Thursday, November 29, 2007

A Estrela

- É, enfim o fim? – disse-lhe quando estavam na beira daquele abismo.
- É, sim. Quer voltar? – respondeu ela, que sempre fora mais corajosa
- Nada, só me dá um daqueles teus abraços de urso que fica tudo bem.
- Logo agora?
- E agora tem hora pra abraço, é?
- Tem não, vem cá.
- Não quero sair daqui nunca mais.
- Não esperei esses 16 anos da minha vida por esse momento, pra passá-lo abraçada em alguém!
- Então segura minha mão. Vamos pular juntos.
- Por que tu gostas tanto de mim?
- Quer em ordem alfabética ou por preferência?

Algumas recordações:

- Jura que vai estar sempre comigo e vai segurar a minha mão no dia que eu morrer? – disse ela, aos seis anos de idade, deitada na grama mais do que verde do pátio de casa.
- Não precisava nem pedir, vamos viver juntos para sempre, grandes amigos! – respondeu ele com o coração.

- Tá vendo aquela estrela lá? – disse ele, apontando para o céu escuro e estrelado.
- To sim, por quê?
- Ela é a nossa estrela. Estrela da nossa amizade!

- Vamos trocar um pedaço de algodão doce? Tu me das um pouquinho do teu azul e eu te dou um pouco do meu rosa. – disse ela com os olhos e com a boca.
- Claro! Essa é mais uma tarde eternizada todinha nossa.


- Lembra que eu prometi segurar tua mão no dia da tua morte?
- A gente era criança, não se pode acreditar em promessa de criança...
- Pois eu levei fé. E não queria segurar a tua mão tão cedo.
- Que nada, eu cansei dessa minha vida que nada dá certo.
- E eu? Não dei certo na tua vida?
- A gente se encontra lá do outro lado daqui uns sessenta anos, tu ainda tens muito pra viver.
- E tu também! Sai desse lugar, vem comigo, te faço um suco e tudo vai se acalmar.
- Não quero suco! Deixe-me pelo menos morrer em paz, pelo amor de Deus!
- E eu, como fico se tu morreres?
- Tu vais ficar bem. És forte, irás superar, meu amigo.
- Nunca! Não saberei viver sem ti, não te lembras de quando éramos pequenos e prometemos proteger um ao outro? Pois então, cá estou eu!
- Já disse, esquece as nossas promessas de criança, tudo em vão, já esqueci tudo!
- Nunca vou esquecer, e sei que tu também não irás. Isso é só coisa de momento garota, vai passar, me abraça forte e todos teus problemas irão acabar.
- Só tu mesmo pra conseguir me fazer sair daqui. Eu te amo.
- Amigo é pra isso. Daqui a uns cinqüenta anos isso vai acontecer de novo, e eu vou fazer a mesma coisa. Tudo pra não te perder, minha grande amiga.
- O que ia ser de mim sem ti?
- No momento nada, pois irias morrer.
- Em qualquer ocasião, sem ti eu seria nada.
- Entende agora porquê te salvei?

1 comment:

  1. Bom, gostei. Se os outros são tão bons quanto este, então terás sucesso!
    Se tens custume de enviar os contos por e-mail pode add o meu a tua lista.
    Abraço.

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