Wednesday, December 17, 2008

Da Janela

Duca está olhando a vista da janela de seu apartamento. Abraça fortemente seu travesseiro, gosta de fazer isso todas as noites. Sente uma paz de espírito sem igual quando olha, no prédio em frente, uma janela com luzes acesas. É como se pensasse “não estou sozinho”. Tenta adivinhar o que aquelas pessoas estão pensando e gosta de inventar histórias envolvendo-as. Dona Vitória, como chamou a moradora do 4º andar, perdera o marido dois anos atrás e até hoje os filhos a culpam pela morte do pai. Vê seriados de drama, procurando sempre achar alguém em uma situação pior que a sua. Passa a noite na frente da televisão. Marina, do 3º andar, está nessa noite montando delicadamente sua árvore de Natal. Cada detalhe é organizado meticulosamente. Faz isso para ocupar no coração o espaço deixado por um amor não correspondido. Gosta de comer tortas de pêssego e de ler livros os quais Duca nunca consegue descobrir quais.
Enquanto abraça fortemente seu travesseiro, o jovem também gosta de ver carros passando pela sua rua. Tão forte é sua imaginação, que tenta descobrir para que lugar os veículos se dirigem. Carlos Roberto dirige um Ford Fiesta de cor preta. É um promotor de justiça e está, nesse momento, se dirigindo para a casa de sua amante e, em casa, deixa uma mulher e quatro filhos. Como se fosse um castigo divino, o homem temseu carro e sua vida acabadas naquele segundo.
Carlos Eduardo, mais conhecido como Duca, mora em um prédio em frente ao meu. Gosta de abraçar fortemente seu travesseiro. Sente uma paz de espírito sem igual quando olha, no prédio em frente, uma janela com luzes acesas. É como se pensasse “não estou sozinho”. Quem sou eu? Gabriela, moro no 3º andar, gosto de comer tortas de pêssego e ler livros os quais ele nunca conseguiu identificar quais são. Tenho uma vizinha idosa chamada Vitória que não me deixa dormir com o barulho de sua televisão até altas horas. Já que, pelo visto, ela não irá desligar o aparelho tão cedo, acho que vou montar minha árvore de Natal.

Wednesday, December 10, 2008

Ponto Final

Ler ao som de Elephant Gun, do Beirut.


Antônio Luiz da Silveira Gonçalves tem oitenta e nove anos, três filhos e sete netos e está nesse momento sentado à frente de seu aparelho televisor quarenta e duas polegadas. Bebe cerveja e come amendoim. Troca de canal algumas vezes, até parar no canal cinqüenta e um de sua companhia de TV a cabo. São três horas da tarde de uma terça-feira, horário específico de programas antigos. Antônio tem, então, sua última crise existencial de sua existência. Dá alguns passos até seu quarto e, primeiramente, segura o retrato de sua falecida esposa, dona Rosinha, uma simpática senhora que teve sua vida dedicada à confecção de tortas. As primeiras lágrimas ganham liberdade no momento em que ele deixa o retrato sob o criado mudo. O senhor se dirige ao guarda-roupa, abre uma gaveta e pega uma pequena caixa antiga, feita de metal. Balança-a como se quisesse conferir se o que procura está mesmo ali. Sorri ao saber que sim, abre-a e começa a vasculhar: Era a caixa de recordações de sua infância. Antônio chora ao pensar que a morte se aproxima e a vida passa diante de seus olhos; desde o momento em que ganhou seu primeiro carrinho, o dia em que perdeu o mesmo em uma aposta e teve de pedir para seu pai resgatá-lo, passando pelo primeiro beijo, a primeira noite de amor, a entrada na faculdade, o dia em que conheceu Rosa Garcia Rodrigues, o ano em que perdeu o pai, o nascimento de seus três filhos e dos cinco netos. “Não fui útil em nada nesse mundo”, resmunga para si mesmo. De repente, sente a presença de algo. É a morte e ele sabe. Antônio pensa e morre sorrindo.
Vamos aos fatos:
Em 1930, Antônio Luiz da Silveira Gonçalves estava convencido a seguir a carreira de médico. Anda tranqüilamente pela Rua Dois quando, por acaso, olha em um poste a propaganda do curso de Medicina Veterinária. Naquele instante, nem o próprio Antônio conseguiu descrever a sensação de estar fazendo o certo. Conheceu Rosa Garcia na faculdade e teve um filho chamado Francisco Gonçalves Rodrigues, que depois veio a se casar com Antonieta Magalhães, cuja vontade era criar uma instituição de caridade. Os dois criaram a APV, Associação Pela Vida, responsável por achar a cura para o vírus da AIDS. Depois de muito trabalho, conseguiram a façanha desejada e muitas pessoas foram salvas pela descoberta do casal.
Por isso que Antônio Luiz da Silveira Gonçalves sorriu em seu leito de morte: Se não tivesse desistido da Medicina, não entraria no curso de Veterinária, logo, não conheceria dona Rosinha, por conseqüência, não seria pai de Francisco, que não teria conhecido a bela Antonieta, não nascendo, por tal, a APV, cujo objetivo não teria sido alcançado e milhares de pessoas ainda morreriam de AIDS no mundo.
É, seu Antônio, o essencial é invisível aos olhos.

Sunday, October 05, 2008

Canção de Ninar

Mal posso esperar o momento chegar. Sonho todos os dias (sem faltar nenhum) com teu nascimento, com a chegada tua e da minha alegria. Vou criar-te apelidos bobos, apertar-te de jeitos tolos e amar-te puramente. Vou acordar de madrugada com teu choro, música para meus ouvidos, e vou cantar-te até o sono, enfim, chegar-te. E te admirarei a noite inteira; tu dormindo e eu sorrindo na espera de um novo gesto meigo, puro e lindo.
Quando a manhã enfim chegar, para o trabalho irei com o pensamento em ti. Mal podendo esperar o momento de encontrar-te novamente, fico o tempo todo olhando o relógio, gritando para o tempo, pedindo que aquele danado passe mais rápido. Quando cresceres um pouco, serás a minha menininha, e eu te protegerei com minha vida. Quando ficares mais adulta – virando moça –, terei ciúmes de teus namorados e desejarei a morte de todos, mesmo sabendo que eles te farão feliz. Terei medo que me troque por eles e que façam de ti, uma menina mais feliz do que eu consegui fazer. Ao saber disso, me lançarás um sorriso rasgado e dirás que ninguém é mais importante e te faz mais feliz que eu mesmo, e eu notarei que a vida está passando. Logo, então, chegará teu casamento e eu estarei lá pra te levar até o homem que escolheste. Voltarei para a casa pensando: “minha menininha definitivamente cresceu”. Voltarei feliz. Voltarei para minha cama quente, recolherei meus cabelos grisalhos e, mais uma vez, gritarei com o danado do tempo, mas agora para que ele passe mais devagar. Vai, tempo, vai falar com a morte e pede para que ela tenha piedade desse velho pai que só quer passar mais tempo com sua filha. Mas e quem sou eu para pedir algo para a morte? Ela não respeitará nem o pedido do tempo, nem a mim. Um dia, chegará em meu quarto, bem de mansinho e dirá: “Vem, Fernando, tua filha ficará em boas mãos”. Falará de um jeito doce para que eu não chore, mas minha vida toda passará diante de meus olhos, se transformará em lágrimas e cairá diante do fim. Lá de cima, passarei o tempo (danado que não me deixa em paz) todo te observando, cada passo, cada gesto meigo, puro e lindo. Só, então, perceberei que nada mudou.

Friday, September 26, 2008

Da luta não me retiro

Não há um jogo sequer que o Brasil de Pelotas não dê emoção para nós, seus fiéis torcedores. O time luta e a torcida grita, tem sido assim em todos os jogos. Não foi fácil, por muitos momentos falamos mal dos atletas e vaiamos o time, mas no próximo segundo já aplaudindo e gritando o nome de cada um. O caminho até aqui não foi fácil e o que virá também não será, lutamos muito e não será agora que irão tirar-nos essa incrível força que nos move até o Bento Freitas a cada dia de espetáculo. Por muitos percalços já passamos, mas nunca pensamos em desistir e isso é ser torcedor Xavante. Isso é torcer por um time: Não deixar nunca que um resultado momentaneamente desfavorável venha resultar numa trágica desistência e é por essas e outras que estamos entre os oito. Agora Falta pouco.

Tuesday, September 02, 2008

Bicho-da-seda

Todos marcaram hora no salão de beleza, tomaram banho (inclusive João, que não gostava muito d’água) e até passaram perfume. Era o dia da foto da família e não havia um parente desarrumado, muito menos um móvel desarrumado na casa de Dona Rica.

Ana tentou mostrar seu penteado recém penteado, Carlos tentou não mostrar os dentes destruídos pelo cigarro, Natália usou do brilho de seus olhos e Gabriela precisou apenas de sua graça natural, assim apresentou-se e representou-se a terceira geração, os netos de Dona Rica. Tia Chiquinha lutou para esconder as rugas que a idade lhe dera, seu marido pareceu estar mais preocupado com ligações importantes do que o momento da foto. Maria de Lurdes e Rameu tentaram parecer um casal feliz e Ricardo e Solange tentaram parecer felizes, assim foi representada a segunda geração, os filhos de Dona Rica. A Matriarca não se importava com o visual e nem com o sentimento que passaria através da foto; Estava feliz e ponto. Estavam todos lá: Netos, filhos, noras, genros e até a fotografia do falecido Brigadeiro Matias.

Contrataram um fotógrafo de primeira, aquela seria a grande foto da família Matias Medeiros. Ana conseguiu mostrar o penteado, mas ele tapou metade de seu rosto. Natália piscou e só ficou sabendo do brilho de seus olhos quem conhecia a moça. Tia Chiquinha cansou de conter as rugas, elas apareceram e aquela mulher forte pareceu feliz. Maria de Lurdes e Rameu foram traídos por seus olhares e não manifestaram felicidade matrimonial. Carlos deixou um cigarro cair no chão, foi descoberto pelos pais e os três mostraram tristeza com os olhos e com os lábios. Mas foi uma bela foto; Gabriela exalou sua graça natural e Dona Rica soltou um belo sorriso, agarrada no Brigadeiro.

Quem tivesse um coração com bons pensamentos conseguiu perceber um sorriso no canto do rosto de Matias.

Saturday, August 09, 2008

Sonho parece verdade quando a gente esquece de acordar


Indescritível o momento e a emoção do show do Teatro Mágico. É algo que só vendo pra ver, com o perdão da redundância. Vendo os vídeos no youtube, eu imaginava ser fantástico, mas, ao assistir, vi que o fato de estar lá é realmente significante. A empolgação e a proximidade do público com a trupe são únicos. A leveza com que Gabi Veiga apresentava sua performance, fazendo com que ninguém desgrudasse os olhos do teto, iluminado pela luz natural da atriz circense, a simpatia dos instrumentistas, sempre jogando sorrisos para a platéia e arrancando outros e a energia transmitida por Fernando Anitelli permanecerão para sempre na memória de todos.
Depois de tão grandiosa experiência, me sinto um grande camarada d’água, um anjo bem mais velho, cidadão de papelão, mas também estou abaçaiado por ter que esperar mais um tempo indeterminado para sentir tudo de novo e não sei como será a primeira semana longe da trupe, porque, na verdade, o que eu queria era ter tudo isso pratododia.
Acreditem, caros leitores, sonho parece verdade quando a gente esquece de acordar.

Tuesday, July 08, 2008

Fogo Verde

Acordou bem cedinho como fazia há quatorze anos - até na hora de nascer foi maneira: insistiu muito em nascer junto com o sol, seis da manhã já estava gritando coisas aparentemente sem sentido -, saiu para caminhar ao lado dos pássaros que deram-lhe bom dia entusiasmados e ela respondeu a altura. Os olhos verdes e os cabelos cor de fogo davam-lhe um ar de moça nova e as poucas sardas, de menina tímida.

Foi para a escola cedinho como fazia desde os seis anos. Anotou tudinho em seu caderno rosa com plumas lilases. Assistiu o garoto de seus sonhos ser espancado em uma briga no colégio e ficou parada. Buscou algodão e água e limpou os ferimentos. “Estás bem?”, perguntou, “Agora contigo aqui estou.”, obteve como resposta. O garoto pegou-a pela mão e disse “Tu és a única que se importa comigo aqui.”, ela sorriu com os olhos e disse “Meu importamento vale por todos”. Ele levantou-se para beijá-la pela primeira vez na vida. Nunca havia sido tocada, o que fazer naquele momento tão ilustre? A vida toda passou em sua cabeça em um segundo, desde o primeiro momento de vida que lembra (ninguém lembra dos primeiros anos de vida, muito menos do momento em que nasceu). Como seria um beijo? O garoto beijaria bem? Seria nojento? Preferiu não fazer nada. O garoto encostou os tímidos lábios nos mais tímidos ainda da menina. Os dois fizeram careta no final, tiveram a mesma impressão ruim de primeiro beijo: Tinha gosto de cuspe. “Eu, eim, prefiro muito mais caminhar e ouvir o canto dos pássaros do que isso!”, pensou ela, “Eu, eim, prefiro muito mais os pokemons ou meus carrinhos do que isso!”, pensou ele. Andaram de mãos dadas pela escola inteira, dando “estalinhos”, nome que deram a tal ato com gosto de cuspe. Todos que viam faziam cara e sons de enojados.

Depois daquele dia, nunca mais acordou cedinho para ir caminhar ao lado dos pássaros, com a mão livre e nunca mais respondeu sozinha ao bom dia das aves. Agora ela o tinha ao seu lado. Depois despediram-se com um estalinho seguido de careta de nojo e ela foi à casa de uma amiga. Quando foi perguntada como foi a sensação de ser beijada, respondeu com firmeza: “Tem gosto de cuspe e eu prefiro andar com os pássaros, mas eu não quero nunca ficar sem tocar na mão dele por muito tempo.”

Thursday, May 01, 2008

Tava lendo os posts antigos. Não sei se eu fico feliz por ter melhorado, ou triste por os velhos serem tão ruins.

Tuesday, April 15, 2008

Prosopopéia

Era uma vez, uma mão. Andava pra lá e pra cá sempre presa a um braço muitas vezes maior. Não gostava daquilo, queria mesmo a tal liberdade, mas por pura preguiça decidiu que junto dele estava confortável, então ficaria ali mesmo. Assim não iria se cansar. Nem arriscar. Ficou, pois, colada com o braço. Perambulando pelo mundo afora sem direção alguma ela ia. E pensando em algum lugar melhor. Pensando se esse lugar existia.
Foi, então, num dia de frio e sol de outono. A mão passeava pelas ruas – grudada no braço – quando de repente (explosão) o braço se descuida e ela bate em uma mão feminina. Bem cuidada. Parecia uma daquelas balas que se vende junto com marshmallow, dava vontade de morder, aquela danada! Deu uma vontade de trombar de novo com ela. Mas como? No meio de tantas mãozinhas pequeninas, como ia achar aquela? Não precisou nem estalar os dedos. No outro dia estava lá ela. E no outro também. Só então resolveu tocá-la. Deixar uma colada na outra, como se tivesse medindo qual a maior. E não é que combinava?

Tuesday, April 08, 2008

Tinta branca colorida

E não ia ser assim mesmo? Caindo pelos cantos, caindo em prantos. Catando cantos. É cansativo, eu sei. Mas não estaria tudo fora do seu tempo? Tudo rápido. Tudo ríspido. E mais uma vez tu te recusas a me salvar. E mais uma vez eu fico esperando. Caindo pelos cantos. Só a prosa poética me faz companhia e faz tempo que não me responde. Onde? Para onde fugir? Têm vezes que as conseqüências sucumbem os frutos. É chato ser sarcástico com quem não se gosta. Bom mesmo é ser o que quiser. Bom mesmo é ser vivo. As cores foram junto com as balas de goma e nem avisaram quando voltariam. Riam, senhores, riam. Rima é para poucos. Poucos riem, muitos vêem e mais uma vez tu te recusas a me salvar. Mas e teus olhos? Por que continuam meus? Eu. Alguém pediria para ser eu? Eu padeço. Eu pareço. Eu mereço. Às vezes nem me conheço, mas sempre me reconheço. Tenho memória forte. Sei do abandono. Sei do sono e do consolo, mesmo que do último saiba pouco. Mas teus olhos ainda olham tímidos para mim. Tímidos maquiados. Mas não ficam melhores limpos? Ficam mais puros, o olhar fica ainda mais bonito e mais sincero. Mortal mero que sou, tenho opinião fraca. Tenho em mãos a faca e o medo de ferir. Medo de fazer rir. Medo de rir. Medo de ir.

Monday, March 24, 2008

Empréstimo

- Bom dia.
- Bom.
- O senhor queria um empréstimo, certo?
- Sim. Um empréstimo de Amor.
- Por quanto tempo?
- O tempo que for preciso. Seis meses ta mais que bom.
- Amor em que nível de afetividade?
- Estou carecido de um nível oito, o máximo.
- Com suspiros?
- Só os bons.
- Desenhos no caderno?
- Só os claros e coloridos.
- E quanto aos olhares?
- Quero aqueles em que os olhos brilham tanto que dá pra arrumar o cabelo olhando no fundo deles.
- Sorrisos também?
- Claro. Daqueles sinceros e lindos em que os olhos ficam parecendo pontes, bem curvadinhos.
- O senhor é bem exigente...
- Não é exigência. É carência.
- Entendo.
- E então, quando eu recebo meu Amor?
- Quando fizeres por merecer.
- Mas eu não sei me expressar, fico falando bobagem, sabe como é.
- Sei... Quer, então, um amor fácil?
- Fácil não é a palavra certa. Coisas fáceis são sem graça. Mas eu só aparento ser sem graça. Eu diria prático.
- Certo. É só preencher esses papéis aqui e tu terás teu Amor em breve!
- Passa pra cá, não vejo a hora de ter Amor em minha vida!
- Prontinho. Foi um prazer negociar com o senhor.
- O prazer foi todo meu!

Estou tão ansioso. Sempre quis um Amor em nível oito de afetividade!

- Oi, vem sempre aqui? Gosta de Los Hermanos?

Tuesday, February 12, 2008

Carta à remetente inexistente

Oi, querida que não existe. Estou mandando mais uma carta, na tentativa de ser pela primeira vez respondido, mesmo sabendo que será em vão. Só queria por alguns segundos pensar que não estou sozinho nessa. Por alguns segundos pensar que alguém recebe e lê essas cartas densas e chatas.
Como vai a tua vida aí nesse reino que não existe? Espero que esteja tudo bem, pois quando eu chegar por aí, quero que seja tudo perfeito. Não foi a toa que demorei esses meus vinte e cinco anos de vida construindo esse reino para que possamos viver nele quando a hora chegar. E como será boa nossa vida. Tudo nós teremos, querida. Tudo. Cada um de nós receberá um lápis mágico, que dará vida a tudo que desenharmos. E não tenhas medo, não. A vida será bala de goma, eu prometo.
Fico imaginando como és. Se com cabelos castanhos claros, olhos marcantes e sorriso lindo. Se é feliz, se fala muito ou pouco. Se não fala. Se tem ou não manias e, se tem, quais são elas. Qual o jeito de se vestir, o jeito de arrumar o cabelo de um jeito que fique o mais belo possível. Se gostaria mesmo de me conhecer, se é pequena, como eu sempre sonhei. Se tem os mesmos sonhos que eu. Se ronca à noite, se tem facilidade para dormir à noite. Do que gosta de comer. Se existe.
Despeço-me nessas últimas linhas desejando que tenhas uma ótima semana e avisando que já estou de malas prontas para minha partida. Ficaremos juntos para sempre nesse mundo bala de goma que eu criei para nós! Peço-te que me responda pela primeira vez, eu pularia de felicidade ao ver na minha caixa de correspondências a tua carta perfumada com teu cheiro doce.
Com carinho, um beijo do cara do rosto de bebê, que fala muito e dono do cabelo de vassoura bagunçada.

Saturday, February 09, 2008

O Sonho(Pesadelo)

- Vamos fugir?
- Fugir, Romeu?
- É, Julieta, fugir. Sumir daqui, ir pra um lugar que seja só nosso.
- E onde seria esse lugar?
- A lua é uma boa pedida, acha não?
- A lua é muito longe, Romeu!
- Com o nosso amor como meio de transporte, ela fica há duas quadras daqui, se a gente quiser.
- E como fazer isso?
- É só pensar.
- Endoideceu de vez, guri?
- Não fala mais nada. Só fecha os olhos e segura minha mão.
- Ta. E agora?
- Pensa em nós dois.
- Mas não é que tudo desapareceu? Não é que tá só nós dois aqui?
- E não é perfeito?
- É, sim, mais que perfeito. Queria pular pra dentro desse pensamento e não sair nunca mais dele.
- Terias coragem?
- Coragem de passar a vida toda abraçada contigo? E quem é que não teria?
- Então vamos... 1... 2... 3... Vai!
- Agora é isso aqui pra sempre?
- Não é um sonho?
- É sempre igual, não muda nunca?
- Tu que pediste assim, amor.
- Não que eu não queira. Mas um dia cansa, não é mesmo? E quando a gente tiver filhos?
- Filhos? Não. Tu escolheste só nós dois, ninguém mais.
- Mas ter filhos é meu sonho!
- Tu abriste mão de muitas coisas pra estar aqui hoje, inclusive de ter filhos.
- Eu quero voltar!
- Não tem como voltar, é pra sempre assim!
- E se eu me matar?
- Aí tu não vais ter nem a mim, nem aos outros!
- Não! Também não quero isso!
- Então pára de reclamar!
- Vamos parar de brigar, se a gente se separar, isso vai ser um inferno até o dia da morte de um de nós!
- Só há um jeito de algum de nós morrer. Se o outro quiser que o outro morra, isso fui eu que pedi.
- Mas então não termina nunca?
- Só no dia que algum de nós se encher da cara do outro.
- Tem de haver um jeito de voltar!
- Assim eu me sinto um pouquinho desprezado...
- Não é isso, amor. O problema não és tu, é a rotina de todos os dias fazer a mesma coisa!
- Mas é sempre fazer uma coisa que se gosta. É uma forma de não se fazer algo que não se goste!
- Mas será que tu não percebes que isso um dia vai fazer parte do grupo de coisas que não se gosta? Nem que seja daqui a trezentos anos!
- Me desculpa, Julieta. Só queria te fazer feliz.

Monday, January 14, 2008

Palavras

Ele acenou para ela, que não o viu. Tentou gritar, mas voz nenhuma saiu, como se todas as palavras quisessem deixá-lo sozinho naquele momento triste. E no que elas iam ajudar, não é mesmo? Melhor fugir antes que ele as jogasse longe. Voltou para a casa, murrou a porta do quarto, acordando os pais. Perguntaram o que havia acontecido, mas não respondeu. Apenas enfiou a cabeça no travesseiro macio e esperou o dia acabar.

O sol acordou depois dele. E de tão mal-humorado, Fernando nem bom dia deu ao astro-rei, que não se atreveu a reclamar. Vai que o garoto-homem fechasse a janela para ele de tanta raiva? Melhor não arriscar. Botou suas calças jeans, logo após calçou seus tênis all star verdes. Por último, enfiou em si uma camisa pólo de cor verde. Pegou suas chaves e saiu antes que alguém lhe entregasse algumas palavras, como se recusasse algum presente. Como se dissesse "Palavras? Quero não. Servem pra nada essas aí.". Caminhou alguns quarteirões e resolveu ligar. Mas que frases usar? Os verbos andavam tão contra ele ultimamente. Respirou fundo e não ligou. Viu que antes precisava fazer as pazes com as palavras. Pediu desculpas com vontade e foi atendido. "E nós lá conseguimos viver sem ti, menino?", disseram.

O telefone tocou pela primeira vez. Ela estava dormindo e não quis atender. "Quem é que tem a coragem de ligar uma hora dessas eim?". Tocou de novo. E ela foi atender.

- ESCUTE AQUI, SEJA LÁ QUEM VOCÊ SEJA, VOCÊ PENSA QUE PODE ME ACORDAR A ESSA HORA, É?
- Te acordei, foi? Desculpa.
- Ah, é você, Fernando. Tudo bem, vai. Mas faz isso de novo, não.
- Tudo bem. Veja, eu sei que fiz coisa errada com você. Mas tô arrependido por demais. Queria teu perdão, pequena.
- Já te perdoei, Fernando.
- E fingiu que não me viu por quê?
- E eu lá sou de fazer isso, garoto?
- Veja, eu fiz as pazes com as palavras pra conseguir te ligar e pedir perdão. Não queira usar a palavra "mentir" em tua defesa.
- Tá bom. Fingi que não vi. Vai ser melhor assim, Fernando.
- E posso saber o porquê?
- Eu tenho três meses de vida só.
- E você me contou só agora, é?
- E ia contar como? Se você nunca me ouve?
- Mas a gente não precisa se afastar. A gente pode viver esses três meses intensamente. Juntinhos. Sem nem pensar no que vai acontecer.
- Se as palavras estão do se lado, Fernando, você poderia não usar a palavra pena, por favor?
- Não é o substantivo pena. É o verbo amar. E verbos são os nomes das ações. E essa é a minha ação agora: Te amar.

Ele amou-a pelos três meses inteirinhos. Sem abandoná-la um que fosse. As palavras "eu", "te" e "amo" foram usadas a toda hora, em todos os dias. Até o dia em que a palavra morte chegou e levou-a consigo. Agora ele só tem as palavras como companhia.

Friday, January 11, 2008

Liberdade!

Há muito tempo sofro com as redações no colégio. Não que eu não goste de escrever, apenas me sinto limitado com os temas propostos. Por isso trago a vocês uma proposta a ser levada às suas instituições educacionais: Redação livre. Tá certo que o principal propósito da disciplina "Redação" nos colégios é preparar o aluno para fazer um bom trabalho no vestibular, mas nem que fosse um redação livre por trimestre, iria ajudar o vestibulando a ter suas ideias bem organizadas na cabeça, pois deixaria-o bem mais relaxado na hora da prova do vestibular.

Assim como os desenhos livres tinham como principal função exercitar a criatividade das crianças, as redações livres poderiam ter o mesmo efeito com os adolescentes prestes a enfrentar um vestibular, já que a originalidade é um dos pontos mais avaliados e também um dos mais raros de se encontrar no mesmo. Todos sabem que pelo menos 70% dos jovens não gostam de escrever. Acham chato, ou algo assim. Nunca pararam para perguntar o porquê disso? É claro que é o fato do tema ser proposto. Se o tema fosse livre, o jovem teria muito mais prazer em escrever.

Redação livre. Leve essa ideia adiante. Faça seus textos do jeito que quiser e não se importe se no seu colégio acharem eles ruins. Há quem goste! Mande para mim que vou adorar!

Tuesday, January 08, 2008

Sobre a falta de paciência repentina

Ando precisando de muitos conselhos. Ando mais bem acompanhado do que nunca fui e estou me sentindo bem assim. Só às vezes me sinto sem muita paciência para com os outros. Ultimamente, tenho tido muita vontade de ficar sozinho cinco minutos que sejam. E isso não é estranho, visto que estou mais bem acompanhado do que nunca? Caraca, tem vezes que nem eu me entendo. Deve ser porque eu sou um pé no saco mesmo.
Tenho descoberto muitas pessoas que não gostam de mim. E de novo me vem a pergunta: E isso não é estranho, visto que estou mais bem acompanhado do que nunca? Espero responder essa pergunta até o final desse texto. Até o final dessa fase. Até o final da minha vida. Como já comentado, eu sempre fui um cara sem inimigos. Nunca briguei com ninguém, nem muito menos alguém brigou comigo. Exceto minha irmã. Aí eu fico pensando: Será que então eu estou vivendo a fase mais chata da minha vida? Ou será que eu cheguei em alguma fase difícil de se passar sem nenhuma briga? Não, essa não vai ser mais uma pergunta sem resposta. Todos passaram, estão passando ou já passaram por essa fase e todos tiveram aquele certo alguém de quem não gostasse ou vice-versa. Todos. Sem exceção. De John Lennon à Marcelo Camelo, De Deus à Platão, De Antônio de Dona Nazaré à Paulo Autran.
Admito. Tenho andado muito chato com algumas pessoas ultimamente. Não vou citá-las todas aqui porque não só eu como esse texto se tornaria insuportável, mas peço-lhes desculpas. Alguns sabem de todos os meus problemas e procuram entender, outros não entendem nada. Mas nem a estes eu culpo. A responsabilidade é toda minha. Eu que não deveria ter deixado a minha chatice ultrapassar minha genteboasice, que sempre foi uma das minhas marcas registradas. Todos falavam pra mim “Leon, tu é tão legal”, hoje alguns dizem “Estás precisando de umas cosquinhas, estás muito chato hoje.” Estou, sim, precisando de umas cosquinhas. Mas das de certa pequena que não tem coragem nem de me abraçar com toda a sua pouca força. Tudo bem, os risos que tu me proporciona com a tua doçura e ingenuidade me servem como cosquinha. Mas a tua mão com a vontade única de tocar na minha ia ser de grande ajuda também.
Preciso de mais paciência, senão vou enlouquecer. Senão vou acabar sozinho. Preciso parar com essa grossura que me consumiu de uma hora para outra como um frio que chega sem nem pedir permissão. Mal educada, essa grossura. E eu não termino esse texto sem responder àquela pergunta. Não, não é de se impressionar. Quanto mais pessoas agradáveis entram no nosso círculo da amizade, mais olhar de onça vai olhar.
Desculpem, leitores e amigos.

Saturday, January 05, 2008

Conchinhas

Conchinhas que estão na minha frente agora, costumam te trazer à minha lembrança. São tão pequenas, tão carinhosas e tão doces. É tão difícil me ver sem ti. Vai, dribla os problemas, prncipalmente aquele maior. Por mim. Por nós.
Sempre fomos tão parecidos, não é mesmo? A nossa distância em quilômetros nunca significou nada perto das nossas conversas sempre muito produtivas, divertidas e intermináveis. Sempre soubemos o que dizer um pro outro, pequena. Eu me encontrava em ti, e sei que tu também te encontravas.
Teu cabelo sempre me pareceu lindo. O teu olhar cativante e tua companhia, a mais agradável. Tua mão delicada de bela moça. Ô, conchinha que está aqui na minha frente, quando? Quando ela vai notar que sempre simpatizei mais com ela?

Thursday, January 03, 2008

Leon no cassino

Atenção, trupe, postarei três textos que escrevi durante minha estadia no cassino. Meu computador não abre mais de três programas. Não consigo ficar sem ouvir música, estar no msn, com uma página da internet e no word ao mesmo tempo, então tô escrevendo direto aqui, por isso podem haver alguns erros de português e derivados. Peço desculpas antecipadas.


Parte 1 - A Viagem
Eu queria fazer uma crônica onde eu inventasse um navio. Daqueles bem grandes, pra colocar todas as pessoas que conheço. Todas elas: meus familiares(todos, os que gostam de mim e os que não gostam), meus amigos e até meus inimigos(alguém tem que morrer, afinal, esse é um texto meu, não é mesmo?). Nele, eu seria o grande capitão. Todos teriam que me respeitar e recorreriam a mim, se tivessem algum problema. Eu os levaria a todos os cantos do mundo, saberia tudo sobre todos os lugares e ensinaria aos passageiros todas as curiosidades sobre o país visitado. O navio teria uma jukebox com The Beatles, Teatro Mágico, Los Hermanos e The Strokes, para que todos se divertissem jogando sinuca e futebol. Eu seria o melhor em ambos e todos teriam medo de me enfrentar. Aquela garotinha dos olhos que brilham seria somente minha e diria que me ama de cinco em cinco minutos. Numa noite ocorreria uma grande tempestade e eu seria o herói do momento. Salvaria uma parte de meus parentes e meus amigos. Jogaria ao mar meus inimigos, para liberar peso do navio. Tubarões viriam e matariam todos. Depois eu voltaria pra casa, dormiria e sentiria que tudo não passou de um belo sonho.