Faltou luz aqui no trabalho. Oh, olha só, uma caneta, vamos
tentar escrever alguma coisa.
Essa falta de luz veio em um bom momento, como quando no
Orkut por uma bela surpresa o amor da sua vida visualizava o seu perfil e
aquilo dava uma alegria inesperada capaz de durar umas duas semanas. Como na
única vez em que aquela menina bonita, dona de uma cor de pele que autoriza o
bom uso do batom, me respondeu no Facebook,
uma pena agora ela apenas visualizar minhas mensagens e nem me chamar de
chato indiretamente dizendo que ela também
é chata.
Por favor, moça bonita, me dê uma luz, ilumina minha vida,
já que meu trabalho está numa escuridão só. Ser de luz própria que és, venha
nos iluminar, ou melhor, não venha, que é para eu poder continuar a escrever
minhas bobagens sobre ti só pelo prazer de ver a caneta deslizando, poucas
esperanças que tenho de te convencer a sorrir pra mim como sorriu no dia em que
nos conhecemos, de pegar tua mão macia e fingir dançar, como no dia em que nos
conhecemos.
Ah, mocinha, me ensina das coisas de Goiás, me explica a
diferença entre o sotaque de lá e o de Minas, me explica o porquê de JK não
ter transformado Goiânia em capital do país ao invés de gastar aquela nota toda
construindo uma cidade do nada ali do lado e colocando o breguíssimo nome de “Brasília”,
me explica o porquê de os goianos formarem tantas duplas sertanejas se em
Goiás nem ao menos tem sertão. Me explica como o Atlético Goianiense conseguiu subir meteoricamente para a primeira
divisão, me explica o caso Carlinhos Cachoeira na visão dos goianos, que
elegem a direita há tanto tempo e, finalmente, me explica o porquê de não
gostar de mim, se temos tanto em comum de acordo com as coisas que curtimos no
Facebook.
Acabaram de ligar para o chefe, que no
momento está em Porto Alegre. Ele disse que não, não podemos ir para casa, que
temos que continuar “trabalhando” coisa e tal. Acho que os outros funcionários
irão organizar uma espécie de motim, algo como dormir durante toda a tarde.
Acho que vou convencê-los a fazerem o mesmo para acabar com essa tua
indiferença em relação a mim. Com a falta de luz que assola minha manhã e
minhas pretensões de passar uma tarde inteirinha te fazendo cafuné, as pessoas
aqui do lugar onde eu trabalho começaram a fofocar loucamente. Em questão de
meia hora eu já sei desde as incompetências de uma tal de Marli até o nome do
próximo Secretário de Educação da cidade. Parece um pouco piada, mas agora eles
começaram a falar sobre Sessão da Tarde.
Não que seja ruim, eu adoro Sessão da Tarde. Passar aquela uma hora e meia
vendo filme ruim e comendo besteira está entre as minhas 15 melhores coisas do
mundo, logo atrás de usar pela primeira vez uma meia que acabei de comprar.
Vamos um dia, moreninha, passar a tarde
toda vendo filme ruim e comendo besteira? “O Amor é Cego” e bolacha Maria com
margarina. “Lagoa Azul” e marshmallows. Qualquer filme com o Eddie Murphy e Doritos.
“Esqueceram de mim” e dois potes de pipoca com manteiga. Vamos fazer um filme
ruim nós mesmos e não mostrar a ninguém . Um filme sobre uma mulher iluminada
que aparece de repente e ilumina uma cidade inteira, sem luz há muito tempo. “A
Moreninha Iluminada”, e aí assim, não mais que de repente, surja “A Moreninha
Iluminada – O Retorno”.
Estão me avisando aqui que, finalmente,
chegou a minha hora de ir embora. Ainda bem, pois estou louco de fome. Mas
mesmo assim uma pena, logo agora que eu forçaria uma poesia fazendo uma
metáfora entre a luz do sol que me aquece e me ilumina nessa manhã escura e o
momento em que aceitaste minha tentativa e me deste a mão, blablablá, nada que
eu já não tenha dito umas cem vezes durante esse texto construído durante uma
manhã inteira. Vou me embora, prenda minha. Vou para a casa.
Espero que lá tenha luz.
Espero um dia “dançar” contigo novamente.
E a luz se fará assim.
Ponto Final.