Thursday, January 25, 2007

O menino e o escritor(parte 3)

Havana, 15 de agosto de 2001

Timótio estava tomando chá de maçã, coisa que fazia toda manhã antes de ir vender seu jornal. Agora Timótio já não escrevia sozinho, arranjou dois amigos, se não me engano se chamavam Jonas e Vinícius, ambos brasileiros e com 20 anos. Os três escreviam textos com a mesma ideologia, então resolveram se juntar e formar o jornal “Rosa lúcida”. Recebiam muitas críticas negativas, coisa que não os abalava, pois sabiam que nessas revistas em que recebiam essas críticas, tinham dedos tiranos e poderosos. Timótio acreditava que tinha dedos de Henríquez Gonzáles, nome do tal homem que queria comprar todos os jornais de Timótio no início de 2001, mas voltando ao chá de maçã, Timótio estava o tomando tão apreensivo que se podia ver as veias saltadas segurando a xícara. Vinícius, que estava aprendendo o espanhol, balbuciou algumas palavras, mas o cubano fez que não as ouviu. Vinícius insistiu nas tais palavras, falou-as tão rápido que ali se viu que não estavam lhe adiantando nada o curso de espanhol que estava fazendo. Timótio abaixou os olhos, suspirou e entregou uma carta ao brasileiro, era da mãe do jovem escritor cubano escrito em espanhol, o que dificultou a leitura de Vinícius:

“Timótio querido, seu pai não tem saído do quarto desde que você desapareceu. Não come, não fala e nem dorme, finge que dorme, mas você me conhece, sou muito preocupada com ele e notei que ele não prega os olhos nem um minuto. Essa semana, porém, as situações se agravaram, seu pai começou a sentir pontadas, e todos nós sabemos que ele não é nenhum jovem, eu o quis levar ao médico, mas ele não mudou nada desde sua partida, continua muito dono de si e disse que não era nada, ontem, porém, eu o vi tossir sangue e fiquei muito preocupada. Uma preocupação que logo passou. Passou mas logo voltou, seu pai desmaiou, mas mesmo assim não quis ir ao médico, portanto, a primeira coisa que pensei foi em lhe mandar uma carta, peço que não me pergunte como consegui seu endereço, apenas lhe peço que venha até Holguín para convencê-lo a ir consultar um especialista."

Um beijo

Sua querida mãe.”

Depois de muito tempo decifrando o tal texto, Vinícius devolve a Timótio a carta enquanto morde o lábio inferior, que era sua marca de preocupação.

- O que você vai fazer? – perguntou-lhe

- Sinceramente? Não sei, não posso largar o jornal. Não agora! – respondeu Timótio

- Mas é seu pai!

- Meu maldito pai, que me desprezou e tanto atrapalhou minha vida, eu já tinha o esquecido, mas, como de costume ele parece para destruí-la novamente.

- Pai é pai, camarada, não se tem dois e não se pode trocar de pai como se troca de calças a cada início de dia.

- Pai é pai, mas o meu não é pai.

- Se até Deus perdoa.

- Esse Deus que tanto falas, perdoa, mas também castiga, eu o perdoei quando ele e minha mãe me desprezaram em Holguín e agora posso muito bem castigá-lo por aparecer em uma maldita hora importuna na minha vida. Posso ser Deus por um dia, não é o que falam por aí?

Vinícius abriu a boca para falar algo, mas resolveu se calar, pelo menos naquele momento.

Passou-se uma semana sem que a mãe de Timótio viesse a mandar outra carta para o apartamento de dois quartos que Timótio havia comprado logo depois de conhecer os brasileiros. Nessa carta, o texto era curto, dizia apenas “Se pai morreu, está feliz agora?”.

Vinícius não escondeu sua raiva e até um pouco de desprezo por Timótio quando recebeu a carta.

- Eu não esperava isso, não de você, camarada Timótio. – falou ele, olhando para o amigo como quem olha para um tirano que acabava de pisar em uma criança do seu próprio povo.

Dia 24 de agosto, dois dias após a morte do pai de Timótio, os revolucionários tiveram sua maior venda de jornais, chegando a vender 1.500 exemplares apenas em Havana, Vinícius já estava falando bem espanhol e pôde participar mais diretamente da produção do jornaleco, Jonas conseguiu organizar uma manifestação anti-EUA nas principais ruas de Havana e Timótio, enquanto vendia os jornais na rua, conheceu Hugo Hernandes, coisa que fez seus olhos brilharem, alguns dizem que ele chegou a babar, mas isso eu não cheguei a perceber.

- Tenho lido seu jornal e de seus colegas, gostei bastante! – disse Hugo, fazendo Timótio ficar branco como leite, e olha que o guri era quase negro.

- Obrigado! – falar não é a palavra mais adequada para o que saiu da boca de Timótio, ele gaguejou sem tirar os olhos do ídolo.

- Um dia desses podemos escrever alguma coisa juntos, o que acha?

- Pode ser! – mais uma vez gaguejou o piá.

Alguns dizem que ele desmaiou por alguns segundos depois do acontecido. (Continua na parte 4)



Nota do autor para o texto de 0 a 10: 9

Sunday, January 21, 2007

O menino e o escritor(parte 2)

Partindo dessa teoria, do menino escrever textos escondido dos pais, não há como ser criativo e não dizer que os pais descobriram os textos escondidos embaixo da cama do menino e que não gostaram nem um pouco. Mas podemos mudar um pouco, dizer que os pais apenas descobriram quando o menino estava com 17 anos. Está certo? Tudo bem. Vamos ao texto então.

Timótio de vê encurralado naquela situação em que passam na sua cabeça idéias como: “o que vou dizer a eles?”, “não posso mais dizer que estava apenas desenhando!”. Cansados de esperar uma resposta do filho, o pai aponta o dedo pro menino, enruga as sobrancelhas e fala com uma voz de nojo: - Maldito comunista! Não foi isto que aprendeste em casa! O que pretendes ser ao momento que eu deixar de existir, Pois todo comunista é vagabundo!
Timótio, tocado com aquelas palavras coloca os olhos na direção de sua mãe, que por sua vez diz: - Guri retardado! Esses textos são ridículos! Pensas que vais viver deles?
Timótio volta a pensar em mil coisas diferentes, mas apenas uma imagem fica na sua cabeça: A de ser um jornalista alternativo e escrever o que quiser, sem se preocupar com emprego ou o que vai escrever. Então Timótio diz aos pais

- Deu?

- Deu o que?

- Desse discurso completamente equivocado e conservador, Deu?

- Ora, vá se danar, guri cagão.

- Apaguem a luz quando saírem.

Os pais nunca mais viram o filho.

Havana, 18 de fevereiro de 2001
Nos EUA, ninguém imaginava que aquela vista de um lago, mais ou menos sete meses depois não seria mais a mesma. Muito menos Timótio Corte Real, agora com 18 anos, cabelo pelos ombros, barba mal feita, camiseta vermelha, boina na cabeça e recebendo muitos elogios pelo seu jornal imprimido em seu computador em sua kitnet de fundos em Havana, “Opinião Alternada” era o nome do jornal de umas 6 páginas que falava muito bem sobre política com pimenta vermelha.

Estava tudo indo como sempre nas vendas do jornal, até que um homem bem vestido, com um terno grafite e gravata fina igualmente grafite se aproximou do garoto.

- Quanto custa?

- Pro senhor dois pesos cubanos

- Eu quero tudo

- Mas por qual motivo o senhor quer todos os jornais?

- Não discuta e me vê logo os jornais, eu vou lhe dar um bom dinheiro.

Timótio, então olha para todos os lados e vê outro homem vestido da mesma forma do homem que queria lhe comprar todos os jornais, o piá não era burro, logo percebeu que se tratava de membros do partido de direita contra Fidel Castro.

-Não, não venderei todos, mas faço questão de lhe dar um exemplar – disse-lhe o guri.

- Ora, guri, e eu não sei que vives na miséria naquele mísero apartamento de fundos, estou tentando te ajudar!

- E eu não sei que és do partido de direita que está tentando apagar minha opinião com dinheiro?

- Guri, última chance de tu me venderes essas merdas, daqui a pouco eu vou é pegá-los de graça e vou limpar minha bunda com eles. Vamos, me dê logo

- Não e não insista, senão eu chamarei a polícia!

- Garoto atrevido! Mexeu com quem não devia!

- Porco capitalista! Mexes comigo desde que eu era piá!

- Ora, seu vagabundo comunista, vais querer discutir isso comigo que tenho idade para ser seu avô?

- Por teres idade para ser meu avô viveste coisas que eu não vivi e deverias pensar nas conseqüências que isso trouxe para ti!

- Quem pensas que és para levantar a voz comigo assim, guri cagão!

- Sou um cidadão, em pleno gozo de meus direitos de distribuir minha opinião aos outros, ao contrario de ti, que está tentando me subornar e tirar meu direito!

- Você ainda vai ouvir falar de mim guri, ainda vai!

Aquela noite, Timótio não conseguiu dormir pensando naquilo que tinha ouvido do homem velho, depois Timótio descobriu que ele era amigo de um colunista político de uma revista de direita contra Hugo Hernandes, fazendo o guri perceber que certamente se tratava de uma pessoa mandada ali justamente para intimidá-lo. Timótio passou dois meses sem vender seu jornal novamente. (Continua na parte 3)



Nota do autor para o texto de o a 10: 7

Monday, January 08, 2007

O menino e o escritor(parte 1)

Estava eu, lendo um livro de meu pai chamado “Perguntar Ofende” que trata sobre as perguntas indiscretas que jornalistas fazem, mas não devem fazer a seus entrevistados, li o livro e cheguei a conclusão que, na verdade, as entrevistas que ficam para sempre, que todos lembram, geralmente são aquelas com humor, até mesmo com uma certa ironia e eu, se realmente decidir fazer uma faculdade de jornalismo, que é uma das várias opções que tenho na cabeça , com certeza iria colocar ironia em minhas perguntas aos meus entrevistados, pois para mim, textos irônicos são os melhores, os mais inteligentes, mas tudo isso foi apenas uma introdução para que entendas o texto sobre o menino que escrevia textos escondido dos pais.

Certa vez, Timótio Corte Real, menino novo, 12 anos de idade, estava lendo o Correio de Havana, jornal cubano. Timótio, então, se apaixona pelos textos do escritor Hugo Hernandes que escreve textos apoiando o governo de Fidel Castro e, de um modo bastante irônico, criticando o presidente dos EUA, George W. Bush e todo seu método de governo, chamado de bélico.

Cada vez mais encantado com os textos, o garoto resolve então começar a escrever seus próprios textos, assim como os de Hugo, ele começa escrevendo textos irônicos contra os EUA e apoiando Fidel, mas escondido de seus pais, que são de direita pró-Bush. Todo dia vendo no seu pequeno aparelho de televisão as atrocidades feitas pelo presidente americano. O menino Corte Real, então, pega seu caderninho secreto junto com seu lápis e começa a anotar suas críticas inteligentemente feitas ao presidente. Assim que seus pais(sim, eles não terão nome no texto, se é que você está se perguntando sobre isso) ele esconde o caderno e coloca no canal de desenhos animados, se sentido a pessoa de 12 anos mais alienada do mundo, coisa vista em seus olhos. Algo que seus pais não faziam há muito tempo.

Timótio esperava ansiosamente a saída de seus pais para o trabalho para, então, ter a tarde livre para ver o noticiário, ler a crônica de Hugo Hernandes do dia, se basear nele e fazer a sua. Essa era a sua rotina até a hora de seus pais voltarem, e, ele incrivelmente conseguia disfarçar muito bem que estava apenas assistindo desenhos e, se deixasse o lápis a mostra, dizia que tinha pego para desenhar alguma coisa. O garoto era realmente bom em fazer a cabeça das pessoas.(Continua na parte 2)


Nota do autor para o texto de 0 a 10: 6,5