Thursday, September 20, 2007

Máquina dos Sonhos - Parte V

A sigla significava “Mundo dos Sonhos”, deduzi isso quando cheguei a ele. Lá tudo era no estilo bala de goma: Bom, colorido e doce. As pessoas eram educadas e legais. De repente vi Rafael vindo em minha direção. Junto dele vinham outros garotos – todos amigos meus, no Mundo dos Sonhos. Andávamos pelas ruas quando vi Lívia olhando e sorrindo pra mim. Sorri também. Ela se aproximou cada vez mais e eu, sem entender nada, continuava apenas sorrindo. Lívia me abraçou e me beijou. Só aí pude perceber: Aquele era o meu Mundo dos Sonhos.
Eu era considerado muito especial naquele lugar e não queria sair de lá nunca mais, mas sabia que esse sonho não duraria muito tempo. Mal tive tempo de pensar em uma forma de ficar lá para sempre e vi meu pai vindo com uma mulher linda. Eu sabia que a conhecia de algum lugar, mas não sabia de onde.
– Pai! – chamei-o.
– Filho! – responderam os dois, para meu espanto.
– Quem és? – perguntei para a moça.
– Como que sou eu? Sou sua mãe! – respondeu ela, com um tom de reprovação.
Mais uma comprovação de que aquele era o mundo dos meus sonhos, pois meu maior desejo era rever minha mãe, que havia fugido há muitos anos com um homem e abandonando meu pai, que teve de ser um pai e uma mãe para mim ao mesmo tempo quando eu ainda era um bebê de colo. No Mundo dos Sonhos eles se amam, andam de mãos dadas e mandam beijos um para o outro o tempo todo. Gostei daquilo, também.
Passei a tarde toda abraçado em Lívia, que me retribuía com beijos bons e tudo que eu sempre sonhei. De repente, um grande vendaval invadiu a cidade e, quando dei por mim, tinha voltado para meu quarto, na vida real, com meu pai me chamando para o almoço.

– Dormiste a tarde toda, Vitor, estavas cansado?
– Não, eu estava tendo um sonho muito bom, seria uma pena acordar. Pai, tu nunca mais procuraste a minha mãe?
– Nos primeiros anos eu até fui atrás dela, mas depois acabei desistindo e me conformando que tua mãe não era mais minha.
Fiquei um tanto quanto triste com aquela resposta de meu pai.
No dia seguinte, no colégio, encontrei Lívia. Olhei-a com ternura, mas ela ainda nem me conhecia. Ah se eu pudesse me mudar para o Mundo dos Sonhos! Fui para a aula. Tive de formar um grupo para um trabalho com mais dois colegas – um deles Rafael e outro chamado Labarthe, que eu não tinha muita intimidade, mas entre os outros, era o “menos pior”. No final da aula, levei Rafael e Labarthe para a minha casa, para concluirmos o trabalho. Almoçamos e fomos para meu quarto. Falei para Rafael que precisava contar-lhe algumas coisas mais tarde. Para meu azar, a Máquina dos Sonhos estava piscando, por falta de bateria, afinal, minha viagem havia gastado muito dela. As luzes chamaram a atenção de Labarthe.
– O quê é aquela luz piscando ali no teu armário, Duarte? – chamou-me ele pelo meu sobrenome.
– Não vás aí, Abreu! – chamei-lhe também pelo sobrenome, assustado.
– Por que não?
– Porque estou te pedindo!
– Blá, blá, blá... Olha, “digite um nome”!
– Por favor, Abreu!
– Vou digitar meu nome... “Labarthe Fonseca Abreu”.
– Última chance!
– Pensar na pessoa? Vou pensar em mim.
– Cosme, tente impedi-lo! – implorei para Rafael, mas já era tarde.
– Como assim? O meu sonho aqui, direitinho como eu sonhei ontem? O que tu tens a dizer em tua defesa, Duarte?

1 comment:

  1. Don Leon abre os horizontes e a máquina acaba no conhecimento de pessoas não tão conhecidas... perigoso perigoso...
    O sonho do garoto é lindo...
    Esse conto ta mágico, sonhos são mágicos.
    Vou dormir e sonhar um pouco.
    Ótimo texto e boa noite!

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