Friday, March 07, 2014

Dia para lembrar as lutas

O dia 8 de março é marcado por ser o Dia Internacional da Mulher. Ao contrário daquilo que determina o senso comum graças a décadas de distorção em torno do assunto, a data representa algo muito maior do que o cafuné, a flor, o perfume ou o estojo de maquiagem recebidos por elas com o objetivo de mantê-las no lugar designado pelos homens. Também não é exatamente um momento de celebração. É uma data marcada pela lembrança. A lembrança da luta das mulheres por um status de pesadíssima leveza e simplicidade: o de igualdade. Essa inferiorização também é notada no que tange o espaço para o sexo feminino na produção cultural brasileira.
Coadjuvantes
Há cerca de 70 anos a escritora britânica Virginia Woolf publicou dois artigos, A nota feminina na literatura e Mulheres romancistas. Neles, a autora buscou debater e criticar as dificuldades que as mulheres encontravam para alcançar o sucesso com seus escritos, além de rebater afirmações à época de que a literatura feita por elas era inferior. Recente estudo da professora da Universidade de Brasília (UnB), Regina Dalcastagnè, aponta que pouca coisa mudou em nossa sociedade neste aspecto. Segundo a pesquisa, 72,7% dos romances lançados entre 1990 e 2004 no Brasil foram escritos por homens.
Outro dado da pesquisa: 62,1% das personagens consideradas importantes nas produções são do sexo masculino, contra 37,8% de personagens femininas. Através destes dados, Regina conclui que, ao contrário da forma como fomos condicionados a pensar com o passar dos séculos, a voz masculina tem, sim, um gênero, o que acabou por criar duas categorias: literatura e literatura feminina. Esse ponto de vista é acompanhado pela escritora Luisa Geisler, natural de Canoas. “A recepção ainda é um problema: existe um preconceito de que uma mulher escreve pra mulheres, de que uma mulher escreve de uma maneira específica, de que mulheres ‘falam muito de sentimentos’, enquanto homens atingem os dois gêneros.” Para a escritora pelotense Angélica Freitas a mudança tem de partir por quem lê. “Acho que no Brasil as editoras, os prêmios literários, os leitores estão apaixonados por senhores. A situação não vai mudar enquanto não decidirmos comprar mais livros de autoras brasileiras.”
Cinema feminista
O cinema é responsável pela formação da opinião pública acerca de questões sociais até então pouco debatidas. Caso do mais recente vencedor do Oscar de Melhor Filme, 12 anos de escravidão. O longa de Steve McQueen, além de importante relato da era escrava nos Estados Unidos, reacende a discussão sobre o quão extinta a escravidão realmente está.
Sendo assim, o cinema também se transforma em importante ferramenta para a propagação dos ideais de luta pelos direitos das mulheres. E são muitos os exemplos de filmes que abordam a temática feminista de forma responsável, enfática e até mesmo didática (pois tudo tem de começar cedo). Mas este espaço que teoricamente as mulheres teriam para propagação de seus ideais parece esbarrar, mais uma vez, na inferiorização. “No cinema, os lugares que as mulheres ocupam, na maioria das vezes, são os que são ‘destinados’ pra elas em outros âmbitos: ou elas trabalham com os figurinos ou são as atrizes. Papéis de direção são raramente tomados pelas mulheres”, afirma a professora do Centro de Artes da UFPel Ana Paula Penkala, que critica os papéis exercidos. “Ou elas exercem os papéis tipicamente femininos ou estão servindo, como no caso das atrizes, muitas vezes como um espelho de como a mulher é vista ainda na cultura.”
Frente feminista
A importância do cinema para propagação do debate acerca da opressão a que são submetidas as mulheres também é ressaltada por Daniele Rehling, membro da Frente Feminista Giamarê, em Pelotas. “É mais didático e facilita na luta”, afirma, lembrando de cine-debates promovidos pelo grupo para passar adiante a ideia.
A Frente Feminista Giamarê nasceu durante a articulação da Marcha das Vadias, em novembro de 2013, da necessidade de se fazer eventos como este durante o ano inteiro. Daniele conta que, para este 8 de março, serão realizadas diversas oficinas em escolas sobre a data e as mais variadas violências contra a mulher. No sábado, às 10h, haverá panfletagem convidando para uma exposição de vídeos feministas mais tarde, às 20h, na frente do Mercado Central.

*Matéria escrita para o Diário Popular

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