Tuesday, April 15, 2008

Prosopopéia

Era uma vez, uma mão. Andava pra lá e pra cá sempre presa a um braço muitas vezes maior. Não gostava daquilo, queria mesmo a tal liberdade, mas por pura preguiça decidiu que junto dele estava confortável, então ficaria ali mesmo. Assim não iria se cansar. Nem arriscar. Ficou, pois, colada com o braço. Perambulando pelo mundo afora sem direção alguma ela ia. E pensando em algum lugar melhor. Pensando se esse lugar existia.
Foi, então, num dia de frio e sol de outono. A mão passeava pelas ruas – grudada no braço – quando de repente (explosão) o braço se descuida e ela bate em uma mão feminina. Bem cuidada. Parecia uma daquelas balas que se vende junto com marshmallow, dava vontade de morder, aquela danada! Deu uma vontade de trombar de novo com ela. Mas como? No meio de tantas mãozinhas pequeninas, como ia achar aquela? Não precisou nem estalar os dedos. No outro dia estava lá ela. E no outro também. Só então resolveu tocá-la. Deixar uma colada na outra, como se tivesse medindo qual a maior. E não é que combinava?

Tuesday, April 08, 2008

Tinta branca colorida

E não ia ser assim mesmo? Caindo pelos cantos, caindo em prantos. Catando cantos. É cansativo, eu sei. Mas não estaria tudo fora do seu tempo? Tudo rápido. Tudo ríspido. E mais uma vez tu te recusas a me salvar. E mais uma vez eu fico esperando. Caindo pelos cantos. Só a prosa poética me faz companhia e faz tempo que não me responde. Onde? Para onde fugir? Têm vezes que as conseqüências sucumbem os frutos. É chato ser sarcástico com quem não se gosta. Bom mesmo é ser o que quiser. Bom mesmo é ser vivo. As cores foram junto com as balas de goma e nem avisaram quando voltariam. Riam, senhores, riam. Rima é para poucos. Poucos riem, muitos vêem e mais uma vez tu te recusas a me salvar. Mas e teus olhos? Por que continuam meus? Eu. Alguém pediria para ser eu? Eu padeço. Eu pareço. Eu mereço. Às vezes nem me conheço, mas sempre me reconheço. Tenho memória forte. Sei do abandono. Sei do sono e do consolo, mesmo que do último saiba pouco. Mas teus olhos ainda olham tímidos para mim. Tímidos maquiados. Mas não ficam melhores limpos? Ficam mais puros, o olhar fica ainda mais bonito e mais sincero. Mortal mero que sou, tenho opinião fraca. Tenho em mãos a faca e o medo de ferir. Medo de fazer rir. Medo de rir. Medo de ir.