Friday, April 08, 2011

Manifesto em prol dos docinhos

“És o momento amarelo em que o outono sobe pelas trepadeiras e és ainda o pão que a lua fragrante elabora passeando sua farinha pelo céu”. Foi o Neruda quem escreveu isto. Lindo, né? Pois bem, é por essa causa que eu estou aqui hoje. Talvez não tão recente quanto a palavra “ultimamente” se tornaria exata, escrever sobre amor tem se tornado sinônimo de uma escrita clichê ou até – vejam só, criaram até expressão para tanto – piegas.
Nego escreve uma poesia, uma crônica ou uma historinha expressando seus sentimentos e lá vêm os chatos tascarem um carimbo “texto de corno” ou “texto de quem não come ninguém”. Voltando ao Neruda, ele escreveu um livro chamado Cem Sonetos de Amor, no qual os versos citados acima – e mais uma centena de outras pérolas que devem ser lidas - estão presentes. Neruda pegava todo mundo. Talvez mais do que o Paulo Coelho. Com certeza bem mais do que o Augusto Cury.
Escrever sobre amor não quer dizer nem que alguém faça pouco sucesso com as mulheres, nem que faça mais, simplesmente quer dizer que o cara gosta de falar o que acha irresistível em uma mulher. Não há nenhum crime nisso, é bem aquele lance de “eu podia estar matando, roubando, mas to aqui escrevendo umas coisas pra ver se deixo alguém feliz”.
Não é meu objetivo nesse texto fazer com que todos comecem a escrever sobre amor e nem que aqueles porventura escritores de outros gêneros passem para o meu lado da força. Longe disso, cada macaco no seu galho, escrever tem que dar prazer e este só vem quando a gente escreve sobre algo que se sente em casa para falar. O fato é que eu me sinto em casa para falar de amor, fazer o quê? Eu gosto de escrever para alguém e ficar imaginando esse alguém sorrindo branco lendo alguma coisa que o meu coração sorriu pensando nela. É como se fosse uma transmissão de pensamentos, trocando os pensamentos pelos sorrisos.
Para vocês, que julgam aqueles que, como eu, gostam de falar dos seus sentimentos em forma de letras, meu conselho é que sejam mais leves. A leveza é uma forma raríssima e extremamente preciosa de inteligência, dêem uma chance para ela. Àqueles que se sentiram homenageados ou defendidos nesse texto, peço-lhes que continuem. O mundo é mais bonito conosco.
Escrever sobre amor é como entrar na mente da pessoa amada e colocar uma balinha de goma lá dentro. Todo mundo ama balinha de goma.

5 comments:

  1. Eu amo balinha de goma, mas gosto das mais azedinhas. :P

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  2. Amei a metáfora da balinha de goma!!!!!!
    Continuo amando tudo isso... beijão!

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  3. De fato, a metáfora da balinha de goma foi ótima e expressa quase perfeitamente o que eu ando pensando a respeito de "escrever sobre amor".
    Não que eu o faça freqüentemente, mas talvez eu não o faça justamente por nunca ter encontrado algo que me fizesse entender como é "escrever sobre amor".
    Gosto ainda mais dessas balinhas de goma.

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  4. "Eu gosto de escrever para alguém e ficar imaginando esse alguém sorrindo branco lendo alguma coisa que o meu coração sorriu pensando nela"

    Acaba que esse é o ponto em comum entre todos aqueles que não só sentem, como escrevem sobre o sentimento: ver o sorriso daqueles que nos fazem sorrir.
    Interessante, o texto. Já sofri com essa critica, tendo meus escritos categorizados como "literatura de mulher branca de classe média com amor de pica sofrida" (nessa precisa ordem). Acho que todo sentimental já recebeu um tapa da crítica (inconstrutiva/destrutiva).

    Enfim, achei teu blog enquanto capinava algo para ler. Gostei bastante, voltarei mais vezes.
    E a metáfora das balinhas de goma foi adorável. Todo mundo ama balinhas de goma.

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  5. @gaabss6:52 PM

    Escrever sobre amor não te torna "mole", te torna homem de uma forma que os outros não sabem ser. Falar sobre os sentimentos faz com que a gente se conheça melhor, e por conseguinte, veja o mundo de outra forma, mais pura, mais bela... Um mundo com arte, onde a poesia vive até na última folha de outono que cai.
    E de fato, balas de goma parecem ser feitas pra alegrar dias e bocas amargas.

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