Você chega em casa cansado do trabalho. O mundo inteiro caiu
em suas costas no dia de hoje e só o que você quer é atirar a chave em qualquer
canto, se atirar no sofá e ver TV. E quando eu digo “ver TV” é ver TV. Ver
novela, ver alguma série qualquer. Você enfim deita no sofá. Decide não comer
nada, está cansado demais para sentir fome. É só ver TV e ir deitar.
Aí vem o gato.
O gato vem, pisa em cima de você, procura um lugar fofo em
seu peito magro e, quando finalmente acha, deita.
E você fica naquela posição por horas.
Está cansado, não quer mais ver TV, mas como que vai tirar o
gato dali? Além de atrapalhar o conforto do bichano, ele está lhe dando calor,
querendo ele ou não fazer isso. “Ele vai me odiar se eu sair daqui agora”.
Humanos pensam isso de gatos. Acham que vão perdê-los para sempre se decidirem
mover-se para maior conforto. Aí ficam
ali engessados. Tentam se mover bruscamente numa tentativa de passar para o
gato a responsabilidade do desconforto, mas a verdade é que o gato não está se
importando muito. O gato dorme em cima do seu nariz, se for necessário. Ele
quer é dormir. “Ele quer dormir junto de mim”, pensa você, ingênuo ser humano
lendo essa frase. Pode até ser. Mas também se não fosse essa coisa de o gato
querer ficar encostado na gente, a gente nem ia dar bola pro gato. Porque o
gato gosta do ser humano. Quer ele ali, paradinho, só com o corpo encostado no
seu. Mas aí, se o ser humano, num ato de pura brutalidade resolver trazer o
gato mais pra perto de si, aí ferrou. “Aí babaus”, como diria um amigo meu.
O bicho vai embora, você está o sufocando.
Mas isso tudo é só você pensando, enquanto permanece imóvel
no sofá para não atrapalhar a equação perfeita do conforto do gato. Você pensa pensa pensa pensa pensa e, quando
volta a si, já está passando o Corujão e a fome venceu o cansaço. Você resolve
ir na cozinha fazer um sanduíche, mas, na hora em que iria se levantar, lembra
que o gato está ali. E você não consegue tirar o gato dali. O gato é mais forte
que a fome, que o cansaço, que você, e que tudo isso junto. E aí já passou
Corujão, tá começando Telecurso 2000, você está podre de sono, mas não pode se
mover até a cama porque o gato segue lá, torturando você com todo aquele tonemaíismo.
E isso piora quando o gato é daqueles mais ariscos. Daqueles
que não costumam aceitar um colo com facilidade. Uma oportunidade de fazer
carinho num desses é como pasta de dente: Você aproveita até o final, vai
enrolando, enrolando e, se precisar, ainda corta a ponta no final para durar
mais.
É claro que, de repente, depois de cinco horas de sono no
seu peito, o gato resolve acordar e sai de cima.
Aí cabe a você ficar chorando pela ausência do gato ou correr pra cama antes que ele volte.
Aí cabe a você ficar chorando pela ausência do gato ou correr pra cama antes que ele volte.
Belas palavras, Leon. Mais difícil quando se trata de uma mulher que dorme em seu peito. E, no meio da noite, você acorda sem sentir seu braço esquerdo.
ReplyDeletede acordo!
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