Tuesday, July 31, 2012

Superpoder


Era uma vez um menino. Era uma vez um menino que sabia voar. Não necessariamente era um menino que queria voar. Ele só sabia. Também não era um voar estilo Super-Homem, com uma capa imponente, tampouco estilo anjo, com asas. Ele só sabia.
O menino usava esse “superpoder” quando julgava necessário – dentro do seu entendimento de necessário, coisa que vai de pessoa pra pessoa, de cachorro pra cachorro, de margarida pra margarida. Ele julgava necessário voar quando se sentia ameaçado. O que não acontecia lá muito, criança tranquila que era. Veja você que era exatamente essa tranquilidade que o fazia ser considerado ameaça e, por consequência, se sentir ameaçado. Os demais meninos, ao o verem daquela forma, não entendiam. Como alguém conseguia segurar tanta paz nas costas? O menino jogava bolinha de gude, claro, mas caso perdia – e isto acontecia bastante – não se importava lá muito. Também não tentava tirar proveito dos meninos menos habilidosos, chamando-os para duelos apenas para ganhar suas bolinhas. “Para que irei excluí-los da brincadeira?”, dizia. E era aí que os meninos partiam para cima. E era aí que o menino voava. Voava direto para a padaria ao lado do colégio e lá ficava, comendo bomba de chocolate.
Mais pra frente, quando o menino já amava as meninas, a sua tranquilidade continuava a lhe trazer problemas. Não que vivesse sempre em banho-maria. Era um menino de bastante atitude e borogodó. O que incomodava as meninas era a tranquilidade dele perante a sociedade. Certa vez perdeu uma namorada por ter lhe tascado um beijo apaixonado dentro de um elevador lotado. Outra por não ter lhe tascado um beijo apaixonado dentro de um elevador lotado. Mas não se importava muito. Quando um relacionamento começava a não valer mais a pena o menino simplesmente levantava voo. Voava pra casa e lá ficava até que desse vontade de sair de novo.
Não apenas no que dizia respeito ao lado afetivo, o menino cumpria este ritual em tudo na vida. De conversas triviais, onde para os amigos sempre foi uma grande dúvida se era a embriaguez que já estava alta ou se um amigo havia levantado voo ali diante de seus olhos, até no âmbito profissional. Não conseguia parar em emprego algum, pois assim que as tarefas não lhe eram mais interessantes ele levantava voo. Ali, de terno mesmo.
Até que ficou velho. E aí ficou mais velho, até que, tranquilamente,  levantou voo em direção a... Na verdade desta última vez não sei para onde o menino foi. Sei que foi. Mas eu também podia estar embriagado.

5 comments:

  1. Anonymous12:32 PM

    um simples comentário não seria suficiente. mas deixo aqui explícito que gosto muito da maneira que tu escreves :)

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  2. Anonymous7:50 PM

    já eu acho extremamente forçado. sempre cheio das frescurites, seus textos parecem lojas de perfume de tão superficiais e floreados.

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  3. Guilherme9:49 AM

    Suponho que o amigo logo acima tenha sido já contextualizado pela critiqueta de apartamento e esteja escondendo os bons critérios da escrita. Divulga para nós, por favor. A não ser que o camarada esteja ocupado demais escrevendo monografia acadêmica ou vendendo Jequiti. Vai cuidar da tua vida, homem.

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  4. Leon, abstrai o comentário anônimo acima porque a crítica é tão lamentável de argumentos que não vale a pena ser levada adiante. Simplesmente adorei o texto do início ao fim. Excelente, querido, mais uma vez!

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