Tuesday, April 08, 2014

O espaço construído pelo metal

Existe em Pelotas uma cena musical extremamente particular. Trabalhando essencialmente através da contracultura dounderground, o metal construiu um dos maiores e mais fiéis públicos da cidade. Sempre trabalhando por si, seja na produção das músicas ou dos festivais, sempre lotados. Um dos exemplos dessa luta que tem dado certo do estilo por aqui é a banda Postmortem, que lançou recentemente o EP/disco Within the carcass

O grupo surgiu em 2004, quando os irmãos Bruno e Daniel Añaña chegaram a Pelotas oriundos de Bagé. Loucos para tocar, saíram atrás de outros músicos a fim de formar uma banda de metal. Encontraram Douglas Veiga, baterista, e Willian Knuth, vocalista. Ali iniciaram os primeiros barulhos, denominados Wargot. Após o primeiro show e muitas mudanças, um guitarrista que já acompanhava os shows se juntou à banda: Mou Machado, até hoje no grupo.

Este acréscimo trouxe à Postmortem muito mais peso e em 2007 veio então o primeiro demo. Out of tomb foi gravado no finado estúdio pelotense Eletric, contou com quatro faixas, rendeu shows em várias cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina e teve distribuição da França à Malásia. Ao mesmo tempo, o baixista Matheus Heres dá lugar a Juliano Pacheco, formando enfim o quarteto que até hoje propaga o death metal pela cidade: Pacheco no baixo, Douglas Veiga na bateria, Bruno Añaña nos vocais e dividindo as guitarras com Mou Machado. 

Maturidade
Após o lançamento em 2013 de um já bem produzido Atra mors (Añanã acumulara a função de produtor da banda um ano antes), agora a Postmortem lança Within the carcass, de forma física. O EP/disco conta com canções inéditas como Chains of Hypocrisy e Deny The Cross, além de Decomposition on High Degree, também presente no primeiro demo. 

Sobre essa trajetória e as diferenças que Within the carcass pode ter em relação aos trabalhos anteriores, os músicos usam a palavra maturidade. “Dá bem pra notar que nesse ponto crescemos”, comenta Añaña. “A gente teve mais recursos, mais tempo para fazer ele. O Bruno teve mais tempo de produzir e a gente de gravar. O resultado ficou num nível muito alto, além do que a gente esperava”, completa Veiga. 

A banda se mostra madura também na hora de apontar as referências. Claro, primeiramente surge o suprassumo do death metal, o Cannibal Corpse, além dos estadunidenses do Nile - “e Nile de novo”, comenta Pacheco -, mas os músicos fazem questão de frisar que passam longe daquele estereótipo do metaleiro que só ouve metal. “É importante não ter a cabeça fechada”, comenta Añaña.

Uma cena sustentada pelos músicos
Veiga, inclusive, cita a música gauchesca como tendo muitas coisas boas, “parecidas com o metal”. O baterista cita o tradicionalismo, também, para tentar explicar o porquê de o metal não ter tanto espaço no mercado fonográfico brasileiro. “A música folclórica na Finlândia é o rock. Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, é como se fosse a música nativista.” 

Tendo em vista essa difícil recepção do mercado brasileiro ao metal, ele afirma que há espaço para o estilo por aqui. Mas ele é construído pelas próprias bandas. “A gente não depende de que outras pessoas abram espaço, porque a gente mesmo faz isso.” Segundo ele, a questão vai além da música propriamente dita. Na própria mídia tem se tornado necessário criar novas possibilidades de divulgação. “A cultura underground, da contracultura, se faz pelo faça você mesmo. As bandas usam a internet, usam a mídia impressa criando jornais e zines. O underground gera a si mesmo”, afirma. 

Em Pelotas
Quando o assunto é trazido até Pelotas, o espaço recebe um sentido mais físico. Os músicos lamentam a falta de uma casa com tradição na produção de eventos voltados ao rock e ao metal. Quando perguntados se algum local funciona desta forma, são categóricos: “Não tem. A gente tem que ir em alguma casa que abra algum espaço. E esse abrir espaço o que é: não é eles criarem um evento. É dizerem que tem uma data disponível e aí vem de nós”, afirma Veiga, que é seguido por Añaña: “Um aluga e começa a função. Fazer contato com as bandas daqui, batalhar pra trazer uma banda de Porto Alegre. E aí garimpa o equipamento, a gente mesmo faz o cartaz, bola tudo, faz divulgação. É fazer por ti mesmo”.

*Matéria escrita para o Diário Popular

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