Passou duas vezes pela mulher de cabelos negros e batom bem
vermelho. Fingiu que não viu, cara forte que tava tentando parecer. Percebeu,
ficando até que feliz, não sei, tava escuro, mas acho que sorriu, que ela
estava olhando. Meio sem entender muito bem, é verdade, mas ele não entendeu
muito bem se o que ela não tinha entendido muito bem era o que diabos essa
pessoa tá fazendo dando voltas na festa ou por que diabos ele não lhe deu oi.
Aí resolveu passar uma terceira vez. Só pra confirmar qual
do não-entendimento era o caso dela. Tentou só passar, fingir não ver que ela
estava ali do lado, não vou dar oi não vou dar oi não vou dar oi, mas quando
deu por si já tava cutucando. Cutucando.
- Bu.
- Oi?
- Passei duas vezes aqui, tu fingiu que não m...
- Eu vejo você meio que em todos os lugares que eu vou.
- A gente se viu umas quatro vezes, cinco contando a
primeira. Do jeito que tu falou ficou parecendo aquele episódio de Friends que
a Phoebe se apaixona por um cara que ia nos mesmos lugares que ela, mas no
final ela acaba descobrindo que ele escrevia pornografia pra crianças.
- Mas é meio isso mesmo.
- Tu tá apaixonada por mim?
- Não, mas acho você meio esquisito.
- Esquisito tipo Johnny Depp, tipo Woody Allen, tipo Faustão
ou tipo o meu colega, que embora tenha contado o final do Harry Potter pra
turma toda é um sujeito adorável?
- Tipo que escreve pornografia pra crianças.
- Que injustiça, tu nem me conhece. Eu escrevo pornografia
pra adolescentes, é um público muito mais legal pra isso. Criança que vê
pornografia não sabe o que tá fazendo, adolescente tem uma relação muito mais
visceral.
- ...
- !!!
- ???
- Tu já parou pra pensar que o fato de a gente se ver em
todos os lugares pode ser obra do destino?
- Destino?
- É. Acredita?
- Só quando é alguma coisa boa pra mim.
- Então, nesse caso?
- Não.
- Eu juro que sou legal. Pergunta pra qualquer um. Eu sou um
doce.
- Eu nunca disse que você não é legal.
- Mas qual o meu problema então?
- Eu nunca disse que você tinha algum problema.
- Mas então por que essa indiferença toda?
- Nunca ocorreu a você que talvez eu só não esteja
interessada? Que “não ter problema” não necessariamente significa uma pessoa
interessante?
- Mas eu sou interessante. Tu que não me deixa mostrar isso.
- Você repete isso “eu sou interessante” desde a primeira
vez que a gente conversou. Não acha meio pretensioso pra uma pessoa de um metro
e setenta, com no máximo cinquenta e cinco quilos e que não sabe nem dançar?
- Não. Se eu não me achar interessante, quem que vai achar?
Com toda a minha autoestima já tem mulher que me vê como um boneco Ken daqueles
que não têm pênis.
- Vai ver você dá atenção demais.
- Tá, essa conversa está virando um diálogo adolescente e eu
acho que o cara que tá escrevendo vai parar de escrever a nossa história se
continuar assim.
- Tem um cara escrevendo a “nossa história”? Depois você
ainda acha estranho eu te achar esquisito ao invés de estar apaixonada.
- Nunca ouviu falar em Deus? Brincadeira.
- ...
- !!!
-???
- Aquilo de um cara estar escrevendo esse diálogo foi
brincadeira também.
...
...
"Não acha meio pretensioso pra uma pessoa de um metro e setenta, com no máximo cinquenta e cinco quilos e que não sabe nem dançar?" leon leon, tá na hora de mudar a questão da dança, tô dizendo, me ouve!
ReplyDeletetô tentando, mas tá difícil
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