas não se contentava; ia lá e colocava um desenhinho que deixava tudo 150%.

Aí todo mundo entendia. Todo mundo ria. Todo mundo ria porque Millôr foi o melhor humorista brasileiro. Todo mundo ria porque Millôr escrevia do jeito que queria e do jeito que todo mundo queria. Não dava para – e nem precisava – e que história é essa de passado? - não dá para – e nem é preciso – saber se Millôr diz “entendeu ou quer que eu desenhe?” ou “entendeu ou quer que eu escreva?”.

Em uma época em que se discute tanto a liberdade do humor, vemos Millôr, o velho Millôr, ser tão livre que perfura sem perfurar. Bater, esconder a mão, mas deixar o cotovelo de fora. Muito maior do que correto ou incorreto, o humor millorista é natural. Agora ele vai lá encontrar outros seres tão livres quanto. Vai encontrar o grande mentecapto, Stanislaw e quem mais ele quiser.

Tuesday, March 20, 2012

nos

quando me deixaste, quis eu morrer de um jeito bem Tomás Antônio Gonzaga, mas pior ainda, porque sou um cara da cidade e não sei tirar leite de vaca, depois te deixei, quis eu morrer de nervosismo, sem saber direito se estava fazendo o certo, como quando se escolhe tomar leite com Nescau ao invés de Coca e na hora não há Nescau o suficiente, só pra um golinho e me deixaste de novo, ficando eu inconsolável, querendo eu morrer por ter escolhido o leite ao invés do refrigerante, mas agora tentei eu pegar tua mão tentaste tu fugir não conseguimos nós ficarmos juntos tentaram outras pessoas nos conquistar conseguiu ela o meu apreço e agora quer o mundo deixar tudo em paz e quer a paz nos deixar.

Monday, February 20, 2012

Cílios

O mundo, infelizmente, é um troço muito grande. E, para o enriquecimento das ironias do universo, quando um cílio, infinitamente menor do que a Terra, cai em um olho, Deus do céu, o ser humano não consegue ficar quieto – no seu canto. Eu, que tenho olhos grandes, já sofri com muitos cílios-sorrisos. Com muitos cílios-corpos. Cílios-olhos. Coça daqui, assopra dali, pede ajuda pra qualquer estranho que aparece pela frente, mas, mesmo que o assopro funcione, mesmo que cavoucar o globo ocular traga bons resultados, o olho ainda dói. E dói mais do que a coceira causada pelo cílio rebelde. Mas incomoda menos.

Wednesday, February 08, 2012

Verão

cara, como eu amo o verão. depois de toda a função de correr pra organizar tudo, correr pra comprar passagem e correr pra pegar o ônibus, eu finalmente estou sentado na poltrona do Embaixador Pelotas-Cassino.

de repente adentra o carro aquilo que melhor traduz essa estação: uma morena com vestidinho largo e lilás. ah, quando uma morena de vestidinho largo e lilás adentra um ônibus que ruma à praia, olha, eu esqueço do suor, do mosquito, da dificuldade de dormir, da preguiça e até da dor de cabeça. até do calor periga eu esquecer. quando uma morena de vestidinho largo e lilás adentra um ônibus que ruma à praia, olha, eu só quero que alguma força sobrenatural faça com que ela deite comigo numa rede amarela e fique para-lá-para-cá ouvindo Novos Baianos. eu até aprendo a sambar mais direitinho, se uma moça dessas me pedir. essa moça de vestidinho largo e lilás, que eu nem conheço, pode me pedir pra comprar milho que eu compro. pode me pedir pra descascar inteirinho no sol que eu descasco. pode me pedir para surfar que eu... bem, eu aprendo. tudo isso porque ela é esse ventinho refrescante que chega de repente e transforma o verão por segundos.

agora eu desci do ônibus, ela também e eu vou seguí-la para descobrir onde está veraniando essa moça. será que ela está mais perto da praia ou da avenida? da Iemanjá ou do Navio? Mais tarde vou caminhar pela praia procurando por ela e pelas outras morenas de vestidinho largo e lilás.

Wednesday, January 11, 2012

Cais

À primeira vez em que fui ao Rio de Janeiro, decidi: A carioca é a mulher que eu quero ter e que eu quero que me tenha. Não é... Talvez seja pela tal graça que os poetas dizem que elas têm, mas prefiro dizer que é pela leveza que elas vestem. É como se a água gelada das praias de lá servisse como um ritual que separa as meninas das mulheres e só a carioca, por conviver com aquele gelo todo, fosse mulher de verdade.

A mulher do Rio quando fala Vasco, cais do porto, ou simplesmente cais, ou simplesmente porto, ou simplesmente Rio é como uma cuíca: É um lance que tu não descansas até entender como funciona, mas a cuíca, quando desvendada, é apenas um esfrega-esfrega danado que faz um barulhinho bacana. As cariocas são um esfrega-esfrega danado que faz um barulhinho bacana também, mas eu nunca me atrevo a dizer que elas são "apenas" algo.
Elas são sempre o algo incrementado.

Tuesday, January 03, 2012

Horóscopo

Morena dos olhos azuis azuis, saibas que eu não acredito em horóscopo. Acho uma besteira a gente viver nossas vidas de acordo com a posição de umas coisas, mas, depois que descobri que somos nós dois do mesmo signo, olha, eu não consigo ficar um dia sem ler aquelas baboseiras que escrevem nos jornais.

Nessa semana teremos influências da Lua crescente no signo de Áries e Mercúrio em quadratura com Marte, ambos trazendo impulsividade e muita agitação nas comunicações e eu não tenho ideia de o que isso significa, mas acho que quer dizer que ficaremos juntos para sempre. Se bem que numa dessas imagens que compartilham no Facebook diz que Peixes com Peixes não dá certo, porque é um signo muito intimista e bláblá. Ora, quem eles pensam que são para darem uma definição na lata dessas? Eu acho que nós dois, um do lado do outro, daria certo e, se tu achares também, pode haver um milhão de compartilhamentos que nenhuma imagem de rede social vai nos separar. Tu achas? Voltemos às previsões para a semana. Diz aqui que na sexta possivelmente haverá indisposições entre as pessoas e clima de individualismo nos grupos de trabalho. Bem, eu estou de férias, então toma cuidado por aí! Deixa eu ver aqui... Ah! Sábado terá Mercúrio em sextil com Saturno e Netuno e parece que isso, aliado a aspectos da lua no signo de Gêmeos, significa que o fim de semana será bom para encontros amorosos. Uma pena não estarmos perto!

Mas olha, morena dos olhos azuis azuis, se por acaso algum dia lermos no jornal que o horóscopo diz para nos separarmos, deixemos essa coisa de zodíaco para os cavaleiros. Façamos nós mesmos o nosso próprio mapa astral. Leste, oeste, norte, sul, felicidade em qualquer ponto. Leste, oeste, norte, sul, amor em qualquer ponto. Glub, glub, glub, glub dois peixinhos nadando tranquilamente em qualquer ponto.

Desce o mapa astral e geográfico, vem logo pra perto.