Roberto decidiu: Não viajaria nunca mais. Chega do estresse
de achar que o avião vai cair, que o ônibus vai tombar, que está muito estranho
o jeito com que esse motorista faz as curvas, ou de não saber se é mais seguro
botar o cinto ou não. Certa vez um amigo contara de um amigo que havia morrido
por estar usando o cinto. “O ônibus tombou e ele ficou preso”. Tudo bem que na
maioria das vezes Roberto não morria e voltava pra casa em segurança, mas toda
aquela apreensão, somada à dor no pescoço decorrente do trajeto Pelotas-Porto
Alegre não valiam a pena para desbravar novos horizontes e viver experiências magníficas.
Roberto não viajaria nunca mais e “não adianta insistir”.
Em sua última viagem, diga-se de passagem uma das em que se
encontrava mais animado, Roberto terminou com vômito de bebê no colo e um
ligamento de joelho rompido. Ao perceber que a criança estava prestes a fazer
aquilo que dali 20 anos fará em demasia por outros motivos, Roberto pulou de
seu acento, mas como são pequenos os espaços nos aviões, meu Deus do céu,
Roberto bateu com o joelho no acento da frente com força jamais vista. Após saberem do ocorrido, os amigos, já
acostumados com suas desistências de cinco minutos, tentaram argumentar,
dizendo-lhe que ele estava exagerando, que era coisa de momento, de calor da
hora. “Você está vendo a viagem apenas pelo lado negativo. Não está levando em
conta o fato de que viajando se descobre coisas novas, conhece pessoas novas,
descobre você mesmo, conhece você mesmo”. De nada adiantou. Não viajaria nunca
mais.
Tudo bem, Roberto, você tem todo o direito de não querer
mais viajar para evitar o estresse de correr pelo aeroporto inteiro para
descobrir que seu vôo mudou de portão, ou correr para comprar a última passagem
do ônibus da meia noite para pelotas porque o próximo só sai às sete da manhã.
Tudo bem querer evitar se perder em uma cidade desconhecida e andar de um lado
para o outro sem saber o que fazer. Tudo bem até não querer fazer uma parada no
Grill antes de seguir viagem porque é muito perigoso. Mas, Roberto, assim você
perde o prazer que é voltar pra casa.
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