acho que funciona mais ou menos como bala. não, não bala de
revólver, talvez mais próximo da droga, mas também não. é a bala tipo o doce. mas
aí também pode ser confundida com a droga. acho que a essa altura todo mundo já
entendeu. enfim, também acho que é importante deixar claro que não é a bala
chiclete, aquela que não pode nunca engolir porque senão mata de uma forma
muitíssimo horrível, que é trancar tudo dentro do corpo. é a bala tipo halls mesmo. tic tac. freegells
de cereja, aquela que há muito tempo era vendida com uma charada do show do
milhão dentro. uma das minhas principais lembranças da infância. o que eu quero
dizer, e digo agora antes que esqueça, coisa muito provável de acontecer, é que
a vida funciona mais ou menos como bala. não, o tamanho da bala não importa. você
por favor me deixe falar caso contrário eu vou esquecer e já comi quase o
pacote inteiro e tenho medo de perder a inspiração assim que o pacote terminar
de vez. a vida funciona mais ou menos como bala porque a gente pode até tentar
economizar pra durar mais tempo, a bala ir diminuindo, diminuindo, até não
sobrar mais nada, mas é muito difícil fazer isso. muito difícil. o mais comum é
você não resistir e morder a bala no meio do caminho. e aí a bala perde
totalmente a graça. é engolir e comer outra. mas o pacote vai terminando, daqui
a pouco se foi todo e você desperdiçou tudo sem a menor graça. pelo simples
prazer de menos de um segundo que é morder a bala. não tô dizendo que todo
mundo é impulsivo e morde a bala por ser fraco e não conseguir se segurar e ter
que morder a bala caso contrário sabe-se-lá o que pode acontecer, que tipo de
monstro pode vir cobrar a mordida. não é isso, embora comigo seja e tenho quase
certeza de que com quase todo mundo também, uns tendo mais força de vontade que
os outros e mordam depois. não, eu já disse que o tamanho da bala não importa.
tudo bem que o tic tac dura menos então a tentação é teoricamente menor que a
de um halls, mas você já mordeu os dois, não é? sabe que o gosto maior do tic
tac tá dentro dele, coisa que a pessoa só tem acesso caso morda, quer dizer, eu
acho, nunca consegui chegar até o final do tic tac, quando vê lá no final tem
um gosto esplendido de redenção, não sei. não tô dizendo que todo mundo é
impulsivo e morde a bala por ser fraco e não conseguir se segurar e ter que
morder a bala caso contrário sabe-se-lá o que pode acontecer. mas, vamos ser
honestos, às vezes a gente nem repara, tá lá tranquilo, tá tudo bem, a bala tá
sob controle , mas quando vê ela tá lá,
partida ao meio, com a vida dividida em dois. e esse é o maior problema em a
vida funcionar mais ou menos como bala. quando algo incomoda, como é o caso do
que acontece comigo, que não consigo ficar sem morder a bala, há toda a dor da
agonia que é morder ou não. e aí quando você morde a bala vem toda aquela
sensação de prazer oriunda do alívio que é se livrar da agonia. mas quando não
há dor é tudo muito triste em a vida funcionar como bala. pois a pessoa não
percebe a mordida e não aproveita o gosto do tic tac mordido. e aí a pessoa
fica tentando voltar o filme, desde o momento em que colocou a bala na boca,
procurando em vão o momento em que a coisa foi pro espaço. pode vasculhar o
cérebro à vontade que não vai achar. também pode acontecer de você estar indo
bem, mantém a bala sob controle, tá concentrado em manter a bala inteira, já
está chegando no final, vai conseguir, vai conseguir e de repente a bala se
quebra, pois já está muito frágil, não foi culpa sua, nem mesmo da bala, não há
um culpado, simplesmente aconteceu, parte pra outra e... ah, não! a minha gata
empurrou o pacote de bala no chão e esparramou tudo!
Tuesday, October 29, 2013
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