Thursday, August 14, 2014

Em Las Vegas, grupo de dança Trem do Sul descobriu sua apoteose

Após pequena temporada nos Estados Unidos, mais precisamente em Las Vegas e com rápida passagem por Miami, o grupo de dança hip hop Trem do Sul está de volta a Pelotas. O principal foi a participação no Campeonato Mundial de Hip Hop e a classificação até as quartas de final de um dos participantes na categoria de batalhas de locking, mas a experiência se expandiu para muito além.
“Ficamos muito emocionados porque era tudo muito diferente. Acima de tudo, participar do evento foi a coisa mais emocionante da minha vida”, começa Paulo Monteiro, coreógrafo. O grupo foi eliminado na etapa preliminar - muito pela falta de treinos, abdicados para que conseguissem o dinheiro para a viagem. Mas os comentários do júri, que considerou o Trem do Sul um dos melhores grupos de locking do Brasil, parecem ter recompensado. “Isso pra nós foi muito satisfatório. Além do primeiro lugar. Só estarmos lá já era ser campeões, porque a luta era essa. Tivemos de abdicar de várias coisas da nossa vida para correr atrás do dinheiro e representar o país e a cidade”, comenta Monteiro. Ele destaca que os apoios que receberam foram de suma importância. “A prefeitura de Pelotas, com as secretarias de Justiça Social e de Cultura, foi crucial. Entenderam que já estávamos há quase oito anos batalhando pra isso. Lojas Martins e Dana, Marcos Amir que fez a parte da papelada, o Antônio Rodrigues que cortou o cabelo do pessoal, o pedágio onde as pessoas nos ajudavam todos os dias. São varias coisas que nos deixaram emocionados”, cita.
Estrondando e bem recebidos nos EUA
O apoio e o respeito ao grupo continuou quando o Trem do Sul chegou aos Estados Unidos. Partindo da própria população. Monteiro lembra de um grande parceiro que surgiu de repente na viagem. Uma rapaz, que trabalhava com aluguel de carros particulares, passou por eles na rua. “Com um carro que eu pensei que só ia andar em outra vida”, comenta Monteiro. “Nos olhou uniformizados e perguntou o que estávamos fazendo lá. Falamos que estávamos participando do campeonato e ele nos deu uma carona de boa vontade até o hotel.” A partir daí, transporte não foi mais problema. O novo amigo se ofereceu para transportá-los para a competição e para outros lugares por um preço muito menor do que esperavam pagar de táxi.
No hotel onde se hospedaram, só alegria. Maiander Prestes, ainda com cara de guri, destaca, além da participação no campeonato, a estadia em Las Vegas. “Gostei muito principalmente por causa do calor. A gente tomava banho de piscina quase todos os dias, treinava no sol. Muito bom.”
No campeonato nada mudou. Nunca foram tratados de forma tão profissional, comenta Monteiro. “Nos valorizaram muito. Era uma organização, um luxo. Tudo o que a gente nunca teria se não tivesse batalhado para isso.” Preconceito? Nunca. “Independentemente da classe social todo mundo era tratado como um profissional da dança que estava lá competindo. Tinha todo um respeito.”
Elogios de quem sabe
Otávio Xavier, além de dançarino, desempenhou outra importante função na viagem: fluente em inglês, foi o responsável pela tradução daquilo que era falado aos demais e daquilo que os demais queriam dizer.
Foi ele quem contou a Tagner Mattos que o criador do locking o havia considerado muito bom. “Disse que ele nasceu pra isso”, conta. “Ele disse que éramos um dos grupos de locking preferidos dele. Pra nós, ter tirado primeiro ou segundo lugar não teria sido tão importante. Lutamos pra isso mesmo”, conta Xavier.
Mattos tem muito do que se orgulhar, além, claro, da participação e dos elogios: foi o primeiro brasileiro a avançar para as quartas de final do torneio na categoria batalha de locking, onde um dançarino disputa com outro. Da preliminar, com 28 participantes, apenas 16 passavam. “Só de ter entrado nesses já foi demais. Os melhores para que a competição ficasse em alto nível. Pra mim já foi uma coisa forte. Quando eles falaram aquelas coisas foi emocionante.” Ele ressalta também que nos Estados Unidos há uma valorização maior do hip hop. “Lá a dança de rua já tem seu espaço. É considerada arte.”
Representando os bairros
Nas camisetas vermelhas que os membros vestiram na apresentação estavam estampados os nomes de alguns dos bairros da periferia de Pelotas - além do Movimento Sem Terra. “Navega”, Getúlio Vargas, Pestano, entre outros além de uma dezena que eles também gostariam de ter homenageado. “Eu moro no Navegantes. Eu frequento o Dunas. Tem pessoas que trabalham no dia a dia e fazem com que a nossa cidade cresça, fique limpa. Os nomes dos bairros eram para essas pessoas”, explica Monteiro.

*Matéria escrita para o Diário Popular

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